As empresas chinesas estão prontas para acelerar seus investimentos em tecnologia de energia limpa em todo o mundo, ocupando assim o espaço que antes pertencia às maiores economias mundiais como a dos Estados Unidos, mostram dados recentes.
Um novo relatório do Instituto de Economia Energética e Análise Financeira (IEEFA) revelou que a China bateu recorde de investimentos no exterior no último ano, com US$ 32 bilhões investidos em energia renovável e tecnologias relacionadas, o que representa um aumento de 60% em relação ao ano anterior.
Entre 2015 e 2021, a China encabeçará a instalação de aproximadamente um terço de toda a capacidade mundial de geração de energia eólica, solar e hidrelétrica. O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) e o Banco de Exportação-Importação da China (China Exim Bank), ambos da China, parecem estar prontos para liderar as transformações no setor energético em toda a Ásia. Enquanto isso, o China Exim Bank e o Banco de Desenvolvimento da China estão bem posicionados para capitalizar o boom das energias renováveis na América Latina.
A escala e o crescimento desses investimentos sugerem que a China está pronta para abraçar seu papel como líder global em energia limpa apesar das políticas ainda incertas dos Estados Unidos neste setor sob a presidência de Donald Trump, que inicia seu mandato no próximo dia 20 de janeiro.
“Os EUA já estão ficando muito atrás da China na corrida pela maior fatia do mercado de energia limpa, que está em franca ascensão. Como o presidente eleito Trump tem proclamado as vantagens do carvão e do gás, é pouco provável que aconteçam mudanças nas políticas nacionais”, disse Tim Buckley, diretor de estudos de finanças para energia Australásia para IEEFA.
“Se os EUA querem seriamente estimular o crescimento industrial, não devem virar as costas para este setor”, adicionou.
A China já é líder em investimentos domésticos em energia renovável. Na quinta-feira (5), um anúncio da Administração Nacional de Energia (NEA) da China revelou que o país vai investir 2,5 trilhões de yuans (US$ 361 bilhões) na geração de energia renovável até 2020, como parte de seu programa de desenvolvimento quinquenal (13o Plano Quinquenal), afastando assim seu mercado doméstico do carvão, que é uma fonte suja de energia, e aproximando-o de combustíveis mais limpos.
Parte da fase mais recente da estratégia chinesa batizada de “Going Global” aliará a sua estratégia de exportação de energia aos planos para a construção de uma série de redes comerciais e de infraestrutura em toda a Ásia que chegarão até a Europa, sob a bandeira “Um cinturão, uma estrada“, ou “Nova Rota da Seda”.
Isso significa que a China se tornará a maior empregadora mundial no setor de energia renovável. O relatório World Energy Outlook de 2016, publicado pela Agência Internacional de Energia, estima que as empresas chinesas geram 3,5 milhões dos 8,1 milhões de empregos em energia renovável em todo o mundo. Em comparação, os EUA geram 769 mil empregos no setor.
A maior parte dos investimentos chineses destinados às instalações de energia eólica e solar foi para os EUA, Alemanha, Itália, Austrália e África do Sul. Em termos de novos mercados, a América Latina é atualmente considerada uma das regiões mais atraentes para o desenvolvimento de energia renovável e as empresas chinesas já investem pesado no México, Brasil, Argentina, Chile e outros países na região.
Os bancos chineses são os maiores investidores no setor energético da América Latina e seus empréstimos à região ultrapassaram US$ 33 bilhões no período entre 2005 e 2014, um número três vezes maior do que o do Banco Mundial. Até o momento, o foco desses investimentos havia se concentrado nas fontes de energia não renováveis.
Em 2016, a Tianqi Lithium, maior fabricante de íons de lítio da China, investiu US$ 2,5 bilhões na aquisição de uma participação na SQM do Chile, quarta maior produtora mundial de lítio. O lítio é uma substância encontrada em grandes reservas no Chile, Bolívia e Argentina, e é utilizada na fabricação de baterias para veículos elétricos. A demanda global pelo metal para uso em baterias vai dobrar ao longo dos próximos nove anos, segundo um relatório da IEEFA.
O segmento de redes de transmissão é outra área considerada estratégica pela China. No ano passado, a State Grid Corporation of China (SGCC ou State Grid) prometeu investir US$ 13 bilhões em um acordo com a brasileira CPFL Energia SA para a distribuição de energia e eletricidade.
“A China entende que os renováveis representam uma enorme oportunidade comercial. Seus impressionantes investimentos domésticos em energia limpa só vêm complementar a busca ativa do país por crescimento comercial no exterior”, afirma Buckley. “Assim como os EUA estavam à frente da era do petróleo, a China está agora se transformando na líder absoluta em energia limpa. É possível que os EUA passem os próximos anos lamentando muito tudo isso”.
Esta matéria foi publicada primeiramente pelo chinadialogue.net