No ano passado, a empresa de plásticos Fuling Global Inc. anunciou seus planos de mudar suas operações da China para México, investindo 2 milhões de dólares em uma nova instalação em Monterrey. A empresa começou a produzir canudos e copos de papel para o mercado dos Estados Unidos em 2019.
“As contínuas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China geram incertezas para nossas exportações para o mercado dos EUA, nosso maior segmento”, alertou no ano passado Guilan Jiang, presidente da Fuling Global, em um comunicado de imprensa.
“A fábrica do México oferece certos benefícios atraentes para nós, incluindo a tarifa zero no comércio entre os Estados Unidos e o México, além de baixos custos de mão-de-obra e transporte”, acrescentou.
Segundo as estatísticas da ONU, as exportações do México aumentaram em 3,5 bilhões de dólares desde o início da guerra comercial em 2018, principalmente nos setores agroalimentar, de transporte e de maquinaria elétrica.
Em 13 de dezembro de 2019, o presidente americano, Donald Trump, confirmou que havia alcançado um acordo preliminar com a China que, se assinado, proporcionaria maiores proteções às empresas americanas que operam na China. Também disse que reduziria algumas tarifas dos EUA e cancelaria as planejadas.
A fábrica do México oferece certos benefícios atraentes para nós, incluindo a tarifa zero no comércio entre os Estados Unidos e o México, além de baixos custos de mão-de-obra e transporte
No entanto, economistas dizem que os problemas estão longe de terminar, já que as tarifas continuarão durante anos e continuarão a gerar incerteza e a reduzir o investimento, informou a Bloomberg.
Especialistas dizem que o México já ganhou espaço nas exportações, mas um relatório da ONU atribui especificamente esse aumento à guerra comercial. Inúmeros artigos, enquanto isso, apontam o México como um claro “beneficiário” da disputa.
Há dois anos e com os aumentos dos custos, as empresas americanas que operam na China começaram a se mudar para o norte do México; e, mais recentemente, as empresas chinesas também começaram a se mudar para lá, disse Adriana Eguia, ex-CEO da Corporación de Desarrollo Económico de Tijuana (Corporação de Desenvolvimento Econômico de Tijuana).
Uma força de trabalho ampla e de baixo custo, o acordo de livre comércio e a proximidade com os Estados Unidos tornam as cidades do norte do México atraentes para pequenas e médias empresas.
A guerra comercial e o México: o que realmente está acontecendo?
Em julho de 2018, o governo Trump anunciou um imposto de 25% sobre mais de 200 produtos importados da China, incluindo partes de aviões e de automóveis, produtos eletrônicos, frutos do mar e dispositivos médicos. Outra rodada de aumentos de tarifas em setembro de 2019 adicionou impostos a roupas, sapatos e fraldas, entre outros.
“É muito difícil para uma empresa ser competitiva se tiver que pagar uma tarifa de 25% para exportar para os Estados Unidos, por isso faz sentido optar por se mudar para outro lugar”, disse Alessandro Nicito, economista da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
Muitas empresas começaram a levar a produção para fora da China. “Se uma empresa perceber que a tarifa é permanente, ela vai se mudar. Se acham que é temporária, simplesmente absorverão o custo da tarifa “, disse Nicito.
Muitas empresas decidiram mudar as suas fábricas para países vizinhos do sudeste da Ásia, como Vietnã, Taiwan e Coreia do Sul. Outras escolheram o México devido à proximidade com os EUA e aos impostos baixos.
Houve neste período um decréscimo no investimento na indústria manufatureira e isso prejudicou o crescimento global de todos, inclusive do México.
“Isso está criando um espaço de oportunidade para os proprietários de empresas mexicanas”, disse Xavier Rivas, vice-presidente da Pimsa, um grupo de desenvolvedores industriais nos estados fronteiriços do norte do México.
“É uma vantagem econômica para a área, porque haverá investimento, emprego e o mercado crescerá”, acrescentou Victor H. Delgado , que trabalha há 35 anos na indústria de exportação de Mexicali.
Uma vez que uma empresa decide se mudar para o México ou para outro país devido às tarifas, é improvável que venha a reverter sua decisão.
É uma vantagem econômica para a área, porque haverá investimento, emprego e o mercado crescerá
Os inconvenientes
Olhando apenas para os números, o México parece ser o beneficiário da guerra comercial. Mas economistas alertam que o quadro geral pode trazer problemas para o país a longo prazo.
As decisões de Trump geraram uma incerteza na economia global que poderia anular o ligeiro aumento nas exportações mexicanas. O aumento de 3,5 bilhões de dólares nas exportações representa menos de 1% dos 450 bilhões de dólares exportados pelo México em 2018.
Além disso, a guerra comercial entre Estados Unidos e China é um dos muitos exemplos em que Trump usa a política comercial como moeda para exercer pressão em outras áreas da política externa. Em junho deste ano, ele ameaçou aumentar as tarifas para pressionar o México a cooperar na aplicação da lei de imigração.
“Essa lógica de usar a política comercial como arma para motivações não econômicas é uma má notícia”, disse o economista Otaviano Canuto, ex-funcionário do Banco Mundial.
Essa abordagem da política comercial contribui para a volatilidade nos mercados mundiais. A incerteza geralmente significa uma diminuição nos investimentos, principalmente na manufatura, explicou Canuto.
“Houve uma diminuição nos investimentos na indústria manufatureira e isso prejudicou o crescimento global de todos, inclusive do México”, disse Canuto.
Alguns desconfiam que as empresas chinesas se aproveitam do México.
“Temos que ter muito cuidado com isso e nos certificar que não usem o México apenas como uma plataforma para exportar para os Estados Unidos”, disse Rivas. “Essas fábricas devem contribuir para as economias locais e contratar trabalhadores locais para que o México tire o maior proveito que puder disso”.
E agora?
O México também enfrenta incertezas. Na quinta-feira, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o novo acordo entre os Estados Unidos, México e Canadá (USMCA), o substituto do Nafta, que agora deve ir ao Senado, onde se espera que seja aprovado.
O USMCA mantém muitas das mesmas cláusulas do Nafta, mas tem leis mais rígidas em termos de proteção ambiental e trabalhista, o que significa que, caso aprovado, o México precisaria implementar salários mais altos para vender carros ao mercado americano.