Clima

Economias precisam se descarbonizar para manter competitividade: Figueres

Ao decidir retirar EUA do Acordo de Paris, Trump abriu caminho para China assumir liderança

Um ano depois do presidente americano Donald Trump anunciar a retirada dos Estados Unidos (EUA) do Acordo Climático de Paris, a mobilização global para combater as mudanças climáticas continua forte, de acordo com Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima ( UNFCCC), em entrevista ao chinadialogue.

“Francamente, do ponto de vista econômico, eu não acho que isso terá um grande efeito, pois a descarbonização já está estabelecida, tanto pelo lado técnico quanto pelo financeiro. Ela pode não estar avançando com a velocidade necessária, mas, mesmo assim, está estabelecida. Agora, estamos em um caminho que é irreversível e inexorável”, diz Figueres.

Nos últimos anos, cada vez mais, a China tem reconhecido as vantagens de uma atuação forte na área climática, o que fica evidente em suas políticas domésticas e internacionais, por meio de parcerias com outros países.

“A parceria EUA-China foi muito importante antes de Paris, mas, agora que o acordo existe, eu não acho que isso continue essencial para a China. A China continuará por conta própria, para seu próprio benefício doméstico”, ela acrescenta.

De acordo com Figueres, o país asiático vê vantagens particularmente nas áreas de saúde pública e de competitividade da economia nacional.

“A poluição atmosférica chinesa – não no país inteiro, mas em suas cidades – é conhecida no mundo todo.  Já existe uma insatisfação da sociedade civil e mobilizações pela limpeza do ar, o que é muito importante. Ainda mais importante é o fato do governo estar prestando atenção e desativando as termelétricas a carvão nas cidades.”

As necessidades de ação contra as mudanças climáticas em âmbito global e nacional já foram, substancialmente, atendidas pelo Acordo de Paris

“Os líderes da China têm expressado claramente seu desejo de liderar o mundo em direção à ‘civilização ecológica’.” Isso deve ser feito por meio de um “esverdeamento” da economia e da estrutura financeira.”

“A China quer ser a líder mundial em tecnologia solar, não apenas para instalação no país, mas também para exportação de produtos e tecnologias. O mesmo se aplica às baterias. A China já investiu em cinco a sete megafábricas de baterias, pois entende que haverá um mercado imenso para isso”, diz Figueres.

No entanto, estabelecer um limite para as emissões da China e, logo depois, reduzi-las ao longo das próximas décadas é um desafio sem precedentes, conforme revelado por pesquisas que demonstram que as emissões do país devem aumentar em 2018, por conta do forte crescimento econômico.

Dada a falta de expectativa de atuação do governo Trump na área climática, Figueres coloca suas esperanças nos agentes subnacionais, como empresas, cidades e estados.

“Uma boa parte da atenção está se deslocando para as cidades, províncias e estados, por diversos motivos. O primeiro é que as necessidades de ação contra as mudanças climáticas em âmbito global e nacional já foram, substancialmente, atendidas pelo Acordo de Paris.”

“Foi um arcabouço jurídico que permitiu negociações apenas entre os governos nacionais, sem incluir as administrações subnacionais. Agora, o objetivo é executar aquele plano e mergulhar nos detalhes do Acordo, o que realmente envolve outras esferas de governo e as empresas públicas e privadas.”

“Então, o trabalho desce naturalmente para essa esfera, onde as decisões do dia-a-dia estão sendo tomadas. É esse o enfoque das conversas agora, o que não é nenhuma surpresa e, por isso, estamos apoiando a  Cúpula Global de Ação Climática que será realizada em setembro.”

“Para que os governos nacionais cheguem ao nível de confiança necessário para retornar à mesa das Nações Unidas em 2019, para que eles ampliem seus compromissos (conforme determinado no Acordo); eles precisam voltar para a mesa a cada cinco anos, e isso acontecerá em 2020. Eles precisam finalizar o processo das suas ambições pretendidas, antes que comece a avaliação das ações de cada país no âmbito do Acordo, no ano que vem”, diz Figueres.

Em 31 de maio, foram lançados os “Perfis de Paris”, uma coletânea de perspectivas de líderes internacionais e pessoas inovadoras sobre a concretização do Acordo de Paris e as lições oferecidas pelo processo.

este artigo foi publicado primeiro em chindialogue