Energia

Com aumento de demanda elétrica, Uruguai expande energia solar

País planeja diversificar sua matriz elétrica, com mais de 100 MW de energia fotovoltaica até 2026
<p>Painéis solares instalados em escola em Jaureguiberry, departamento de Canelones, Uruguai. A combinação de energia solar e eólica pode aumentar a resiliência do sistema elétrico do país (Imagem: <a href="https://flic.kr/p/Pp3U7y">Jimmy Baikovicius</a> / <a href="https://www.flickr.com/people/jikatu">Flickr</a>, <a href="https://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.0/deed.pt-br">CC BY SA</a>)</p>

Painéis solares instalados em escola em Jaureguiberry, departamento de Canelones, Uruguai. A combinação de energia solar e eólica pode aumentar a resiliência do sistema elétrico do país (Imagem: Jimmy Baikovicius / Flickr, CC BY SA)

Com uma matriz elétrica formada por 94% de fontes renováveis, o Uruguai é pioneiro em descarbonização na América Latina. Porém, enquanto 46% dessa energia vem de hidrelétricas, 27% de usinas eólicas e 19% de biocombustíveis, os painéis solares representam apenas 2% desse total. Para garantir que a matriz permaneça limpa diante da crescente demanda por eletricidade, a nova fase da transição energética do Uruguai está prestes a começar: uma forte expansão de energia solar.

“Os modelos criados para elaborar os planos de expansão da geração elétrica indicaram as fontes mais adequadas a serem instaladas: a energia fotovoltaica e eólica”, resumiu Arianna Spinelli, secretária de Energia do Ministério de Indústria, Energia e Mineração do Uruguai. 

Um relatório de 2019 da Agência Internacional de Energia Renovável afirma que as características geográficas do Uruguai tornam a energia solar e eólica altamente complementares – a geração de energia solar atinge seu pico durante o dia, enquanto a eólica é mais acionada à noite. Para Spinelli, essa combinação ajudará a consolidar a resiliência do sistema elétrico do Uruguai. 

A capacidade instalada de energia eólica do Uruguai é de 1,5 mil megawatts (MW), enquanto que a fotovoltaica é de 300 MW. Segundo Spinelli, o plano de expansão do governo prevê um acréscimo de 1,1 mil MW de capacidade solar até 2040.

Dois projetos em andamento devem acrescentar 100 MW à rede elétrica uruguaia até 2026: a usina solar Punta del Tigre, no sul, com 25 MW e início de operação previsto para julho de 2026, e um parque solar de 75 MW em Melo, no leste, programado para entrar em operação em 2028.

Darío Castiglioni, diretor da Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas (UTE), disse ao Dialogue Earth que os projetos devem exigir um investimento de US$ 91 milhões. Segundo ele, isso mostra que a energia solar está se tornando uma fonte de energia cada vez mais acessível.

Sustentabilidade uruguaia

O ministro do Meio Ambiente do Uruguai, Edgardo Ortuño, também disse ao Dialogue Earth que o impulso da energia renovável é uma “parte fundamental” do desenvolvimento sustentável uruguaio. Ele espera que a incorporação de energias renováveis “siga crescendo” para avançar rumo à meta de descarbonização até 2050.

Em 2021, o Uruguai lançou uma Estratégia Climática de Longo Prazo para atingir sua meta de neutralidade de carbono até 2050. A primeira fase dessa transição buscou garantir uma matriz elétrica movida a renováveis. A segunda fase tem três pilares: eficiência energética, eletromobilidade e eletrificação da demanda. Isso implica descarbonizar o transporte e a indústria, melhorar o armazenamento de energia e impulsionar um centro regional de hidrogênio verde.

“Planejamos avançar na mobilidade sustentável das famílias e no transporte público com mobilidade elétrica”, disse Ortuño. “Também queremos progredir no transporte rodoviário de carga, fluvial e aéreo — isso significa desenvolver as fontes de hidrogênio verde e, portanto, dar novos passos rumo à expansão da energia solar no país”. 

Ramón Méndez, diretor-executivo da Ivy Foundation e presidente da REN21, rede de defesa da energia renovável, explicou ao Dialogue Earth que a primeira transição energética do Uruguai foi impulsionada por preocupações com a crise climática e a degradação ambiental. Hoje, porém, ela é impulsionada pela economia.

“As energias renováveis são as fontes mais baratas e não dependem das flutuações nos preços dos combustíveis fósseis”, afirmou. “Nesse cenário, a eletricidade produzida com painéis solares é mais barata do que a produzida com turbinas eólicas”.

Projetos em andamento

O projeto Punta del Tigre foi concedido a um consórcio firmado em outubro de 2024 pela empresa espanhola Prodiel Energy e pela uruguaia Teyma. Ele serviu como piloto para avaliar a participação estrangeira na energia solar uruguaia.

No início de setembro, o mesmo consórcio foi anunciado como operador do projeto em Melo, no departamento de Cerro Largo, com 138 mil painéis solares. As empresas venceram as propostas de outras oito concorrentes na licitação, incluindo a peruana ABCD Trading e a chinesa PowerChina.

Para o pesquisador Rodrigo Alonso, codiretor da Associação Uruguaia de Energia Renovável e do Laboratório de Energia Solar da Universidade da República de Montevidéu, o interesse da China no mercado solar uruguaio é puramente comercial: “Por razões de custo, praticamente tudo o que é instalado no Uruguai vem da China. Ela domina o mercado solar em diversas frentes, tanto na produção industrial quanto em operações próprias em todo o mundo”.

Painel fotovoltaico instalado em Tala, departamento de Canelones
Painel fotovoltaico instalado em Tala, departamento de Canelones. O governo uruguaio planeja adicionar 1,1 mil MW de capacidade solar até 2040 (Imagem: Presidência da República Oriental do Uruguai)

Segundo Alonso, as usinas de Punta del Tigre e Cerro Largo usarão painéis solares chineses. Além disso, algumas empresas chinesas participam de obras nos sistemas de transmissão de eletricidade do Uruguai.

Além de peças mais baratas, Ramón Méndez disse que a China oferece financiamento a taxas muito favoráveis, o que torna o preço final da eletricidade mais acessível aos consumidores. Ele acrescentou que os acordos para as usinas solares têm sido bem aceitos pela população, porque a instalação, as obras e o fornecimento de eletricidade permanecem nas mãos do Estado, em benefício da economia uruguaia.

Castiglioni, porém, explicou que a participação de empresas estrangeiras nesses projetos é bastante comum, pois a UTE não consegue garantir sozinha o investimento necessário para as obras. Considerando o papel de liderança da China no desenvolvimento de tecnologias verdes, Castiglioni acrescentou que seus investimentos são vistos de forma positiva.

Impactos ambientais

A instalação dos parques solares pode gerar alguns impactos ambientais nas áreas próximas. Segundo Méndez, eles ocupam áreas enormes, sobretudo quando comparados com os parques eólicos. Já Arianna Spinelli, secretária de Energia no país, observou que as usinas solares atuais “ocupam 0,0033% do território uruguaio — ou seja, mesmo que a capacidade instalada seja ampliada, essas áreas não são significativas para um país com baixa densidade populacional”.

Quanto aos parques eólicos, Méndez diz que as turbinas têm um grande impacto visual na paisagem e são muito barulhentas, além de representarem um risco para as rotas de aves migratórias.

De qualquer modo, ambos os especialistas concordam que essas desvantagens são infinitamente menores do que as geradas por outros tipos de tecnologia, como os combustíveis fósseis. Quando se trata de novos parques solares, Méndez afirmou que, de forma geral, “a receptividade dos moradores tem sido muito positiva”.

Aumento de demanda elétrica

Para a próxima década, estima-se crescimento contínuo da demanda de eletricidade no Uruguai. Além da taxa histórica de aumento anual de 2%, fatores como a expansão da eletromobilidade, o avanço do hidrogênio verde e a instalação de novos centros de processamento de dados — os chamados data centers — devem intensificar o consumo, tornando essencial a busca por alternativas.

A economista Noelia Medina, coordenadora do programa Líderes em Energia do Futuro, do Conselho Mundial de Energia, aponta haver sinais do surgimento de projetos de grande porte, o que pode sobrecarregar a rede elétrica do Uruguai. 

Spinelli afirmou que, em 2024, a demanda por eletricidade no Sistema Interligado Nacional foi de 12,2 terawatts-hora. Isso não inclui o consumo de data centers ou projetos derivados do hidrogênio, que podem exigir, em média, um gigawatt de energia solar até 2030.

Gaúchos em frente a um painel solar em Tacuarembó, norte do Uruguai
Gaúchos em frente a um painel solar em Tacuarembó, norte do Uruguai. Fontes renováveis alternativas estão ajudando na integração energética do país (Imagem: Presidência da República Oriental do Uruguai / Flickr, CC BY NC ND)

Essas projeções também estão presentes no Plano de Expansão da Geração de Eletricidade 2024-2043 do governo uruguaio, publicado em março. Entre os principais pontos, o plano afirma que, para manter suprimento adequado de eletricidade, será necessário adicionar de 2.100 a 2.420 MW de capacidade eólica e 1.130 a 1.375 MW de energia solar até 2043.

Spinelli afirmou que a rede elétrica do Uruguai está bem equipada para absorver essa nova capacidade eólica e solar, acrescentando que as obras nos sistemas de transmissão já foram planejadas e muitas delas iniciadas. “Não deve ser um problema conectar a geração eólica e fotovoltaica nos próximos anos”, disse ele. 

Darío Castiglioni, da UTE, acrescentou que a estatal fez um investimento “muito forte” em distribuição de energia.

Recurso estrangeiro e exportações

Como as opções internas podem ser limitadas, Castiglioni afirmou que a busca por financiamento internacional “está sempre em pauta” – sobretudo de organizações como o Fundo Verde para o Clima e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. A secretária de energia do Uruguai, Arianna Spinelli, confirmou que o Ministério de Indústria, Energia e Mineração e outros órgãos do governo estão “atentos às oportunidades de financiamento climático”, com projetos de cooperação internacional já em andamento.

Méndez, ex-conselheiro do Fundo Verde para o Clima, afirmou que tais projetos podem ser do interesse do fundo, mas esclareceu que a entidade geralmente trabalha com projetos de uma escala “muito maior”. De acordo com ele, ainda há “muitas opções para o Uruguai obter financiamento barato”, provavelmente por meio de uma combinação de empréstimos e participações societárias nos projetos.

Spinelli disse ainda que o Uruguai “já está trabalhando em nível regional para promover uma maior integração energética e administrar a disponibilidade de eletricidade de baixo custo”, algo que os países vizinhos atingirão à medida que avançarem rumo a uma matriz elétrica cada vez mais renovável.

“Em 2022, as exportações de energia atingiram quase US$ 400 milhões, cerca de 1% do produto interno bruto, então é evidente que a energia agora é um produto não convencional de exportação do Uruguai”, disse ela.

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