Rajendra Kumar Pachauri, diretor do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), foi obrigado a renunciar ao cargo na terça-feira, após ser acusado de assédio sexual por uma colega de trabalho do Instituto de Energia e Recursos (TERI), think tank sediado em Nova Delhi e também chefiado por ele. Pachauri também pediu afastamento do TERI.
Como resultado de uma medida cautelar emitida por um tribunal de Nova Delhi, Pachauri não poderá ser preso antes de quinta-feira. No entanto, ele precisou se comprometer a permanecer na Índia, impossibilitando-o de presidir a reunião do IPCC que começou em Nairobi, Quênia, na terça-feira. Em poucas horas, Pachauri renunciou à diretoria do Painel.
Seguiu-se a isso, após mais algumas horas, o anúncio de que Pachauri havia se afastado temporariamente do TERI, think tank que ele criou no início da década de 1980 e também havia chefiado desde então. De acordo com a nota oficial, “o TERI anunciou hoje o afastamento temporário do Dr. R. K. Pachauri, Diretor Geral. As devidas providências internas foram tomadas para garantir o bom funcionamento da organização.”
Pachauri, 74, foi acusado por uma pesquisadora associada, que alegou ter sido assediada fisicamente, pelo telefone e via mensagens de texto (SMS) e e-mail, já desde sua contratação pelo think tank no final de 2013. A mulher registrou queixa junto à Polícia de Nova Delhi, em documento de 33 páginas, das quais 31 consistiam de e-mails e mensagens de texto inapropriadas. Pachauri nega as acusações, alegando que seu telefone e computador foram alvo de hackers.
Nas acusações apresentadas no Relatório de Informações Preliminares registrado pela polícia indiana, há graves infrações ao Código Penal da Índia. Após uma recente onda de incidentes, o código recebeu emendas visando expandir a definição de estupro de forma a incluir determinados tipos de perseguição e assédio. Pachauri tem buscado o pagamento de fiança antecipada. Nos últimos dias, ele conseguiu evitar a prisão por meio de duas medidas cautelares emitidas por um tribunal indiano. Durante uma das audiências relacionadas, o advogado da acusação manifestou preocupação de que Pachauri pudesse não retornar à Índia para ser julgado, caso viajasse para Nairobi para presidir a reunião do IPCC. Após a audiência, Pachauri anunciou que não compareceria ao evento no Quênia.
Na terça-feira, ele encaminhou sua carta de demissão ao Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon. No documento, Pachauri diz que “o IPCC necessita de uma liderança forte, com dedicação de tempo e total atenção por parte do Diretor no futuro imediato, coisas que posso não ser capaz de prover sob as circunstâncias atuais, conforme demonstrado pela minha incapacidade de ir a Nairobi e presidir a sessão plenária do Painel nesta semana. Sendo assim, tomei a decisão de renunciar ao cargo de Diretor do IPCC alguns meses antes do término de meu mandato…”
O mandato atual de Pachauri na diretoria do IPCC terminaria em outubro deste ano. Em seu primeiro mandato, o IPCC ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2007, compartilhado com Al Gore, e Pachauri foi quem recebeu o prêmio em nome do Painel. Isto se deu alguns meses após o IPCC ter publicado seu quarto relatório de avaliação sobre a situação das mudanças climáticas, documento que ajudou muito a chamar a atenção mundial para as ameaças geradas pelas alterações no clima. O quinto relatório de avaliação, divulgado em publicações parciais entre o final de 2013 e final de 2014, apresentou muito mais evidências da aceleração das mudanças climáticas, mas também discute o que poderia ser feito para combater a situação.
Visando agir rapidamente para minimizar os danos, a Mesa do IPCC decidiu na terça-feira nomear o vice-diretor da instituição, Ismail El Gizouli, para o cargo de diretor interino. Nesta semana em Nairobi, o IPCC – o maior agrupamento mundial de cientistas do clima e analistas de políticas climáticas, com milhares de membros – está avaliando seus próximos passos.
A reunião do IPCC na terça-feira teve como facilitador Achim Steiner, Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. De acordo com Steiner, “as medidas tomadas hoje garantirão que o IPCC prossiga sem interrupções em sua missão de avaliar as mudanças climáticas”.