De acordo com um relatório publicado na semana passada pelo InfoAmazonia, portal jornalístico voltado às questões amazônicas, os gastos do governo da presidente Dilma Rousseff com medidas contra o desmatamento foram 72% menores do que os de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011). Amplamente divulgado pelos principais veículos de mídia brasileiros, o relatório reforça o histórico de indiferença de Rousseff quanto aos problemas ambientais. Entre os anos de 2011 e 2014, o governo federal desembolsou R$ 1,77 bilhão de reais (US$ 500 milhões) para o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAM), estratégia desenvolvida pelo ex-presidente Lula em 2004, composta por medidas de manejo de terras, monitoramento e controle ambiental, bem como a promoção de atividades produtivas sustentáveis na região. Entre 2007 e 2010, no segundo mandato de Lula, o governo gastou R$ 6,36 bilhões (US$ 2 bilhões) no mesmo Plano. Por outro lado, o estudo também indica que, no governo Dilma Rousseff, a Amazônia vem registrando os menores níveis de desmatamento desde 1988. Tal fato é atribuído à situação “menos dramática” herdada pela atual presidente desde sua eleição. Nos dois primeiros anos do governo Lula, 2003 e 2004, o desmatamento da Floresta Amazônica chegou a pouco mais de 25.000 km²; em comparação aos dois anos iniciais do governo Rousseff, a área desmatada foi de apenas 6.500 km². Ministério do Meio Ambiente Os dados mais recentes publicados pelo Ministério do Meio Ambiente, referentes ao período entre agosto de 2013 e julho de 2014, indicam uma redução de 18% no desmatamento legal ao longo do período. No entanto, esta diminuição é contestada por outras organizações de monitoramento. Em 11 de março, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) publicou dados obtidos via satélite, indicando um número recorde de incêndios florestais no Brasil nos primeiros dois meses de 2015. De acordo com o Inpe, portanto, o desmatamento ocorrido entre novembro de 2014 e janeiro de 2015 cresceu 40% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em resposta ao relatório da Infoamazonia, o Ministério do Meio Ambiente disse ainda estar analisando o documento. No entanto, reafirmou que o combate ao desmatamento continua sendo prioridade para o governo, apontando que as áreas totais desmatadas nos quatro primeiros anos do governo Rousseff estiveram entre os níveis anuais mais baixos já registrados. “Estamos convencidos de que conseguiremos reduzir o desmatamento para nossa meta de 3.935 km² até 2020”, anunciou. No início de março, os Ministérios do Meio Ambiente e da Justiça, em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), anunciaram a criação da Companhia de Operações Ambientais, um grupo de 200 homens da Força Nacional dedicados a combater o desmatamento ilegal na Amazônia. O financiamento do projeto, orçado em R$ 30,6 milhões (US$ 9,8 milhões) será oriundo do Fundo da Amazônia, gerido pelo BNDES. Este será o primeiro projeto do Fundo da Amazônia a ter como objetivo o combate ao desmatamento. Ceticismo no governo Entretanto, outras manobras do governo têm indicado a falta de interesse em atrair o apoio dos movimentos ambientais. A recém-nomeada ministra da Agricultura, Kátia Abreu, é conhecida como “Rainha da Motosserra” – apelido que adora, tendo afirmado diversas vezes que seu papel é garantir que os interesses do pujante setor agrícola brasileiro prevaleçam sobre as questões ambientais e os direitos territoriais dos povos indígenas. Aldo Rebelo, ex-ministro dos Esportes, tornou-se ministro da Ciência e Tecnologia no início do segundo mandato de Dilma Rousseff e segue a mesma linha. De acordo com uma declaração feita por Rebelo há alguns anos, a mudança climática “nada mais é, em sua essência geopolítica, que uma cabeça de ponte do imperialismo”. Mesmo não tendo abandonado o ponto de vista cético, Rebelo disse, em sua cerimônia de posse em janeiro deste ano, que a postura de seu ministério quanto às mudanças climáticas seria pautada pelas posições estabelecidas pelo governo. Pesquisa de opinião Uma nova pesquisa de opinião, publicada em 23 de março, revelou que o atual nível de aprovação da presidente Dilma Rousseff é de apenas 10,8% (com margem de erro de 2,2%). A pesquisa foi realizada entre os dias 16 e 19 de março pela empresa MDA, contratada pela Confederação Nacional do Transporte, entrevistando 2.002 eleitores em 137 municípios de 25 estados. Também de acordo com a amostra da MDA, 68,9% dos entrevistados atribuem a presidente a responsabilidade pelo escândalo de corrupção na Petrobras. Apesar de 90,1% acreditarem que os acusados da investigação Lava Jato sejam culpados e devam ser punidos, 65,7% acham que eles jamais irão para a cadeia. Este artigo foi publicado pela primeira vez na LatinNews