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República Dominicana e China anunciam benefícios de nova aliança

Expectativas sobre projetos e investimentos aumentam sob o olhar desconfiado de Washington
<p>República Dominicana planeja projetos para se conectar com o país vizinho, Haití Imagem <a href="https://www.flickr.com/photos/mellagi/13103956223/in/photolist-cE25xJ-dShTjo-dScnZi-cE2bbS-dShBSf-dScg3k-cE24Nu-6hwL7v-6hzPRE-6hwL7K-6hzPRN-6hvxLR-6hzPRb-6hvUVn-6hvUVa-aUpXEX-aUpVUn-aUpX8R-aUpZ1e-6hwb1t-6hAeaw-6hAadm-6hAp2Y-6hAad7-6hAp3f-7dnQcg-6hAp2N-m5zB42-5eHqzV-4XKg1P-4XPAH7-4XxSMP-4XwXwk-kXXgBT-kXTxX6-kXXqdF-kXXcDH-kXWLWi-kXYbM1-kXYb8f-kXYXvR-kY1itJ-kXZjrr-4XB3Hb-4XBwej-4XBso1-4Xx6fn-4Xx7CZ-dmFj9T-4XB1QJ">André Mellagi</a></p>
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República Dominicana planeja projetos para se conectar com o país vizinho, Haití Imagem André Mellagi



 

Mais de oito meses depois de romper relações diplomáticas com Taiwan e estabelecer um novo vínculo com a China, a República Dominicana já começa a anunciar os benefícios de sua nova parceria.

Os dois países concretizaram seu recente laço por meio de 18 novos acordos de cooperação, entre os quais figuram as áreas de agricultura, cultura e turismo, segundo o jornal dominicano Listín Diario. O valor do investimento chinês alcançaria 10 bilhões de dólares nos próximos anos, de acordo com Luis González, diretor da área de Ásia e Oceania no Ministério de Relações Exteriores.

Em sua primeira visita à China, a única feita por um líder dominicano ao país, o presidente Danilo Medina disse que espera que essa nova relação seja “de muito proveito tanto para a China quanto para a República Dominicana”.

Iván Gatón, especialista em relações internacionais da Universidad Autónoma de Santo Domingo e do Instituto de Formação Diplomática e Consular do governo dominicano, explicou que este vínculo vinha se formando há anos.

“Desde o governo do presidente Fernández (2008-2012), vinha-se fazendo contatos para estabelecer relações com a China”, declarou. “Era esperado que isso acontecesse”.

Na última década, a China começou a estabelecer contatos com os países da região com os quais não tinha relações diplomáticas: primeiro com a Costa Rica, em 2007, depois com o Panamá, em junho de 2017, e por último com El Salvador, em agosto do ano passado. Essas ações imediatamente se converteram em maiores comércio e investimento, promoção do ensino do mandarim e bolsas de estudo para intercâmbio, entre outros acordos. A República Dominicana não seria exceção.

Os benefícios

Ainda é cedo para definir com certeza quais serão os setores que receberão injeções de dinheiro asiático, no entanto já se vislumbra um forte foco nas zonas francas, energia, turismo, moradia e infraestrutura.

“Se a República Dominicana vislumbrar e construir uma estratégia para tornar mais robustas suas relações internacionais em nível geral sobre os ombros deste gigante que é a China, os resultados podem ser promissores em um futuro próximo”, declarou o advogado Robert Takata, da Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociais (FLACSO), especialista em relações internacionais.

Na ilha existe a expectativa de que ser sócio da China trará bons frutos econômicos. Há apenas algumas semanas, a China autorizou a entrada do rum dominicano a um mercado de 1,3 bilhão de potenciais consumidores, e se espera que também abra portas para a manga, o abacate e o café, os primeiros produtos dominicanos comercializados desde o início das relações. Sobre o assunto, o líder dominicano expressou, em novembro do ano passado, que “é nosso interesse aumentar as exportações dominicanas para o mercado chinês, que está entre os maiores e mais dinâmicos do mundo”.

Também está em vista a construção de uma ferrovia internacional que conecte Haiti e o país vizinho em diversos pontos, uma nova barragem na província de Monseñor Nouel, a modernização do porto de Arroyo Barril, novos sistemas de águas negras e residuais em várias províncias do norte, um aqueduto em Cotuí e a barragem dos rios Boba-Baquí. Estes são alguns dos projetos já mencionados pela Corporação Estatal do Estado da China por meio do Conselho Regional de Desenvolvimento da República Dominicana (CRD).

O vínculo estabelecido com o governo chinês ainda deu o impulso final ao presidente Danilo Medina para conseguir o almejado posto, não permanente, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, assumido pelos dominicanos no último 1o de janeiro. O país concorrera sem sucesso à vaga em duas ocasiões anteriores, 2002 e 2007. Sobre o tema, Miguel Vargas, ministro das Relações Exteriores do país caribenho, declarou: “sem dúvidas que essa vaga será um grande passo para a República Dominicana, porque apresentam-se grandes oportunidades, e o país irá adquirir uma grande visibilidade e influência a nível mundial ocupando tal posição”.

Presidente Danilo Medina e seu homólogo chinês, Xi Jinping, realizam reunião de trabalho (Imagen: Flickr)

Por parte da China, a medida reduziu ainda mais a lista de países que reconhecem Taiwan como nação independente e já acarretou em maiores importações de matérias-primas. Também se espera um aumento das 6,4 bilhões de dólares, segundo o Centro de Exportações e Investimentos da República Dominicana.

No entanto, existem aspectos negativos na nova aliança. Não é pouco para a República Dominicana pôr fim a mais de 70 anos de cooperação internacional com Taiwan, da qual recebeu múltiplos benéficos, muitos deles por meio de projetos de cooperação.

Um comunicado emitido por autoridades taiwanesas e reproduzido em jornais dominicanos em maio do ano passado elenca uma série de projetos entre os dois países. Os casos exitosos incluem esforços para aumentar a produção de arroz, construir o Vale do Silício do Caribe, o Parque Cibernético de Santo Domingo, e um centro de chamadas de emergência para melhorar a segurança e aumentar o turismo. Recentemente, Taiwan também construiu um novo centro de assistência para crianças com deficiência.

Segundo o jornal dominicano Hoy, há ainda um convênio para impulsionar o desenvolvimento do setor de micro, pequenas e médias empresas (Mipymes) na República Dominicana, que compreendia em um investimento de 3 milhões de dólares de Taiwan. Seu futuro é incerto.

Inclusive, em janeiro de 2018, o cônsul e encarregado das Comunicações da Embaixada de Taiwan em solo dominicano, Óscar Liand, assegurava ao jornal Hoy que seu país tinha o maior investimento no Caribe, que chegava a 165 milhões de dólares.

A resposta dos Estados Unidos

Interromper as relações com Taiwan gerou desconfiança em Washington, que já demonstrou seu incômodo, chamando de volta seu embaixador. O mesmo ocorreu em El Salvador e no Panamá depois de autoridades deixarem de reconhecer Taiwan. Segundo estipula o comunidade oficial da embaixada dos Estados Unidos no Panamá, o objetivo é “analisar as formas pelas quais os Estados Unidos podem apoiar instituições e economias fortes, independentes e democráticas em toda a América Central”.

E, ao que parece, as consequências e sanções por parte do governo Trump não demorariam. O jornal McClatchy informou no último 9 de janeiro que funcionários federais estudam o acordo DR-CAFTA (Dominican Republic – Central America Free Trade Agreement, ou Tratado de Livre Comércio entre República Dominicana, América Central e Estados Unidos), para bloquear o acesso preferencial da República Dominicana ao mercado norte-americano. O movimento ocorrey depois de “questionáveis vínculos com a China”, segundo teria declarado um oficial de forma anônima.

Ainda que a informação tenha sido reproduzida por diversos jornais do norte e caribenhos, não houve confirmação oficial por parte da Casa Branca. Apesar disso, os alertas já foram ligados, e isso significaria que o preço seria pagar tarifas mais altas que as vigentes no momento. As mesmas fontes asseguram que El Salvador e a Nicarágua correriam o mesmo risco, o primeiro por deixar de reconhecer Taiwan, e o segundo pela delicada situação que vive o país, a qual o mantém alheio a processos democráticos.

“A princípio, é normal que esse tipo de decisão, por mais delicada que tenha sida sua adoção, produza certa desconfiança e incômodo na epiderme política de aliados tradicionais, cujos interesses não necessariamente estão em harmonia com os da China”, explicou Takata.

O especialista em geopolítica, por sua vez, esclarece que conflitos desse tipo são “uma realidade, e evidentemente o que sempre haverá são atritos, e esses atritos nas relações internacionais são impossíveis de evitar. Assim, acredito que a diplomacia dominicana deve operar ‘pisando em ovos’”, adverte.

São semanas de espera para a nação caribenha. É certo que, diante do olhar suspeito ou não dos Estados Unidos, a China e a República Dominicana seguem avançando em suas novas relações diplomáticas, que buscam concretizar-se com novas e milionárias iniciativas.