Tu Shuiping vive na Argentina há dez anos, desde que a construtora PowerChina chegou ao país, e ele se tornou seu gerente geral. Desde então, a filial local da empresa chinesa se expandiu rapidamente, trabalhando em inúmeros projetos de energia e infraestrutura.
A PowerChina é agora a maior empreiteira de energia renovável da Argentina, com cinco parques eólicos e seis parques solares já construídos, incluindo Cauchari, o maior da América Latina. A empresa tem atualmente 12 projetos em andamento, num total de 1,5 bilhão de dólares.
Em uma entrevista ao Diálogo Chino, Tu Shinping descreveu o interesse da PowerChina na Argentina e as razões por trás de sua expansão. Ele também destacou a crescente ligação entre a China e a Argentina e falou dos projetos atuais da empresa, incluindo uma barragem em Mendoza e um trem em Vaca Muerta.
Diálogo Chino (DC): Quando e como surgiu o interesse na Argentina?
Tu Shuiping (TS). Ele vem de 2011, quando nós da PowerChina estávamos analisando projetos de energia renovável. Nós, então, procuramos nos envolver em outros projetos nos anos seguintes. A Argentina é um dos maiores países da região, e sempre estivemos interessados em trabalhar aqui. Há recursos naturais em abundância e uma território grande e rico. É um país com muitas vantagens comparativas.
DC. Depois de quase dez anos no país, que particularidades a Argentina tem em sua forma de trabalho em comparação com a China?
TS. Você tem que ser paciente na Argentina. Alguns projetos podem ser concluídos rapidamente, mas outros não. Você tem que se comunicar com todos, governos, comunidades e sindicatos.
Não é fácil chegar a um acordo com todos. Você tem que ser paciente e ter uma boa predisposição. A Argentina é muito diferente de outros países.
DC. Como você avalia o contexto econômico atual da Argentina?
TC. Temos que esperar até que a questão da dívida termine. Mas se a economia não crescer mais tarde, vamos entrar numa situação difícil. A Argentina tem que dobrar sua capacidade de exportação. O país precisa de cada vez mais dólares que não tem e acaba usando dinheiro de outros países. A Argentina não pode ser transformada a curto prazo.
DC. Qual é a dificuldade de obter financiamento para projetos na Argentina?
TC. Qualquer negócio lógico ou razoável terá financiamento. A Argentina já esteve em falta várias vezes, e isso torna o financiamento difícil. Mas se o governo resolver a questão da dívida e se conseguir crescer, tem uma grande possibilidade de conseguir mais financiamento novamente. Agora estamos concentrados em trabalhar em projetos razoáveis, caso contrário temos que colocar muitos de nossos próprios recursos.
DC. O que a mudança de governo significou para a empresa?
TC. O novo governo tem uma atitude pragmática. Não se trata de coisas no ar. Tem mais paciência. Eles conhecem os problemas da Argentina e como as pessoas pensam. Eles são pessoas com diferentes histórias de vida. Se um governo tem funcionários que nasceram com dinheiro com acesso à melhor educação, ele não entende como as pessoas pensam.
O projeto era um sonho que se tornou realidade. Está a uma altitude de 4 mil metros em uma área onde não há praticamente nada
DC. Como você caracteriza a relação entre a China e a Argentina?
TC. São parceiros naturais. A Argentina tem capacidade agrícola e potencial que a China precisa, enquanto a China tem capacidade industrial e de infraestrutura que a Argentina não tem. Se os dois países se unirem, o benefício é mútuo.
DC. A PowerChina é a maior empreiteira de energia renovável da Argentina. Como vocês chegaram a ter tantos projetos?
TC. Temos a capacidade de trabalhar em todos os tipos de projetos de energia e infraestrutura, não apenas em energias renováveis. Mas esse é o setor onde tem havido mais investimentos nos últimos anos. As empresas locais não têm tanta vantagem em energias renováveis, portanto, estamos em vantagem. Era o planejamento estratégico dos negócios.
DC. Você esteve envolvido na construção de Cauchari, o maior parque de energia solar da América Latina, no norte da Argentina. Existe a possibilidade de expandir ainda mais o projeto?
TC. O projeto era um sonho que se tornou realidade. Está a uma altitude de 4 mil metros em uma área onde não há praticamente nada. Agora temos um plano para expandir o parque solar em 200MW, mas estamos aguardando a ordem do governo nacional. Depende de seu interesse.
DC. A PowerChina pretende construir a barragem de Portezuelo em Mendoza. Mas o projeto está cercado de perguntas das comunidades sobre os impactos locais. É viável avançar nessas condições?
TC. Apresentamos uma proposta técnica, e ela está avançando. Espero que possa ser realizado. O estudo de impacto ambiental mostra que os recursos hídricos não serão afetados. Temos que negociar com as províncias que se opõem e chegar a um acordo. Tudo depende disso. Tecnicamente, é um bom projeto.
DC. O interesse da PowerChina em construir um trem em Vaca Muerta também foi mencionado. Como seria este projeto?
TC. Estamos interessados, mas temos que procurar financiamento. Custaria entre 1,2 e 1,5 milhões de dólares. Permitiria o transporte eficiente de Vaca Muerta até o porto de Bahía Blanca. Temos que fazer isso o mais rápido possível. Agora estamos trabalhando na parte técnica e se o projeto funcionar, o financiamento será buscado na China ou em bancos multilaterais.
DC. Em que outros setores você gostaria de avançar no futuro?
TC. Como empresa, temos capacidade para muitas coisas. Seguimos sempre a estratégia e o planejamento do país, não escolhemos projetos específicos. É assim que conseguimos crescer. Nós não colocamos nada como prioridade. Se a Argentina quer ferrovias, nós vamos lá, por exemplo. Mantemos nossa própria pequena equipe para o desenvolvimento comercial e quando temos um projeto, trabalhamos com parceiros locais.