Justiça

Número de assassinatos de ativistas ambientais bate recorde histórico

Com 60% das mortes, América Latina lidera ranking relacionado ao meio ambiente
<p>Aumenta o número de mortes de pessoas que protegem o meio ambiente (imagem: <a href="https://www.flickr.com/photos/ibamagov/28766173584/in/photolist-KPYad5-9kDXht-hEkkwY-26VwFTg-9Hn6uz-ds7kvs-ih66uF-9kHg8Q-9kE41X-9kEg6M-hEkJ9E-ocae9D-273TWQF-pQnWVF-oa5A44-9kHtqW-o8kQm9-inVcTf-9kE6JM-nSTvxs-27sG5fE-9kDXhc-9kE41T-QRE7fp-9kHtrb-9kE41M-9kHx8m-9kE426-9kE41Z-9kE6JD-9kHtr3-9kHx8q-JUt6q4-FS5ReU-27Ga8it-F5P2w1-XoAGhY-QDcQK3-27Ga82r-Y4qv6w-YpomgJ-Ypon2m-25ew2j4-LXcAao-25evY7T-25ew39k-F7ESzg-25ew3KF-G2W2Si-25ew1bn">Ibama</a>)</p>

Aumenta o número de mortes de pessoas que protegem o meio ambiente (imagem: Ibama)

Pelo menos 200 defensores de causas ambientais e fundiárias foram assassinados em 2016, tornando este o ano mais letal já registrado, de acordo com os últimos dados divulgados pela Organização Não-Governamental (ONG) Global Witness, do Reino Unido.

O mais recente relatório da organização mostra o alastramento de uma “crise” pelo mundo, uma vez que o número de países onde foram registradas mortes subiu de 16 para 24 no ano passado. Um total de 60% das mortes ocorreu na América Latina, o que significa que a região continua sendo a mais perigosa do mundo para quem luta contra a degradação ambiental.

O Brasil, que foi palco de conflitos especialmente sangrentos por terra nos últimos meses, mais uma vez saiu na frente, com o maior número de homicídios registrados: 49 casos. A Nicarágua teve a maior taxa de homicídios per capita: 11 e a Colômbia bateu recorde com 37 mortes em um ano, afirma o relatório.

“Esses relatórios contam uma história muito sombria. A luta para proteger o planeta está intensificando rapidamente e o custo dela pode ser calculado em vidas humanas”, comentou Ben Leather, assessor de campanhas da Global Witness.

Na Ásia, em países como a Índia e as Filipinas, toda resistência contra grandes projetos de mineração tem sido combatida com repressão e violência sancionada pelo estado. Na Índia, o número de assassinatos triplicou e as Filipinas se destacam como o país mais letal da região, com 28 homicídios.

A exploração madeireira e a agricultura, incluindo a pecuária extensiva, também geram muitos conflitos, diz o relatório.

A paz é perigosa para a Colômbia

As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), grupo guerrilheiro colombiano, abandonaram o controle de vastos territórios rurais no ano passado como parte de um histórico processo de paz. No entanto, a decisão trouxe mais desmatamento e degradação ambiental para a região.

Em 2016, o desmatamento na Colômbia aumentou 44% em relação ao ano anterior, atingindo uma área de mais de 1.700 km2 (cerca de 180.000 hectares). As áreas vazias passaram a ser ocupadas por grupos criminosos envolvidos na exploração madeireira e na mineração ilegal, segundo dados recentes divulgados pelo Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais do governo colombiano (IDEAM).

As regiões amazônicas de Putumayo, Caquetá, Meta e Guaviare, no sul da Colômbia, foram as mais afetadas.

“Eles [FARC] não eram ambientalistas, mas regulavam a atividade na região. Como tinham armas, as pessoas respeitavam”, afirmou recentemente a ativista Susana Muhamad para o jornal The Guardian. Sob a vigilância das FARC, o desmatamento causado por civis limitava-se a dois hectares por ano, pois dessa forma o grupo conseguia manter a cobertura florestal que proporcionava proteção contra as forças do governo.

O aumento do desmatamento trouxe o aumento do número de assassinatos de defensores ambientais e da terra na Colômbia.

“O processo de paz na Colômbia alimentou, paradoxalmente, a violência contra aqueles que defendiam suas terras e o meio ambiente contra indústrias destrutivas”, afirma Billy Kyte, líder da campanha pelos defensores dos direitos ambientais e da terra da Global Witness.

Kyte explicou que as comunidades retornam para recuperar as terras perdidas durante o conflito armado, mas agora têm de enfrentar grupos paramilitares, grandes latifundiários e gangues criminosas que buscam lucrar com a abundância de recursos naturais.

“É imperativo que, antes de pensar em promover projetos de desenvolvimento que levam à degradação ambiental, o governo colombiano fortaleça o estado de direito na zona rural e torne as áreas seguras para as comunidades”, complementa Kyte.

Metodologia questionada

No início deste ano, pelo menos um especialista questionou a metodologia utilizada pela Global Witness em um relatório especial que detalhava a situação de Honduras. Foi alegado que o relatório não distinguiu os ambientalistas assassinados das vítimas de conflitos agrários.

“O relatório da ‘Global Witness’ não resiste à análise científica”, disse José Herrero, vice-presidente da fundação de conservação FUCSA, argumentando que a “confusão” que foi feita entre as categorias de vítima no relatório teve como objetivo inflar os números.

Kyte, que sofreu intimidação e foi ameaçado de prisão ao promover o relatório em Tegucigalpa, capital hondurenha, defendeu os métodos de coleta de dados usados pela Global Witness.

“Nós compilamos dados sobre os defensores de causas fundiárias e ambientais – pessoas que defendem a terra ou os direitos ambientais. Nossas definições e critérios para inclusão são e sempre foram muito claros – não registramos apenas os assassinatos de ambientalistas”, disse ele.