Clima

Valorizem serviços ecológicos, afirma economistas chinês

Liu Shijin foi um dos primeiros a notar que o crescimento mais lento era o “novo normal” da economia chinesa

“Se expandirmos o nosso entendimento sobre o ‘desenvolvimento verde’ e enxergarmos que ele pode ser uma abordagem superior, capaz de competir com o modelo tradicional de industrialização, então a relevância dele para o crescimento econômico torna-se mais visível”. Essa é a visão do economista chinês Liu Shijin, que conversou com a China Dialogue durante um seminário recente sobre o 14o Plano Quinquenal da China – o principal planejamento estratégico de políticas para o desenvolvimento do país.

Liu trabalha há muito tempo no Centro de Desenvolvimento de Pesquisa do Conselho de Estado, um organismo de pesquisa política. Como vice-presidente e economista líder, Liu ajudou a elaborar documentos de revisão para a Terceira Sessão Plenária do 18o Comitê Central, que planeja o desenvolvimento chinês de mais longo prazo. Ele também foi um dos primeiros a sugerir que a economia da China tinha alcançado um “novo normal” – um ritmo mais lento de crescimento, depois de mais de 20 anos registrando um crescimento de duplo dígito.

Mais recentemente, Liu argumentou que a demanda chinesa por terras, infraestrutura, aço e carvão já tinha atingido o pico. Ele também afirmou que as políticas macroeconômicas encontrarão dificuldades para mudar os fatores que afetam o crescimento, além de correrem o risco de provocar um declínio econômico. Atualmente, Liu está trabalhando na economia verde do 14o Plano Quinquenal.

China Dialogue [CD]: Quais mecanismos são necessários para viabilizar o “desenvolvimento verde”?

Liu Shijin [LS]: Além de manter um crescimento relativamente forte, a China precisa pensar em como dar mais ênfase à sustentabilidade e ao fator de inclusão na próxima etapa da sua transição socioeconômica.

Como equilibrar esses fatores? Para descobrir, não podemos ignorar um elemento-chave: a contabilidade. O desenvolvimento verde só vai se concretizar se fizermos as contas direitinho. Senão, o equilíbrio existirá apenas em teoria.

Sabemos contabilizar o capital material e o social, mas ainda faltam boas soluções para calcular o valor dos serviços ecológicos.

A China é líder mundial em internet, big data e tecnologias de inteligência artificial, e a nossa metodologia coleta dados ambientais de forma automática a cada hora diretamente dos sistemas de monitoramento ambiental

Eu lidero uma equipe de pesquisa que está tentando avançar nesse sentido e nós elaboramos um método de contabilidade que usa uma unidade ecológica como medida padrão, conhecido como “ecological unit accounting” em inglês. A ideia básica é tomar emprestado unidades de energia solar – algo que vem sendo desenvolvido internacionalmente nos últimos anos – para fazer uma avaliação inicial que nos permitirá determinar o valor dos serviços ecológicos. Assim, transformamos questões ecológicas em questões econômicas.

Se analisarmos as externalidades negativas [os custos para outras partes] da poluição e as externalidades positivas da proteção ambiental, veremos que, em muitos cenários, o desenvolvimento verde faz sentido: ele é um modelo de desenvolvimento mais barato, mais lucrativo e mais competitivo. Uma contabilidade bem-feita torna os benefícios do desenvolvimento verde mais claros.

CD: Há muita pesquisa sendo conduzida sobre o produto interno bruto (PIB) verde no mundo, bem como sobre os indicadores-chave do desempenho verde. Quais são os pontos fortes da pesquisa chinesa?

LS: No âmbito internacional, há muito trabalho sendo feito para desenvolver a contabilidade do PIB verde, mas ainda existem questões importantes que precisam ser resolvidas. A mais importante é o alinhamento das unidades de medida.

Nós escolhemos a unidade de energia solar como medida padrão. O sol é o principal fornecedor de energia para os serviços ecológicos, que são mediados por uma grande variedade de sistemas complexos, como a fotossíntese vegetal.

Além disso, as pesquisas anteriores não conseguiram avançar além dos próprios artigos científicos. Os dados foram trabalhados manualmente, não houve desenvolvimento de ferramentas de uso prático. A nossa pesquisa busca desenvolver ferramentas práticas para calcular os custos e os benefícios do desenvolvimento verde.

340


cidades na China tem calculado o custo total dos serviços ecológicos

Em uma recente avaliação que publicamos usando o nosso método de contabilidade, calculamos o custo total dos serviços ecológicos, o seu valor por área e as mudanças que ocorreram em 31 províncias e 340 cidades na China entre 2000 e 2015. Os dados foram úteis para, entre outras coisas, avaliar o desempenho dos agentes e do trabalho deles.

Também inovamos na forma de apresentar os dados. A China é líder mundial em internet, big data e tecnologias de inteligência artificial, e a nossa metodologia coleta dados ambientais de forma automática a cada hora – como os níveis de poluição atmosférica – diretamente dos sistemas de monitoramento ambiental. Depois, são calculadas as “unidades ecológicas” que representam o valor dos serviços ecossistêmicos. Esses cálculos atualizados são apresentados visualmente através de um software que desenvolvemos.

CD: No passado, você observou que o crescimento econômico da China seria limitado pelas restrições ambientais e de recursos, referindo-se especificamente à necessidade de observar os limites das emissões de carbono. Você acha que as metas de carbono vão ficar mais rígidas durante o 14o Plano Quinquenal?

LS: Responder às mudanças climáticas faz parte da nossa estratégia nacional. Foram firmados compromissos, principalmente sobre o pico das emissões de carbono, e estabelecidas metas de longo prazo para as emissões. De acordo com a situação atual, tudo indica que a China vai conseguir cumprir os seus acordos e atingir o pico das emissões de carbono antes de 2030.

Ainda assim, a China precisa promover o crescimento econômico. Comparar os custos e os benefícios é um elemento-chave desse processo de equilíbrio e tudo depende da contabilidade.

Para as empresas de energia, as metas de intensidade de carbono são muito importantes e exigem uma maior eficiência de carbono.

Além disso, os fornecedores de energia vão se ajustar aos desenvolvimentos econômicos e sociais, às metas de políticas e às exigências dos desenvolvimentos no setor de energia, que estão em constante mudança. Não parece ser o caso de que sairão perdendo. Se mudarem a composição do mix energético, é possível que consigam lucrar com o desenvolvimento de novas energias.

CD: Como você enxerga o relacionamento entre a transição energética e a segurança energética?

LS: Atualmente, ninguém mais fala sobre aumentar o uso do carvão ou em reduzir a dependência das importações de petróleo e gás para garantir a segurança energética. Mesmo que o 14o Plano Quinquenal promova mudanças no ambiente internacional e apareçam obstáculos à globalização – o que aumentaria as nossas preocupações com a segurança energética –, vamos continuar buscando fontes domésticas e internacionais de energia. A nossa estratégia não vai mudar.

Além disso, a transição energética não entrará em atrito com a segurança energética. Ela pode, inclusive, ajudar nesse sentido. Uma das atuais preocupações sobre a segurança energética, por exemplo, tem a ver com a escala das nossas importações de petróleo. Muito desse petróleo é usado pelo setor de transportes. Se mais veículos usarem como combustível a eletricidade ou o hidrogênio, os quais podem ser fornecidos por fontes renováveis como a energia solar ou eólica, poderíamos reduzir a nossa dependência no petróleo importado. Então, em muitos casos, a transição energética e a segurança energética se reforçam mutuamente, em vez de se oporem uma à outra.

Este artigo foi originalmente publicado por China Dialogue

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