Ao mesmo tempo em que Donald Trump dirige os Estados Unidos na contramão do resto do mundo quanto às mudanças climáticas, o governador da Califórnia, Jerry Brown, avança a passos largos (e bem-vindos) para colocar seu estado na linha de frente. Sua recente viagem à China não é exceção. Lá, o norte-americano pediu que o país se torne o xerife mundial do clima e requisitou sua ajuda para tornar a economia californiana mais verde.
No entanto, antes de transformar a Califórnia em parceira entusiasmada da China nas ações climáticas, Brown precisa lidar com o forte impacto climático dos investimentos da China em outros países, bem como as contribuições da Califórnia para tais impactos.
O motivo disso é que a China financia a implantação de infraestrutura petrolífera na Amazônia e a Califórnia importa uma boa parte do petróleo ali produzido, gerando um triplo impacto de carbono: da queima do petróleo, das emissões lançadas pelo desmatamento e da destruição do maior sumidouro de carbono do mundo.
A região da floresta amazônica tem um dos maiores níveis de biodiversidade do planeta. Sua preservação é essencial para o combate às mudanças climáticas. Ainda assim, hoje o Equador está “limpando” territórios novos e intocados de floresta amazônica nativa para abrir espaço para a perfuração de poços de petróleo, com financiamento e incentivo da China. E, apesar de parecer contraintuitivo, uma boa parte do petróleo equatoriano vai parar na Califórnia.
Bancos de desenvolvimento e estatais chinesas têm investido pesadamente em toda a América Latina, inclusive no Equador, há vários anos. Desde 2010, o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportações e Importações da China liberaram US$15,2 bilhões em crédito para a região.
A maior parte desses financiamentos deverão ser quitados por meio da venda de petróleo ou combustível da estatal equatoriana Petroecuador para a também estatal chinesa PetroChina International. Após o recente colapso dos preços do petróleo bruto, o Equador agora precisa extrair ainda mais petróleo para pagar sua dívida. Isso significa que os investimentos chineses estão alimentando um novo e destrutivo boom do petróleo nas florestas amazônicas do Equador.
Ao invés de ir para a China, no entanto, cerca de 60% do petróleo bruto equatoriano tem como destino final os Estados Unidos – mais da metade dele, a Califórnia. Lá, ele é processado em refinarias e comercializado em todo o estado, conforme revelado pela Amazon Watch em um estudo divulgado em 2016.
A Califórnia tem a terceira maior capacidade de refino dos Estados Unidos e, em 2016, cerca de 10% de seu estoque de combustível veio da Amazônia Ocidental. Aliás, o Equador fica atrás apenas da Arábia Saudita no fornecimento de petróleo bruto para essas refinarias.
Os impactos da perfuração de poços de petróleo na floresta amazônica são terríveis, tanto para sua notória biodiversidade– as taxas de endemismo e diversidade de espécies em algumas áreas da Amazônia equatoriana estão entre as maiores do mundo – quanto para seus povos indígenas, muitos dos quais rejeitam há muito tempo os controversos planos de perfuração em suas terras.
Essas florestas e esses povos já sofreram o maior desastre ambiental da História, por conta das perfurações de petróleo feitas por companhias como Texaco (atual Chevron) e petrolíferas estatais. Os riscos enfrentados pela floresta amazônica e por seus protetores indígenas não podem ser ignorados, se Brown e a China realmente quiserem prevenir uma catástrofe climática.
Enquanto o atual governo norte-americano se recusar a tomar a liderança nas questões climáticas, é importante que a Califórnia olhe para outros lugares em busca de parceiros dispostos e capazes. No entanto, o estado precisa avaliar integralmente os impactos climáticos das suas cadeias de fornecimento e garantir que seus parceiros realmente estejam comprometidos com a liderança nas questões climáticas globais.
Dada a quantidade de petróleo bruto amazônico que vai para a Califórnia, com incentivo de investimentos chineses, Brown se vê diante de uma incrível oportunidade de contribuir para a proteção da floresta amazônica e triplicar a redução do impacto climático de seu estado. Ele pode agir para acabar com o petróleo bruto da Amazônia. Tomara que ele aproveite essa oportunidade.
Este artigo foi originalmente publicado no The Mercury News e é republicado aqui com permissão