Clima

As principais reportagens do Diálogo Chino em 2022

De soluções e desafios climáticos à história de uma Amazônia em transformação, a equipe do Diálogo Chino reúne os destaques de um ano desafiador para a América Latina e o mundo
<p>Faixa de apoio à nova Constituição do Chile é queimada em protesto da campanha do &#8220;rechazo&#8221; em Valparaíso, em agosto de 2022. Os chilenos votaram pela rejeição da reforma constitucional em um referendo em setembro (Imagem: Cristobal Basaure Araya / SIPA / Alamy)</p>

Faixa de apoio à nova Constituição do Chile é queimada em protesto da campanha do “rechazo” em Valparaíso, em agosto de 2022. Os chilenos votaram pela rejeição da reforma constitucional em um referendo em setembro (Imagem: Cristobal Basaure Araya / SIPA / Alamy)

Após a agitação de 2020 e a recuperação cambaleante de 2021, a América Latina e o mundo esperavam um ano mais tranquilo e estável em 2022. Mas tem sido tudo menos isso.

Os efeitos prolongados da pandemia de Covid-19 impactaram as economias da região, com implicações na política e no meio ambiente — transtornos que foram exacerbados pela guerra da Rússia na Ucrânia. Enquanto isso, eventos climáticos extremos, cada vez mais intensos, mostram a vulnerabilidade da América Latina aos impactos das mudanças climáticas.

Mas houve passos importantes em temas ambientais. Foram retomadas as discussões em conferências internacionais como a cúpula climática da COP27 e as negociações sobre biodiversidade na COP15, ambas com avanços e frustrações. Eleições-chave levaram candidatos com agendas ambientalistas ao poder, como no Brasil, na Colômbia e no Chile, com a expectativa de que a “onda rosa” também seja mais verde.

Além dos eventos que marcaram o ano, o Diálogo Chino contou histórias ambientais pouco exploradas na América Latina, trazendo perspectivas únicas da região. Aqui estão as principais reportagens dos últimos 12 meses escolhidas por nossos editores e editoras.

Flávia Milhorance, editora de Brasil

Amazônia Ocupada

gráfico mostrando um indígena em trajes tradicionais com a legenda "Amazonía ocupada" (Amazônia ocupada)
Ouça: Amazônia Ocupada, um podcast do Diálogo Chino

Este ano, eu e outros dois repórteres pegamos a estrada para explorar a história da colonização da Amazônia desde os anos 1970, quando o governo militar promoveu a migração para a floresta tropical, incentivando a ocupação e o desmatamento para a agricultura. Junto de uma equipe diversa, produzimos a primeira série de podcast em português do Diálogo Chino: Amazônia Ocupada. Como jornalista brasileira que cobre o meio ambiente há alguns anos, tenho visto o interesse global pela floresta aumentar no mesmo ritmo das taxas de desmatamento, mas a maioria das reportagens se concentrava no número de incêndios e de hectares de floresta desmatados. Este projeto nasceu em meados de 2021 de um desejo de ir além das estatísticas, para explicar como a situação chegou a este ponto crítico, que está levando a floresta tropical a um ponto de virada.

Durante nossa viagem ao longo da BR-163 – um dos eixos do desenvolvimento da Amazônia nas últimas décadas – falamos com garimpeiros, indígenas, madeireiros e pecuaristas, entre as dezenas de vozes ouvidas. Buscamos visões diversas, até mesmo opostas, sobre a floresta tropical e seu futuro.

Jack Lo, editor da região andina

Rodovia controversa atravessará floresta preservada da Bolívia

Vista aérea de uma estrada no meio de uma floresta.
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Para mim, a história sobre a expansão de uma rodovia na região de Chiquitania, na Bolívia, é um grande exemplo do esforço do Diálogo Chino para promover o diálogo e o respeito por todas as pessoas. No início do ano, em parceria com os sites de notícias bolivianos La Región e Red Ambiental de Información (RAI), visitamos as florestas secas de Chiquitano, um dos cantos mais biodiversos do planeta, e conversamos com quem vive neste frágil ecossistema. Escutamos as queixas e demandas em torno de uma estrada de 200 quilômetros, com apoio do Banco Mundial e construída pela China, que atravessa as florestas. Buscamos entender os impactos ambientais que ela causaria.

Também ouvimos vários especialistas do governo e de organizações locais a respeito das políticas públicas que impactam o projeto. Acompanhada de depoimentos em vídeo e imagens aéreas impressionantes, a investigação reforça a necessidade de incluir todas as partes interessadas em iniciativas como essa, principalmente por meio de consultas com as comunidades afetadas. Isso também nos deu a oportunidade de explicar a importância de projetos de infraestrutura que melhorem a qualidade de vida das pessoas sem prejudicar o mundo em que vivemos.

Alejandra Cuéllar, editora do México e da América Central

Seca no norte do México provoca falta d’água para consumo – e protestos

Uma mulher compra água em uma barraca com uma placa dizendo "água 24 horas".
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O texto de Chantal Flores e as impressionantes fotos de Antonio Ojeda se unem em um poderoso relato sobre a escassez de água no norte do México. É mais uma evidência do impacto desproporcional das mudanças climáticas nas comunidades de baixa renda e das novas disputas que surgem devido à crise hídrica. O problemático rio Ramos desempenha um papel importante nessa história: enquanto já quase não fornece água à população, ele é simbólico da situação daquele ambiente. Contar esse tipo de história do ponto de vista humano nos permite entender a crise climática com mais empatia, e esperamos que isso encoraje mudanças.

Conheça Zacua, a primeira marca de carros elétricos do México

Um carro elétrico vermelho em uma estrada
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Em outra reportagem, visitei os escritórios da Zacua, marca por trás do primeiro carro elétrico do México – e pude testá-lo! Entrevistei a CEO Nazareth Black e aprendi sobre os desafios para a criação de qualquer tecnologia em um país em desenvolvimento. A Zacua construiu seus próprios modelos em uma fábrica em Puebla, que emprega várias mulheres na linha de montagem – algo incomum na fabricação de automóveis. Histórias sobre energias renováveis e carros elétricos na América Latina têm sido enriquecedoras e desafiadoras. A maior parte da tecnologia usada em energias renováveis vem do Norte Global e da China. Agora, junto de novas marcas latino-americanas, a Zacua aposta em uma tecnologia própria. Isso é parte dos esforços dos empresários da região para trocar o modelo econômico baseado na exportação de commodities por outro mais adequado, que permita novas possibilidades para o Sul Global. Embora ainda esteja repleto de obstáculos, é um caminho que continuaremos a percorrer nos próximos anos.

Patrick Moore, editor assistente

Chile rejeita Constituição ‘ecológica’ – até nas comunidades mais atingidas pela seca

cartaz do "apruebo" no Chile
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O Diálogo Chino acompanhou de perto a reforma constitucional chilena, um processo que me deu um sopro de esperança em um ano que, de outra forma, seria sombrio. Para seus apoiadores, o projeto da nova Constituição foi a base para um Estado mais ecológico; para seus críticos, foi uma “lista de desejos de uma esquerda fiscalmente irresponsável”. Respaldado pelo governo de Gabriel Boric e elaborado por uma Assembleia Constituinte bastante diversa, o documento cheio de ideais progressistas e o processo democrático por trás dele tinham ambições louváveis – não fosse o referendo de setembro, no qual a rejeição venceu com 62% dos votos.

Também visitamos as comunidades atingidas pela seca que poderiam se beneficiar do trecho sobre o direito à água na Constituição rejeitada: escutamos as razões dos moradores para desaprovar a reforma e as preocupações dos especialistas sobre a desinformação que circulou antes da votação. Mas ainda há esperanças. Pesquisas mostram que os chilenos continuam interessados em substituir a atual Constituição da era Pinochet – apenas não pela que foi proposta —, e o presidente Boric já deu partida em um novo processo. À medida que o Chile se prepara para repetir tudo em 2023, as lições e percepções obtidas em campo serão essenciais.

Marina Bello, assistente editorial

Como a agricultura da América do Sul está se adaptando às mudanças climáticas

um fazendeiro próximo a uma piscina em uma área montanhosa
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Gosto particularmente das reportagens que descrevam o que acontece regionalmente, trazendo perspectivas e experiências de diferentes países sobre a mesma questão. Dada a vulnerabilidade da América Latina e do Caribe aos efeitos das mudanças climáticas, as histórias regionais muitas vezes se concentram nos problemas – desde secas que arrasam colheitas aos desafios na transição energética em países altamente dependentes de combustíveis fósseis. É por isso que escolhi uma matéria diferente. Ela foca na adaptação da agricultura às mudanças climáticas e nas soluções encontradas por grupos de trabalho e comunidades em Argentina, Bolívia e Colômbia, sem perder de vista o elemento humano. Acredito que tais visões holísticas da agricultura e o aprendizado que vá além do estritamente “necessário” para o setor – como as ferramentas tecnológicas, instrumentos de monitoramento e a organização laboral – são fundamentais para o salto que a agricultura regional precisa dar para se tornar mais sustentável.

Fermín Koop, editor do Cone Sul

O lítio pode ser extraído com menos impacto ambiental?

imagem aérea de lagoas de evaporação de mineração de lítio
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Ao longo de 2022, empresas e governos ampliaram suas operações de produção de lítio na América Latina. Diversos projetos começaram a atuar na extração e processamento do mineral, principalmente Chile, Argentina e Bolívia – países do chamado “triângulo do lítio”, que concentram mais da metade das reservas mundiais. Porém, como o Diálogo Chino mostra com frequência, a extração de lítio traz desafios socioambientais, sobretudo quanto ao uso da água. A reportagem de Javier Lewkowicz faz uma pergunta vital, em um momento em que a demanda de lítio cresce: é possível produzir lítio de forma mais sustentável? Javier descreve métodos alternativos de produção que começam a ser utilizados em toda a região, sugerindo um caminho possível para o setor. A maioria dos métodos, no entanto, ainda está em fase de testes e precisaria ganhar escala para fazer diferença no panorama atual.

Juan Ortiz, assistente editorial

A nova onda rosa na América Latina pode se tornar verde?

Gabriel Boric sorrindo em meio a papéis vermelhos, brancos e azuis
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A partir de 2023, as cinco maiores economias da América Latina serão governadas pela esquerda. As expectativas com a nova “onda rosa” são também de maior alinhamento com as questões ambientais. Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro se comprometeu a promover uma transição energética rumo à descarbonização da economia, enterrar a proposta de exploração de petróleo por fracking e expandir a preservação da Amazônia e de ecossistemas marinhos, entre outras propostas. A jornalista Laura Natália Cruz Cañon fez um excelente resumo das novas metas ambientais colombianas.

No vizinho Brasil, a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder representa um estancamento das políticas de destruição do governo de Jair Bolsonaro. Porém, com um Lula numa versão mais ambientalista, cresce também a pressão do agronegócio. Em conversa com o Diálogo Chino, a deputada federal Marina Silva – cotada para reassumir o Ministério do Meio Ambiente – acredita que o Brasil deva retomar o protagonismo ambiental internacional. Os sinais foram promissores na COP27, onde a presença de Lula ofuscou a representação oficial enviada por Brasília. Quando assumir em janeiro, o novo governo terá o desafio de combater o avanço do desmatamento e das queimadas na Amazônia, o garimpo ilegal em terras indígenas e os ataques do setor mais bolsonarista do agronegócio.