Durante as próximas décadas, centenas de comunidades terão de enfrentar possíveis deslocamentos em massa, forçados ou voluntários, simplesmente porque não há água suficiente para abastecer as atividades normais da agricultura e da indústria.
A história da região de Xihaigu (publicada recentemente no chinadialogue), na província chinesa de Ningxia, é apenas mais um exemplo em meio a um número crescente deles que nos servem de alerta.
Nos locais onde os assentamentos são “grandes demais para falhar” – como Pequim e São Paulo –, não haverá outra opção senão trazer mais água de fora, como acontece no Projeto de Transferência de Água Sul-Norte da China e mudar de forma substancial a maneira como são utilizados os recursos hídricos existentes. Então, quais são as mudanças que podemos implementar e quanto elas custam?
Já são recorrentes os episódios de escassez de água em mais de 50% das cidades do mundo e em 75% de todas as fazendas irrigadas. Onde existe escassez, a agricultura irrigada é responsável por 90% do consumo da água, em média. O setor agrícola é um alvo estratégico para melhorar as práticas de alocação e de utilização da água e já existem formas comprovadas de promover sua maior eficiência.
De maneira geral, podemos afirmar que as ferramentas para gerir a escassez de água já existem e podem ser adotadas ou implementadas. O custo para os orçamentos federais ou estaduais é significativamente menor do que o valor gerado pelos benefícios para a população, a economia e o meio-ambiente.
A China adotou, em graus variados, medidas técnicas (como a cobertura do solo com filmes de polietileno, revestimento de canais, plantio de variedades resistentes à seca), incentivos econômicos (expansão da forma como o consumo de água é apurado para apoiar um método volumétrico de cobrança), e incentivos regulatórios (formalização do direito ao uso das águas da natureza e permissão da comercialização desses direitos). Muitas dessas medidas podem oferecer benefícios que no fim são maiores do que os seus custos de implementação.
Em muitos casos, a ineficiência na alocação e na utilização da água é tão profunda que a implementação de mudanças graduais e relativamente pequenas resultaria em uma economia enorme de dinheiro e de água.
Há quase uma década, o Grupo de Recursos Hídricos 2030 (“Water Resources Group 2030”) mostrou que quase todas as opções de baixo custo, que poderiam fechar a lacuna entre a oferta e a demanda de água na Índia, até 2030, tinham como alvo a eficiência e a produtividade agrícola, incluindo: plantio direto; redução do uso da água na irrigação; intensificação do arroz; otimização dos processos de aplicação de fertilizantes; e melhor drenagem.
Embora estes meios de conduzir a agricultura irrigada sejam tecnologicamente mais avançados do que a maioria dos meios existentes na Índia, eles não são, de forma alguma, considerados avanços inovadores na gestão da água.
Os órgãos federais e locais de gestão hídrica, bem como as autoridades que enfrentam os desafios da escassez de água, devem desenvolver planos para financiar e implementar intervenções que tenham como foco a demanda se quiserem evitar a relocação em massa, dispendiosa e muitas vezes traumática, das suas comunidades. Se as pessoas ficam e as condições pioram, a desigualdade econômica e a degradação ambiental são quase inevitáveis. É parte fundamental da solução entender melhor e comunicar o valor da água e o verdadeiro custo da falta de ação.
Os tomadores de decisão devem agir agora: o caminho é longo e os desafios políticos e de implementação que inevitavelmente surgirão no caminho podem parecer insuperáveis. Mas não há futuro algum – seja ele econômico, social ou ambiental – na drenagem dos rios e na exploração dos aquíferos até que estes sequem.
Esta matéria foi publicada primeiramente pelo c