Florestas

Os novos ministros responsáveis pela Amazônia

Quatro novos ministros do Meio Ambiente foram nomeados nos países da região amazônica
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Quatro novos ministros do Meio Ambiente foram nomeados nos países da região amazônica (imagen: CIFOR)

Quatro novos ministros do Meio Ambiente foram nomeados nos últimos oito meses nos países da região amazônica, em um momento em que a maior selva tropical do mundo enfrenta problemas imensos de desmatamento que ameaça sua condição de maior reserva de oxigênio do mundo.

No Brasil, um ministro ligado a ruralistas

Ricardo Salles foi o último dos 22 ministros a ser nomeado por Jair Bolsonaro, o político de extrema-direita que venceu as eleições presidenciais brasileiras. Salles foi escolhido para chefiar o Ministério do Meio Ambiente depois de Bolsonaro recuar de sua decisão de acabar com a pasta – proposta que divulgou amplamente durante sua campanha.

A escolha, no entanto, não destoa do discurso do presidente-eleito. Um dos primeiros comentários de Salles após seu nome ser anunciado foi dizer que “a discussão se há ou não há aquecimento global é secundária”. O futuro ministro quer simplificar licenças ambientais, aliviar o peso da fiscalização de cima de produtores rurais e tornar o trabalho do ministério “mais eficiente“.

Ele também promete “defender a propriedade privada“ contra movimentos sociais e de comunidades tradicionais. Os grupos indígenas talvez sejam os mais vulneráveis em sua gestão. Na semana passada, o presidente-eleito disse querer permitir mineração em terras indígenas pelo país.

Aprovada por representantes do agronegócio, sua nomeação causou extrema preocupação a ambientalistas. Não só por causa de seu posicionamento, mas também do momento em que ele assumirá o ministério, quando as taxas de desmatamento na Amazônia vêm subindo. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, entre agosto e outubro, o crescimento foi de 48,8%.

Talvez o único alívio para ambientalistas tenha sido a sinalização do futuro ministro de que não deve tirar o Brasil do Acordo de Paris.

Mas muito ainda pode mudar. Sua nomeação já levou um duro golpe. Salles foi acusado pelo Ministério Público de cometer irregularidades e prejudicar o meio ambiente na elaboração do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, durante sua gestão em São Paulo. Na última quarta-feira, um juiz condenou Salles por improbidade administrativa. O caso pode ser um problema para Bolsonaro, que se elegeu com uma forte campanha contra a corrupção.

Na Colômbia, um ministro especialista em desmatamento

Ricardo Lozano, ministro do Meio Ambiente colombiano desde agosto, chegou a seu cargo em um momento crucial. O segundo ano de implementação do histórico Acordo de Paz, firmado com as Farc em 2016 veio acompanhado de uma terrível notícia: as taxas de desmatamento dispararam na Amazônia, e muitas regiões onde a antiga guerrilha marxista mantinha controle do território e de negócios como o das drogas.

O geólogo, o primeiro ministro do Meio Ambiente com ampla experiência no setor há mais de uma décadas, é conhecido por ter dirigido durante cinco anos o Ideam, o instituto meteorológico da Colômbia, que criou em 2012, sob sua liderança, um robusto sistema de monitoramento de coberturas florestais que publica alertas de risco de desmatamento a cada três meses.

Este é precisamente seu maior desafio agora, em um momento em que a Colômbia perde 219.973 hectares de floresta anualmente, e em meio a um governo – do presidente Iván Duque – que chegou ao poder com a bandeira de oposição ao Acordo de Paz e de impulsionamento ao setor agropecuário.

Durante sua carreira, Lozano – cuja nomeação foi bem recebido no setor ambiental – trabalhou extensamente em temas importantes para a Colômbia e a Amazônia, como mudanças climáticas, gestão de risco (em um país que contribui pouco em emissões de gases do efeito estufa, mas que é muito vulnerável aos efeitos de eventos climáticos extremos como inundações e deslizamentos) e manejo de recursos hídricos.

Contudo, o novo ministro acredita que estes problemas devam ser compreendidos de forma transversal. “O desmatamento não é um problema somente do Ministério do Meio Ambiente, nem de um ministro, mas sim do Estado,” ele tem dito em diversas ocasiões.

No Equador, um ministro vindo do setor petroleiro

Marco Mata Guerrero, o novo ministro do Meio Ambiente equatoriano, chegou ao cargo faz apenas duas semanas – em meio às mudanças em ministérios feitas pelo presidente Lenin Moreno – e sua nomeação tem gerado preocupação entre os que trabalham com a Amazônia.

O advogado fez uma carreira gerenciando questões ambientais, mas quase sempre dentro do setor de hidrocarbonetos: foi o responsável por meio ambiente na petroleira Repsol Equador e assessor de questões ambientais e sociais da empresa estatal Petroecuador. Além disso, teve vários cargos ambientais no Ministério de Minas e Petróleos, onde foi o diretor nacional de proteção ambiental e coordenador de participação social e relações comunitárias.

Sua designação despertou duras críticas do setor ambiental, que sente que sua trajetórias foi a serviço do setor extrativista e não do ambiental. Em especial, questionam seus vínculos com empresas ligadas à exploração de petróleo dentro do Parque Nacional de Yasuní, na Amazônia equatoriana, um tema que dividiu fortemente a sociedade equatoriana.

“É inaceitável que hoje se ponha à frente do Ministério do Meio Ambiente um antigo funcionário da primeira empresa petroleira a explorar este parque nacional, o mais diverso do Equador, onde existem povos de isolamento voluntário,” disse Elizabeth Bravo da Ação Ecológica, uma das ONGs ambientais mais conhecidas do país.

Ela continuou: “Ele participou, além disso, de processos de políticas públicas na área de mineração, então os movimentos ecologistas do país tememos que sua nomeação facilite a operação mineira em zonas de fragilidade ambiental”.

No Peru, uma ministra que cuida de florestas

Fabiola Muñoz Dodero chegou ao Ministério do Meio Ambiente peruano junto com o novo presidente Martín Vizcarra em abril, depois de uma década de trabalho no setor florestal.

Antes de se tornar ministra, a advogada dirigia, havia quatro anos, o Serviço Nacional Florestal e de Fauna Silvestre (Serfor), uma agência que depende do Ministério de Agricultura, e que é a autoridade máxima na gestão de florestas no Peru. Antes disso, liderou o programa de cooperação do Serviço Florestal dos Estados Unidos com o Peru.

Durante boa parte de sua trajetória, Muñoz esteve ligada à luta contra as atividades ilegais que vêm dizimando a Amazônia e outros ecossistemas peruanos. Do Serfor, concentrou-se na exploração madeireira e no comércio ilegal de madeira, somando-se ao Pacto Nacional de Madeira Legal, que luta para que toda madeira comercializada no Peru tenha origem legal e verificada até 2021.

Agora, como ministra, está se concentrando na mineração ilegal e no desmatamento, dando ênfase à necessidade de criar alternativas para comunidades. “Temos que reconhecer que no Estado não costumamos ser eficientes em gerar condições para que a atividade legal seja mais barata, mais rápida que a atividade ilegal”, disse em abril.

Em todo caso, o governo de Vizcarra está buscando uma ministra que seja capaz de fazer pontes com o setor privado. “Precisamos de uma ministra do Meio Ambiente que entenda que a melhor maneira de preservar o meio ambiente é gerando investimento no país, mas de maneira responsável para o setor onde este investimento seja feito”, disse o primeiro-ministro César Villanueva antes de nomeá-la. Nisso, Muñoz pode ajudar, já que foi gerente de relações comunitárias na filial peruana da empresa Anglo American, que opera minas de cobre em Quellaveco.