Um quarto dos municípios colombianos estão sob domínio dos paramilitares. A informação foi passada em primeira mão ao Diálogo Chino por Leonardo González, coordenador de investigação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (INDEPAZ). A entidade divulga, nos próximos dias, um estudo completo sobre esses “grupos ilegais armados que atuam de acordo com a economia de guerra de cultivo de cocaína, estão envolvidos com o narcotráfico, a mineração ilegal e se apropriam da renda do Estado”, segundo define González.
Embora não sejam os únicos, os paramilitares estão envolvidos na matança das lideranças sociais que trabalham na defesa do meio ambiente, dos indígenas e da terra. Nada menos que 49% das 117 pessoas assassinadas na Colômbia no ano passado trabalhavam nessas áreas, de acordo com dados compilados pelo INDEPAZ. O instituto cruzou números da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Defensoria do Povo e de várias ONGs para obter esse resultado. Os assassinatos continuam sem trégua esse ano.
Ao “eliminar” as lideranças sociais, os grupos responsáveis pelos assassinatos passam a dominar a região e, com isso, terminam interferindo diretamente na política. Esses grupos têm “ligação com a política – onde colocam e tiram prefeitos – para apropriar-se da renda, dos contratos e das terras”, afirma o estudioso. A diferença entre a matança que acontecia nos anos 80 e a de agora é que as vítimas não são lideranças nacionais conhecidas, são líderes regionais. Isto seria feito de propósito: para que o crime não tivesse tanto destaque e, portanto, não pressionasse o governo a investigar.
Obviamente, o governo do presidente Juan Manuel Santos nega. Diz que está investigando os assassinatos, que o número de mortes é de 64, que até já identificou “o avanço de estruturas narcotraficantes do clã do Golfo em zonas pós FARC” e prometeu atuar de maneira “contundente contra este grupo criminoso e contra todo aquele que ponha em perigo a segurança dos colombianos”, segundo nota do ministro do Interior, Juan Fernando Cristo Bustos. “Um único assassinato de líderes sociais ameaça a consolidação da paz territorial”, reconhece o ministro prometendo pressa nas investigações.
FARC e os assassinatos
Com a assinatura do segundo acordo de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), os guerrilheiros estão deixando as áreas que antes ocupavam no interior do país. Com isso, os campesinos estão retornando às terras tomadas pelas FARC. O mesmo estão fazendo grupos que querem ficar com essas terras para usá-las para cultivo lícito ou ilícito, como rota de tráfico de droga ou para ter poder. O compromisso de Restituição de Terra, assinado pelas partes, prevê a devolução de terras e/ou imóveis àqueles que reclamaram formalmente terem tido seu bem confiscado pelas FARC.
“Quando um ator armado como as FARC saem de um território, outras organizações começam a fazer reivindicações de direitos fundamentais e isso incomoda muita gente poderosa da região e reanima o ódio”, acredita González. A ONG Front Line Defenders concorda. “O avanço do processo de paz e o cessar fogo definitivo por parte das FARC, juntamente com o início das conversas sobre paz com o Exército de Libertação Nacional (ELN) aumentou o nível de violência contra os defensores dos direitos humanos”, diz a entidade. De acordo com a Fundación Forjando el Futuro, existem hoje na Colômbia 114 milhões de hectares de terra das quais 65% não são legalizadas. Estaria aí, portanto, a origem da violência.
Um estudo do Inter-American Dialogue demonstra que mais de 144 mil hectares de bosques foram destruídos só em 2015 em terras colombianas. Para evitar conflitos e mais destruição ambiental, o professor responsável pelo trabalho Lorenzo Morales, da Universidad de Los Andes, propõe a melhoria de dados sobre as terras, com a clara delimitação de áreas ambientais e de fronteira agrícola. A recolocação dos chamados deslocados em terras produtivas com acesso a infraestrutura e serviços básicos. Além de recomendar que o governo fortaleça as autoridades locais, os governos indígenas e as instituições ambientalistas.