“A Bíblia diz que Deus criou o mundo ao separar a terra seca das águas. Se foi assim mesmo, Ele se esqueceu das terras alagadas.”
O termo “áreas alagadas” pode nos remeter à imagem de algum brejo desolado onde vivem apenas alguns poucos pássaros, sempre prontos para ir embora assim que o clima se mostrar mais propício. Mas, na verdade, as áreas alagadas – áreas permanente ou periodicamente inundadas por água – abrangem uma grande e rica variedade de ecossistemas, incluindo praias de areia, recifes de coral, nascentes de água doce e prados alpinos.
Muitas das antigas civilizações humanas mais fascinantes – Mesopotâmia, antigo Egito e Angkor – floresceram ao lado de terras alagadas férteis. Além da abundância de alimentos, essas áreas alagadas forneciam uma espécie de proteção contra condições meteorológicas extremas, como enchentes e marés de tempestade. Os pesquisadores revelaram que, nessas regiões, existem sumidouros de carbono muito mais profundos do que as suas superfícies líquidas sugerem. Os ecossistemas costeiros, por exemplo, sequestram o dióxido de carbono muito mais rápido do que as florestas tropicais maduras.
O livro Water Lands faz uma belíssima apresentação visual e escrita da história e do possível futuro de 27 das áreas alagadas mais fantásticas do mundo – espaços liminares e encharcados onde a água e a terra são elementos que nunca se distinguem completamente um do outro.
O livro registra uma série de erros de gestão que levaram à destruição dessas áreas, como o escoamento e o represamento. Aprendemos, por exemplo, que, por mais que presidente Donald Trump adore dizer que o governo federal americano é um “pântano” que precisava ser drenado, o governo de fato foi responsável pelos Estados Unidos terem perdido mais da metade das suas áreas alagadas entre 1780 e 1980. A planície aluvial do Mississípi, por exemplo, foi erradicada, o que contribuiu com rompimentos periódicos de todos os diques que foram projetados para o rio.
O livro contém muitas histórias de pessoas vivendo produtiva e harmonicamente em meio às terras alagadas. Ele também menciona o recente aumento da conscientização sobre a importância desses ecossistemas e dos esforços conjuntos que vêm sendo mobilizados para a preservação e a restauração deles. Um dos estudos de caso mais interessantes é o do Zoigê, uma área alagada que fica nos limites do planalto do Tibete, onde um programa de recuperação contribuiu com o ressurgimento de vários pássaros, incluindo a grua do pescoço negro.
Abaixo, apresentamos uma seleção de imagens do Water Lands, de autoria de Fred Pearce e Jane Madgwick, CEO da Wetlands International, e publicado pela HarperCollins em 2 de fevereiro de 2020.