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Opinião: Setor financeiro deve trabalhar para conter desmatamento do Gran Chaco

Novo relatório cobra atenção de traders que controlam 89% das exportações de soja do bioma. Financiadores podem desempenhar papel relevante contra perda florestal
<p>Desmatamento no Gran Chaco perto de Mariscal Estigarribia, Paraguai. Cerca de 25% do bioma já foi desmatado desde 1985. (Imagem: Michael Edwards / Alamy)</p>

Desmatamento no Gran Chaco perto de Mariscal Estigarribia, Paraguai. Cerca de 25% do bioma já foi desmatado desde 1985. (Imagem: Michael Edwards / Alamy)

A região do Gran Chaco, maior floresta seca da América do Sul, tem taxas alarmantes de desmatamento. Isso se dá em um contexto de crescente demanda global por soja, proteção legal inadequada e pouco avanço no controle do risco de desmatamento da cadeia de produção. Ela também tem recebido pouca atenção de atores corporativos e investidores.

Mas ainda há uma chance de reverter os danos causados ao bioma. Se os investidores e os principais atores da região trabalharem em conjunto, é possível evitar perdas irreversíveis ao ecossistema e salvar do colapso a indústria da soja no Gran Chaco.

Gran Chaco: sofrendo em silêncio

O Gran Chaco vem se tornando a maior fronteira de desmatamento da América do Sul. Como o bioma cobre uma área equivalente a quase 25% do território da União Europeia, não é algo irrelevante. O Chaco, que se estende do sul da Bolívia ao oeste do Paraguai, ao norte da Argentina e ao sul do Brasil, tem cerca de um quarto de sua área desmatada para a agricultura desde 1985.

Vista aérea de uma floresta verde com um rio no meio.
Saiba mais: Desmatamento no Chaco: uma bomba de carbono ignorada

Mas apesar disso, a destruição ocorrida no Gran Chaco não recebe a atenção que outros biomas como a Amazônia ou o Cerrado atraem, tanto por parte de atores corporativos quanto por seus investidores. Nem as áreas argentinas e paraguaias do Gran Chaco estão adequadamente protegidas do desmatamento gerado pela produção de commodities leves.

Se as tendências atuais persistirem, outros quatro milhões de hectares de floresta poderão ser perdidos até 2028, emitindo 277,2 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.

A intensificação da produção da soja tem um efeito devastador sobre o meio ambiente local, e o alto risco de mudanças climáticas regionais não podem ser mais ignoradas.

A ‘Dúzia do Desmatamento’

Investidores têm um papel fundamental a desempenhar — não apenas em seu dever de proteger esse ecossistema vital, mas também em garantir retorno financeiro e em evitar que seus investimentos colapsem.

Entretanto, a responsabilidade não recai apenas sobre eles. Seus esforços devem ser correspondidos pelas maiores traders de commodities do Gran Chaco, responsáveis por boa parte das exportações da região.

De fato, as 12 maiores traders de soja, a “Dúzia do Desmatamento”, como o recente relatório do Planet Tracker as denomina, são responsáveis por 89% das exportações de soja do Gran Chaco — e ainda assim, elas falham em evitar o desmatamento na região.

Algumas delas, incluindo Archer Daniels Midland, Viterra e Cargill, são membros de iniciativas como o Fórum de Commodities Leves, que visa promover uma cadeia de fornecimento de soja sem conversão florestal. O problema é que o fórum ainda não inclui o Gran Chaco.

Atuação contra desmatamento

Uma avaliação recente feita pela organização WWF avaliou a atuação das principais traders de soja no combate ao desmatamento. As 12 traders ligadas ao Gran Chaco foram classificadas a partir de cinco áreas: estabelecimento e fortalecimento de metas; implementação de cadeias de produção éticas; registro de progresso; aumento da transparência; e colaboração para a mudança.

3%


Menos de 3% da soja produzida na Argentina em 2020 foi certificada pela Round Table on Responsible Soy Association

Surpreendentemente, apenas uma pontuou acima de 50% — e metade das empresas ficou abaixo de 10%. O desempenho foi particularmente fraco nas seções de transparência, com pouco ou nenhum investimento em certificação e rastreabilidade.

Os números de certificação são particularmente preocupantes. A Round Table on Responsible Soy Association (RTRS) certificou menos de 3% da produção total de soja na Argentina, Brasil e Paraguai em 2020 — o que significa que menos de 3% da soja produzida nesse ano foi chancelada como livre de desmatamento.

Se nada mudar, as traders que exportam para a União Europeia podem colocar seus negócios em risco, visto que reguladores europeus têm sinalizado com novas normas para proibir a importação de soja, entre outras commodities, ligada ao desmatamento.

A regulamentação proposta impõe obrigações como due diligence aos importadores, visando a aumentar a rastreabilidade da cadeia. A menos que as traders de soja no Gran Chaco consigam demonstrar que não têm desmatamento associado a seus produtos, esse novo cenário regulatório será um verdadeiro desafio.

Oportunidade de mudança

Atualmente, dos 20 maiores investidores em ações e financiadores de dívidas das traders  que operam no Gran Chaco, apenas um reconhece explicitamente o bioma como de alto risco de desmatamento. Nenhum deles assumiu compromissos de proteção do ecossistema. Isso significa que empresas que buscam financiamento não enfrentam os mesmos controles que em outros biomas.

vista aérea de um barco em um rio cercado por vegetação
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Entretanto, isso representa uma oportunidade única para empresas e investidores implementarem políticas eficazes e lidarem com o desmatamento antes que o bioma sofra danos irreparáveis.

Financiadores e investidores devem desempenhar um papel crucial ao assegurar que as atividades de financiamento estejam vinculadas à adoção e implementação de compromissos e políticas abrangentes para conter o desmatamento por parte das traders.

Eles também devem se engajar ativamente e apoiar iniciativas como o IFACC, uma linha de financiamento para Amazônia, Cerrado e Chaco. Assim, poderão evitar o financiamento de atividades ligadas ao desmatamento do bioma. Também podem exigir que as traders divulguem a localização dos silos de soja e das fazendas de origem de suas cadeias de fornecimento. Isso ajudará na rastreabilidade como condição de financiamento e exigirá que empresas somente comprem soja certificada pela RTRS.