Energia

Como tornar os projetos de energia da China no exterior mais verdes

Novo banco de dados da Universidade de Boston mostra que a maior fatia do investimento mundial chinês está em projetos de carvão, mas energias renováveis estão em ascensão
<p>Um engenheiro chinês e outro equatoriano inspecionam obras na usina hidrelétrica Minas-San Francisco, em Sarayunga na província de Azuay, no Equador, financiada pela China (image: Alamy)</p>

Um engenheiro chinês e outro equatoriano inspecionam obras na usina hidrelétrica Minas-San Francisco, em Sarayunga na província de Azuay, no Equador, financiada pela China (image: Alamy)

O anúncio da China de que buscará atingir a neutralidade de carbono até 2060 fez barulho na Assembleia Geral da ONU em setembro. O Japão e a Coréia do Sul assumiram compromissos semelhantes nas semanas seguintes. Mas ainda há dúvidas sobre o que esta mudança de política interna significará para os investimentos em energia da China no exterior.

Um novo banco de dados que compilamos no Centro de Política de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston destaca quantos desses investimentos são em usinas de energia de combustíveis fósseis, além de detalhar os planos da China de construir mais outras.

777


usinas de energia elétrica no mundo receberam investimentos chineses

Quando coletamos dados sobre usinas elétricas fora da China que receberam financiamento de bancos de desenvolvimento chineses ou investimento direto de empresas chinesas, contamos 777 usinas elétricas em 83 países diferentes. Este total inclui usinas que estão operacionais, em construção e em planejamento, e que juntas representam 186,5 gigawatts (GW) de capacidade de geração.

As usinas a carvão constituem a maior parcela destes investimentos quando levamos em conta a capacidade de geração, com mais de 74 GW, ou cerca de 40% da capacidade rastreada em nosso conjunto de dados. Estimamos que as plantas de combustíveis fósseis em nosso conjunto de dados estão atualmente gerando cerca de 314 milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono por ano. As usinas em construção ou em planejamento representam outros 80,3 GW de capacidade. Se todas elas entrarem em operação até 2030, acrescentarão mais 211 milhões de toneladas de CO2 anualmente.

Se presumirmos que as usinas de combustíveis fósseis atualmente em operação representadas nos nossos dados não se aposentarão até 2030, suas emissões acumuladas de CO2 nos próximos 10 anos atingiriam quase seis bilhões de toneladas de CO2. Esse volume consumiria até 1,3% do orçamento global de carbono – as emissões de CO2 que podem entrar na atmosfera para que tenhamos 66% de chance de limitar o aquecimento global a 1,5C. Uma vez que muitas usinas elétricas a carvão têm vida útil de 30 a 40 anos, isto é provavelmente uma estimativa conservadora dos seus efeitos em um orçamento de carbono a longo prazo.

Entretanto, os tipos de projetos de energia financiados pela China podem estar mudando. Durante a última década, a instalação anual de energia limpa com investimentos e financiamentos chineses tem aumentado. Olhando para projetos em nosso banco de dados que estão em construção ou planejados de hoje até 2033, a energia eólica e solar representam cerca de 12% dessa capacidade, e a participação da energia hidrelétrica é maior na capacidade futura (33%) do que para as usinas atualmente em operação (27%). Mas a distribuição desses projetos futuros ainda está muito concentrada na geração dependente de combustíveis fósseis para ser compatível com o Acordo de Paris.

As empresas de energia renovável da China muitas vezes enfrentam barreiras para ir para o exterior. Elas tendem a ser menores e privadas, em comparação com as grandes empresas estatais que têm décadas de experiência no desenvolvimento de usinas elétricas tradicionais em países estrangeiros.

Embora as energias eólica e solar representem uma pequena parcela da capacidade total de geração de investimentos chineses no exterior, elas formam uma parcela maior dos projetos individuais. Os projetos renováveis são tipicamente muito menores em capacidade do que as usinas de carvão, gás e hidrelétricas.

Na verdade, os projetos de energia eólica representam 29% de todos os projetos rastreados em nosso banco de dados, e os projetos de energia solar representam 17%. É possível que, apesar de seu tamanho menor, o número relativamente maior de projetos de energia renovável represente uma oportunidade de aprendizado e expansão por parte dos bancos de desenvolvimento chineses e de investidores.

Além disso, a maioria dos investimentos chineses em projetos de energia renovável vem de investidores privados, em vez dos bancos de desenvolvimento chineses. Um ponto de destaque é a empresa privada chinesa Canadian Solar, que é o décimo maior investidor chinês em termos de investimento estrangeiro direto (IED) em capacidade. As outras empresas entre as dez maiores são empresas estatais e incluem as maiores empresas de energia elétrica da China.

A análise desses padrões de investimento pode nos ajudar a entender mais sobre futuros mecanismos políticos para incentivar os investimentos chineses em energia renovável no exterior. Por exemplo, por que a Canadian Solar tem sido tão bem-sucedida? E o que possibilitou a relativa proliferação dos investimentos chineses em energia renovável na América Latina, em comparação com regiões com maior volume de carvão como as regiões Sul e Sudeste da Ásia?


A fim de alinhar as metas climáticas nacionais e a pegada climática global da China, os líderes chineses também devem se concentrar na elaboração de políticas públicas que incentivem o investimento estrangeiro em energia renovável. Nossa análise e nosso trabalho de mapeamento dos projetos energéticos chineses no exterior podem ajudar as autoridades que formulam essas políticas, juntamente com pesquisadores e defensores da energia limpa em todo o mundo, a identificar as principais tendências na geração global de energia apoiada pela China e a orientar a tomada de decisões para um futuro energético mais limpo.