A redução do desmatamento na Amazônia puxou as emissões de carbono brasileiras de 2017 para baixo em 2,3% comparado ao ano anterior, segundo dados divulgados pelo Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
A diminuição em 12% de perdas na floresta amazônica foi atribuída à recomposição do orçamento do Ibama, maior agência brasileira de proteção ambiental. Mas os resultados poderiam ter sido melhores, não fosse o crescimento da destruição do Cerrado em 11%.
A pequena queda nas emissões em 2017 surpreende por vir mesmo enquanto a economia brasileira começava uma lenta recuperação após três anos de recessão intensa, que comeram quase um décimo do PIB. O crescimento econômico está normalmente associado a um crescimento em emissões.
“Isso mostra que, quando há vontade política de combate ao desmatamento, a gente tem como enfrentar o desafio”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, um dos 44 membros da plataforma SEEG.
A emissões do Brasil são hoje mais ou menos as mesmas do ano de 1990. Mas a redução de 5,5% das emissões por desmatamento este ano mascaram a contínua alta nas emissões por outras fontes, como transporte e indústria.
Mas, se você olhar, as emissões tirando a mudança de uso da terra [ou desmatamento], elas são emissões crescentes, e não decrescentes
“Comparando com outros países em desenvolvimento é um sucesso”, disse Tasso Azevedo, o coordenador técnico do SEEG, em uma entrevista coletiva à imprensa. “Mas, se você olhar, as emissões tirando a mudança de uso da terra [ou desmatamento], elas são emissões crescentes, e não decrescentes”.
Mesmo com a melhora dos resultados quando comparado a 2016, o Brasil ainda não conseguiu voltar à tendência de redução das emissões estabelecida no início dos anos 2000. O ano de 2014 ainda é quando as taxas estiveram mais baixas desde a virada do século. Enquanto isso, o país segue longe de sua meta de reduzir o desmatamento na Amazônia em 80%, e no Cerrado em 40%.
“A gente está patinando, não consegue sair do lugar”, disse Azevedo.
Efeito Bolsonaro
A divulgação dos novos dadas foi marcada por perguntas sobre o futuro do meio ambiente brasileiro, enquanto o presidente-eleito Jair Bolsonaro, da extrema direita, se prepara para tomar posse. Bolsonaro assustou ambientalistas pelo mundo ao ameaçar sair do Acordo de Paris e acabar com o Ministério do Meio Ambiente. Ele prometeu ainda limitar os poderes das agências de proteção ao meio ambiente que lutam contra o desmatamento ilegal.
Mesmo durante a campanha eleitoral, alguns números de 2018 já sugerem que o desmatamento explodiu, segundo Rittl.
“A pergunta que fica é que Brasil vais e apresentar a partir de primeiro de janeiro”, disse Rittl. “É a pergunta que nós fazemos e que o mundo também faz”.
O agronegócio será o principal setor a ser observado, enquanto o Brasil adenta um novo ciclo politico. Atualmente, o setor é responsável por 71% das emissões, direta ou indiretamente. Os números costumavam ser maiores, chegando a quase 90% nos anos 1990.
“O Brasil tem melhorado, ainda que de forma tímida, como maneja os solos agropecuários”, disse Cirino Costa, do Imaflora, outra membro do SEEG.
O crescimento do comércio entre China e Brasil, para exportação de soja, mas principalmente pecuária, contribui com o aumento das emissões.
Por mais que compradores possam pressionar fornecedores a adotaram práticas mais verdes, no final das contas a responsabilidade por produzir de forma sustentável é do Brasil, disse Costa.
“Nós temos uma demanda, e cabe a nós decidir como responder a ela. Existem opções para respondermos com taxas de emissão mais baixas”.