No dia 12 de dezembro, chefes de estado, prefeitos e empresários do mundo todo se reuniram na capital francesa para celebrar o segundo aniversário do Acordo Climático de Paris. A cúpula, batizada de “Um Planeta”, foi palco de vários anúncios importantes sobre financiamento climático, divulgados por governos, bancos, empresas e investidores.
Os Estados Unidos são o único país a não aceitar o Acordo de Paris e, por isso, Donald Trump alegadamente não foi convidado. No entanto, a reunião mostrou que o posicionamento do presidente norte-americano não enfraqueceu a ação climática no mundo. Com os riscos das mudanças climáticas ganhando cada vez mais destaque na pauta global, as iniciativas dos setores financeiros, empresariais e também governamentais continuam a ganhar impulso.
Trocando o carvão pela energia limpa
Um dos principais comunicados veio do Grupo Banco Mundial, que irá parar de investir nas atividades “upstream” (exploração e produção) do setor de petróleo e gás a partir de 2019. Isso é significativo porque, de acordo com dados recentes, o grupo continuou a liberar financiamentos para petróleo e gás após o pacto de Paris, investindo cerca de US$ 1 bilhão na exploração de combustíveis fósseis em 2016.
As iniciativas para eliminação gradual do uso de carvão mineral também saíram fortalecidas do encontro. A aliança “Powering Past Coal”, liderada pelo Reino Unido e pelo Canadá, ganhou como membros a Suécia e a Califórnia, bem como 24 novas empresas. No entanto, ela será colocada à prova quando tentar recrutar uma economia emergente na Ásia, onde está localizada uma boa parte dos novos investimentos em carvão.
Outro anúncio importante foi o compromisso dos 23 maiores bancos de desenvolvimento nacionais e regionais em alinhar suas linhas de financiamento com o Acordo de Paris. O Clube Internacional de Financiamento ao Desenvolvimento (IDFC) representa mais de 69 países e administra ativos totalizando mais de US$ 4 trilhões (26,5 trilhões de yuan). Seu maior participante é o Banco de Desenvolvimento da China, que tinha US$ 130 bilhões (860 bilhões de yuan) em compromissos em 2015.
Garantir que os financiamentos de grandes bancos públicos estejam alinhados com Paris é essencial porque as instituições públicas podem ajudar a fortalecer os investimentos privados em projetos sustentáveis, reduzindo os riscos dessas iniciativas. Por exemplo, o Banco Estatal da Índia destacou sua nova parceria com o Banco Mundial visando à concessão de novas linhas de crédito para geração de energia solar nos telhados das construções, o que deverá incentivar um aumento de investimentos no setor.
O Banco Mundial também anunciou que irá aplicar um preço virtual do carbono a todos os projetos de setores com altas emissões, como forma de computar os custos da poluição. De acordo com o ex-secretário de estado norte-americano John Kerry, colocar um preço no carbono é a “maior medida individual que podemos tomar” contra as mudanças climáticas.
A China também teve um papel de destaque na reunião. O oficial chefe de financiamentos verdes do país, Ma Jun, disse que “todas as empresas de capital aberto da China precisarão divulgar informações sobre impactos ambientais” até 2020. A China tem um terço da capacidade instalada de energia limpa do mundo, mas, mesmo assim, os impactos climáticos de seus investimentos internacionais por meio da iniciativa Um Cinturão, Uma Estrada estão levantando preocupações. Ma Jun reconheceu que as emissões do Um Cinturão, Uma Estrada “podem chegar ao triplo das emissões da China”, se nada for feito.
Ações da iniciativa privada
A iniciativa privada também anunciou diversas promessas de retirada de financiamentos para combustíveis fósseis. A seguradora francesa AXA, uma das maiores do mundo, eliminará gradualmente a oferta de seguros para novos projetos de obras no setor de carvão, e a Dutch Bank ING cessará os financiamentos para carvão até 2025.
Investidores globais também lançaram a iniciativa Climate Action 100+, com escopo de cinco anos, visando a redução de emissões em seus países. Em um movimento impressionante, investidores com ativos totalizando mais de US$ 26,3 trilhões (174 trilhões de yuan) aderiram à iniciativa.
2017 tem sido um ano de oportunidades para o financiamento verde, com as emissões globais de “títulos verdes” chegando a US$ 100 bilhões (662 bilhões de yuan), além do lançamento recente pelo banco HSBC do primeiro título de desenvolvimento sustentável, com valor de US$ 1 bilhão (6,62 bilhões de yuan).
O presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, revelou que mais de 230 empresas se comprometeram com a Força-Tarefa para Transparência Financeira Climática, representando uma capitalização de mercado de mais de US$ 6,3 trilhões (41,7 bilhões de yuan). A Força-Tarefa recomenda que as empresas revelem informações sobre investimentos danosos, uma prática que está “se tornando comum”, de acordo com Carney.
O fundo de pensão japonês GPIF, o maior do mundo, anunciou uma “meta baseada em ciência” para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O Japão quer que 100 empresas adotem esse tipo de meta até 2020, garantindo uma redução de investimentos em energias fósseis.
Oportunidades para cidades
As novas iniciativas geram oportunidades para as cidades asiáticas em rápida expansão. Os signatários do Pacto Global de Prefeitos, que inclui 34 cidades do leste e sul asiáticos, representam mais de 10% da população mundial. Esse grupo anunciou uma nova parceria climática com o Banco Mundial para investir US$ 4,5 bilhões (30 bilhões de yuan) em 150 cidades ao redor do mundo. O Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento também investirá fortemente em cidades após o lançamento de seu Acelerador de Financiamento Climático para Cidades Verdes.
Com a devastação sem precedentes de várias ilhas do Caribe esse ano por conta de furacões, os líderes caribenhos irão criar a primeira “zona climática inteligente” do mundo para implantar um ambicioso plano de US$ 8 bilhões (53 bilhões de yuan), com 100% de energia renovável. Além disso, pensando no longo prazo, Costa Rica, Etiópia, Alemanha e Suécia estavam entre os 14 países que prometeram desenvolver planos para se tornarem “neutros em carvão” até 2050.
Finalmente, a China deve lançar em breve o seu sistema de comércio de emissões. Como principal financiadora de energia do mundo, a China tem um papel fundamental na aplicação bem-sucedida do Acordo de Paris. Após todos esses anúncios de grande visibilidade, por bancos de desenvolvimento, investidores e seguradoras, as atenções agora se voltarão para a China e seus esforços para esverdear seu sistema financeiro e seus investimentos i
nternacionais.Esta matéria foi originalmente publicada pelo chinadialogue.net