Em pouco mais de um mês, a Colômbia elegerá seu próximo presidente em um momento de enormes desafios ambientais.
O país sul-americano foi palco de mobilizações sociais sem precedentes em 2021, desencadeadas por uma proposta de reforma tributária, que evoluiu para demandas mais amplas contra a desigualdade e a proteção ambiental.
Os temas hoje pautam as campanhas eleitorais. Oito candidatos estão na disputa pela presidência colombiana nas eleições de 29 de maio, e há chances de ocorrer um segundo turno no dia 19 de junho. Na disputa, estão Gustavo Petro, veterano de esquerda que lidera a coalizão Pacto Histórico, e Federico Gutiérrez, candidato de centro-direita da coalizão Equipo por Colombia. Eles aparecem com 38% e 23,8% das intenções de votos, segundo uma pesquisa Centro Nacional de Consultoría publicada em 22 de abril. Eles são seguidos por Rodolfo Hernández (9,6%) e Sergio Fajardo (7,2%).
Os candidatos têm diversas ideias para a agenda ambiental, mas ofereceram “poucas propostas estruturadas sobre como elas seriam realizadas”, afirma Camilo Prieto, renomado ambientalista e professor da Pontifícia Universidade Javeriana, em Bogotá. Os principais desafios, diz ele, são “priorizar a biodiversidade, mudar a abordagem militarista [de proteção ambiental] e lutar contra a pecuária extensiva — principal motor de desmatamento da floresta tropical”.
Manuel Rodríguez Becerra, que foi ministro do Meio Ambiente no governo de César Gaviria entre 1990 e 1994, disse ao Diálogo Chino que “os únicos candidatos que articularam propostas bem elaboradas nesse sentido são Petro e Fajardo”.
Com a Colômbia prestes a realizar eleições presidenciais, analisamos as tendências e propostas ambientais dos quatro candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto.
Gustavo Petro
Coalizão Histórico coaltion
Petro, que é líder do partido de esquerda Colômbia Humana e ex-prefeito de Bogotá, tornou a luta contra as mudanças climáticas um dos pilares de suas propostas de campanha. Ele propõe suspender a exploração de petróleo, acelerar a transição energética e tomar medidas mais rígidas para enfrentar o crescimento do desmatamento.
Andrés Felipe Páez, membro da equipe de campanha do Pacto Histórico, que congrega 20 partidos de esquerda e centro-esquerda, disse ao Diálogo Chino que a coalizão vai priorizar o “ordenamento do país em torno da proteção da água — entendida como um direito fundamental — fortalecendo os sistemas de proteção dos ecossistemas e a promoção da transição energética”.
Na luta contra o desmatamento, as propostas de Petro apontam para mais controle contra a pecuária extensiva. Páez explica que está em análise a possibilidade de restringir a venda e comercialização de produtos da pecuária vindos de áreas com crescente desmatamento.
Já sobre o setor energético, Páez afirma que a aposta é “em direção a uma sociedade movida pela natureza, sem extrair elementos naturais do solo, passando do extrativismo para outras energias”. A esse respeito, Petro é criticado por dizer que pretende acabar com a exploração de petróleo sem definir claramente como isso ocorreria em uma nação que depende fortemente das exportações do insumo.
Por outro lado, a escolha da renomada ambientalista Francia Márquez como sua vice-presidente evidenciou seu crescente compromisso com as questões ambientais. Márquez ganhou o Prêmio Goldman de 2018, conhecido como uma espécie de Prêmio Nobel para o meio ambiente. Seu incansável ativismo na luta pelos direitos das mulheres e pela justiça racial a levou a liderar campanhas contra as atividades de mineração. “Somos parte da natureza, não donos dela”, diz um de seus slogans de campanha.
O conhecimento ancestral é reconhecido como um ativo para a conservação ambiental
Para Manuel Rodríguez Becerra, as propostas de Petro são “precisas e ambiciosas”. Becerra lembra que Petro já havia feito propostas semelhantes quando era prefeito de Bogotá (2012-2015), mas não conseguiu implementá-las em sua totalidade.
Petro foi destituído do cargo em dezembro de 2013 e impedido de exercer cargos públicos por 15 anos por supostas irregularidades numa reforma da gestão de lixo da cidade. Entretanto, ele conseguiu manter seu cargo após a Corte Interamericana de Direitos Humanos suspender sua demissão como uma “medida cautelar” e, em 2020, decidir a seu favor, o que tornou a destituição sem efeitos concretos.
A campanha de 2022 é a terceira disputa de Petro ao mais alto cargo do Executivo colombiano. Ele perdeu no segundo turno de 2018 para Iván Duque e recebeu apenas 9% dos votos nas eleições de 2010.
Federico Gutiérrez
Coalizão Equipo por Colombia
Gutiérrez lidera uma coalizão de cinco partidos de centro-direita e direita. Ele está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto e é visto como dando continuidade às políticas do atual governo.
171.685
hectares foram desmatados na Colômbia em 2020
Em seu plano de governo, Gutiérrez promete promover caminhos alternativos para o desenvolvimento, como oferecer incentivos econômicos ao hidrogênio verde e a economia circular.
O candidato também almeja reduzir a taxa anual de desmatamento da Colômbia de mais de 171 mil hectares, em 2020, para 54 mil até o final de seu mandato de quatro anos. Segundo Gutiérrez, o país estaria na metade do caminho para a meta de desmatamento zero até 2030 com essa medida.
Seu plano também propõe avançar no mercado global de pagamento por serviços ambientais (PSA), como uma opção para as comunidades indígenas e camponesas que trabalham na restauração ecológica.
Gutiérrez defende com firmeza a erradicação da mineração ilegal, comprometendo-se a reprimi-la com força militar. Ele também concorda com o governo atual na missão de identificar as redes criminosas que lucram com o cultivo ilegal de coca — principais responsáveis pelo desmatamento.
Sergio Fajardo
Coalizão Centro Esperanza
Fajardo, que lidera uma coalizão de partidos progressistas de centro-esquerda, é considerado o candidato com pautas mais verdes. Ele propõe aumentar o uso de energias renováveis, restaurar um milhão de hectares de floresta, atualizar o censo da mineração e basear o desenvolvimento do país em uma economia ligada a cadeias de valor que conservem o patrimônio e a biodiversidade.
O candidato, que já foi prefeito de Medellín e concorre pela segunda vez à presidência, disse ao Diálogo Chino que a Colômbia é “o país mais biodiverso do mundo por metro quadrado e, por essa razão, nosso programa de governo se baseia nessa riqueza”. Ele acrescentou que pretende centrar o desenvolvimento em um “modelo de bioeconomia, biotecnologia, crescimento e empregos verdes”.
Ainda, Fajardo mencionou que espera poder contar com a participação das comunidades indígenas nesse processo: “O conhecimento ancestral é reconhecido como um ativo para a conservação ambiental”.
Fajardo também propõe trabalhar no Plano Nacional de Zoneamento Ambiental, que categoriza o território por projetos de desenvolvimento, como forma de orientar os investimentos e aumentar a área nacional que recebe PSA em mais 300 mil hectares.
Na chapa de Fajardo está Luis Gilberto Murillo, seu vice-presidente e ex-ministro do Meio Ambiente durante a presidência de Juan Manuel Santos (2010-2018). Em um fórum ambiental na Universidade Nacional da Colômbia em Bogotá, Murillo criticou o modelo de mineração na Colômbia e o identificou como um “esquema completamente extrativista no qual a riqueza não fica nas regiões e destrói comunidades”.
Murillo também propôs o fortalecimento dos mercados voluntários de carbono e a restrição ao desenvolvimento da pecuária, redirecionando os lucros para as comunidades e fechando a fronteira agrícola, “como estabelecido nos acordos de paz” que foram assinados em 2016 e puseram fim a um conflito civil de mais de meio século.
Rodolfo Hernández
Liga de Governantes Anticorrupção
Hernández, uma candidatura independente que lidera uma “liga anti-corrupção” centrista, é um conhecido homem de negócios do setor da construção civil e ex-prefeito da cidade de Bucaramanga.
Em um recente debate televisivo entre os presidenciáveis, Hernández disse que deseja se encontrar com empresários bem-sucedidos que estejam “comprometidos com as mudanças climáticas e o aquecimento global”.
Ainda, Hernández pretende elaborar “uma política ambientalmente correta”, em busca de mais alternativas energéticas que “a longo prazo eliminarão a dependência da indústria de combustíveis fósseis”. Entretanto, Hernández não especificou como o fará.
Ele promete sanções mais severas contra crimes ambientais e o fortalecimento das instituições ambientais para que elas possam exercer suas funções “com a autoridade e a segurança que lhes permitirão processar efetivamente os criminosos da mineração e do desmatamento”.
Em seu site de campanha, Hernández inclui propostas ambientais, tais como promover alternativas energéticas, tipificar os crimes ambientais no código penal, ratificar tratados internacionais como o Protocolo de Nagoya e o Acordo de Escazú. No entanto, ele não menciona nada sobre sua implementação.
Hernández também sugere “forçar as multinacionais de mineração a operar na Colômbia como fazem em seus países de origem”. Semelhante a outros candidatos, ele propôs um PSA, fornecendo uma renda básica para as pessoas que trabalham na proteção das florestas e pagando a população local por seu trabalho na “produção de oxigênio”.