Clima

Quais resultados serão sinal de sucesso em Marrakech?

Especialistas dizem o que esperar da Conferência Climática do Marrocos

Com a Conferência do Clima de Marrakesh (COP22) em andamento, perguntamos a um painel de especialistas o que esperam dos resultados das duas semanas de negociações

José Sarney Filho, Ministro do Meio Ambiente do Brasil

A COP22 precisa avançar na regulamentação do Acordo de Paris. Marrakesh é uma conferência que servirá para implementar os acordos que foram assinados em Paris. É preciso agir para assegurar o progresso na Contribuição Nacional dos Países.

O Brasil já saiu na dianteira rumo a uma economia de baixo carbono se comparado ao resto do mundo, já que é o país que alcançou os resultados mais expressivos na redução de emissões, principalmente em função do controle do desmatamento da Amazônia.

Os países desenvolvidos tem a obrigação de dar sequência a seus compromissos de repassar recursos aos países em desenvolvimento porque o ônus de manter os biomas prestando serviços sócio-ambientais ao mundo não pode recair só sobre o àqueles que moram nesses biomas, como é o caso da Amazônia.

Andrew Steer, diretor executivo do Instituto de Recursos Mundiais (WRI)

Se a COP21 se focou na união em torno de uma visão ampla, neste ano precisamos que os líderes governamentais arregacem as mangas e comecem a trabalhar. Devemos procurar esclarecimentos quanto às decisões sobre as regras e os processos de implementação do Acordo de Paris. Também devemos iniciar o processo de chegar a um momento forte em 2018 para fazer um balanço do déficit na redução das emissões, do progresso alcançado e das oportunidades para ações ainda maiores.

Embora a cooperação internacional quanto à mudança climática tenha sido um ponto alto em 2016, todos os objetivos fixados pelos vários países, em conjunto, ainda não bastam para limitar a 1,5C ou mesmo a 2C o aumento do aquecimento global [acima dos níveis pré-industriais]. Os negociadores em Marrakesh precisam acompanhar o impulso político que estamos vendo em vários países do mundo. Os líderes das empresas, das cidades e comunidades também precisam acelerar a transição em andamento.

Além disso, é preciso fazer planos mais concretos sobre como os países em desenvolvimento vão receber o apoio financeiro necessário para alcançar seus objetivos climáticos. O plano básico de US$ 100 bilhões (6,800 bilhões de yuans) mostra uma tendência positiva de alta no financiamento climático. Com ações contínuas e bem coordenadas, esse objetivo está ao alcance. Marrakech oferece a oportunidade de tranquilizar os países em desenvolvimento quanto a isso. Também é fundamental garantir que o financiamento seja realmente acessível.

Saleemul Huq, fellow sênior do Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Do ponto de vista dos países mais vulneráveis, espero ver três resultados principais da COP22, em Marrakech.

O primeiro e, de longe, o mais importante, é o forte impulso para limitar a 1,5C o aumento da temperatura no longo prazo, de modo que isso seja uma realidade e não apenas uma aspiração. A entrada em vigor do Acordo de Paris com rapidez recorde mostra uma tendência positiva, um impulso político continuado depois de Paris, que agora precisa ser aproveitado para se implementar o acordo.

A segunda questão importante para os países mais vulneráveis é a adoção das recomendações do Comitê Executivo do Mecanismo Internacional de Varsóvia para Perdas e Danos. Em particular, o plano evolutivo de cinco anos para Perdas e Danos. Para os países vulneráveis em desenvolvimento, a COP22 será a “COP das Perdas e Danos”.

A terceira questão que precisa ser resolvida não é uma decisão nova, mas sim a melhor implementação das decisões antigas, em especial quanto às verbas dos países desenvolvidos para a adaptação dos mais vulneráveis. Muito já foi prometido, mas pouco foi realmente entregue. Os gargalos para a transferência das verbas já alocadas devem ser retirados imediatamente.

Jennifer Morgan, diretora executiva da Greenpeace International

O tema principal de Marrakech é decidir as regras para realizar os objetivos, de modo que sejam não só alcançados, como até superados. Os resultados que darão sinal de sucesso incluem:

Ações claras para aumentar os cortes das emissões, tanto imediatas como futuras, reforçando os planos climáticos já existentes (ou as Contribuições Nacionais, NDCs), a fim de limitar a 1,5C o aumento da temperatura média global.

Regras claras e coerentes sobre como os países podem contabilizar a redução das emissões, avaliar a adequação das metas em 2018 e em rodadas posteriores de revisão, e como contabilizar suas finanças de agora em diante.

Um conjunto de decisões e compromissos, desde a concretização dos financiamentos e o reforço da capacitação até manter a adaptação no centro dos esforços, para garantir que os países pobres e vulneráveis recebam apoio, tanto para realizar seus planos climáticos como para enfrentar os impactos devastadores que as mudanças climáticas estão exercendo em seus países.

Um caminho para se implementar os planos transformacionais de longo prazo para 2050, relativos à redução das emissões, reforço da resistência [às mudanças climáticas] e transferências financeiras.

Sinalizar para os setores corporativo, financeiro e público que os combustíveis fósseis estão em declínio e os bilhões investidos em carvão, petróleo e gás serão transferidos para as energias renováveis, para a fim de chegar a um sistema de energia carbono zero.

Zou Ji, vice-diretor geral do Centro Nacional Chinês para Estratégias de Mudança Climática e Cooperação Internacional

A estratégia e a política climática chinesas estão de acordo com os interesses nacionais da China e não dependem da presidência dos Estados Unidos. O incentivo fundamental é a necessidade da China de gerar crescimento por meio de uma ampla transição econômica, melhorar a qualidade do ar, aumentar a taxa de crescimento graças à eficiência e o fortalecimento da segurança energética.

Sob a presidência de Trump, a cooperação climática entre os Estados Unidos e a China necessitará de uma nova estratégia, com novas prioridades e pontos de destaque. Ainda há muitas oportunidades de cooperação em tópicos como energia e proteção ambiental, sobretudo em investimentos e comércio nos setores de novas fontes de energia e eficiência energética.

Durante a campanha, Trump mostrou uma posição negativa quanto à mudança climática. No entanto, seria necessário um tremendo esforço legal para retirar os EUA do Acordo de Paris e alterar os objetivos nacionais de redução de emissões definidos pelo presidente Obama. Além disso, essas ações implicariam riscos políticos e diplomáticos significativos. É muito provável que Trump não rompa o acordo quando assumir oficialmente o cargo, nem tampouco estabeleça metas menos ambiciosas para a ação climática. A energia renovável, a segurança energética, o comércio de energia e o desenvolvimento tecnológico podem vir a ser o legado político de Trump.

Essa matéria foi primeiramente publicada pelo chinadialogue.net