Negócios

Sinopec e Petrobras: mais do que o petróleo em comum

Duas maiores petroleiras do mundo envolvidas em corrupção

Com contratos que somam US$ 7 bilhões, as duas maiores petroleiras do mundo – a brasileira Petrobras e a chinesa Sinopec – estão envolvidas em grandes escândalos de corrupção. No caso da Petrobras, o superfaturamento dos contratos para posterior desvio do dinheiro, que abastecia partidos políticos e políticos da base do governo, ameaça de impeachment a presidente petista Dilma Rousseff. No caso da Sinopec, um de seus principais executivos foi demitido e está sendo investigado pelo governo chinês acusado de corrupção. Apesar de ser o centro do maior escândalo de corrupção da história recente do Brasil, a Petrobras foi agraciada com um financiamento chinês de R$ 7 bilhões após as denúncias serem públicas e estarem em pleno andamento. O Banco de Desenvolvimento da China emprestou US$ 5 bilhões dos quais US$ 3,5 bilhões já foram desembolsados e o restante foi assinado em durante a visita ao Brasil do Primeiro Ministro da China, Li Keqiang, O pagamento seria feito com petróleo. O outro acordo, no valor de US$ 2 bilhões, foi assinado com o China EximBank (Cexim). No Brasil, a notícia não teve muito destaque, mas a prisão do vice-presidente da Sinopec na China pode elevar a já alta temperatura política e corporativa sobre a Petrobras. Wang Tianpu foi afastado por um órgão do governo chinês sob a suspeita de “séria violação de normas legais e disciplinares“. “É difícil para nós saber qual a racionalidade por trás da decisão da China de manter a linha de crédito”, disse o diretor regional para as Américas da Transparência Internacional, Alejandro Salas. Por outro lado, pontua, enquanto as garantias continuarem válidas, em termos financeiros, é razoável que qualquer instituição, neste caso a China, adote precauções e exija que a Petrobras assegure que os recursos sejam gastos de forma adequada. Corrupção chinesa O portal de notícias chinês Caixin publicou que Wang, na presidência da estatal desde 2011, abusou do poder para dar contratos da Sinopec a familiares e amigos, além de possíveis trocas de favores com Zhou Bin, filho do ex ministro da Segurança Pública chinesa, Zhou Yongkang. A investigação sobre Wang é parte de uma campanha anticorrupção promovida pelas autoridades chinesas no setor da energia. Em paralelo, no Brasil, a Petrobras é o centro das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público pela existência de um esquema de corrupção e formação de cartel por empresas de construção civil. Em linhas gerais, projetos foram superfaturados em licitações e propinas eram repassadas para políticos do governo – inclusive sob a fachada legal de doações de campanha, segundo as investigações. “A Petrobras foi vítima de tudo isso pelo que ela passou. Somando-me aos 86 mil empregados do sistema Petrobras, sim, a gente está com o sentimento até de vergonha disso que a gente vivenciou, desses malfeitos que ocorreram”, desculpou-se Aldemar Bendine, presidente da Petrobras. Mais de 20 empresas foram citadas, entre as quais Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Odebrecht – as quatro maiores companhias de engenharia do país. Dezenas de executivos foram detidos, a maioria fez acordo de delação premiada – em que o réu confessa o crime, fornece provas, devolve dinheiro roubado em troca de redução de pena e foram soltos para responder ao processo em liberdade, mas com uso de tornozeleira eletrônica e obrigados a se apresentar ao juiz do processo a cada 15 dias. Corrupção respinga na Sinopec Com as investigações, a Petrobras suspendeu todos os contratos com as empresas envolvidas e novos negócios até a conclusão do processo. O resultado, indiretamente, acabou respingando na Sinopec, que constrói em parceria com a Galvão Engenharia uma unidade de fertilizantes nitrogenados, em Mato Grosso do Sul. As duas empresas formaram consórcio EPC, (responsável pela fornecimento da engenharia, suprimentos e construção), mas a Galvão Engenharia é uma das envolvidas no caso, conhecido no país por Operação Lava Jato, nome da operação policial que prendeu vários executivos, inclusive os da parceira da Sinopec. Com mais de 80% das obras concluídas, a unidade tem planos de produzir anualmente 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil toneladas de amônia, com investimento estimado em R$ 3,1 bilhões. Os pagamentos foram suspensos pelo consórcio – que pararam de pagar fornecedores e reduziram o ritmo das obras, agora paradas. Em janeiro, a imprensa noticiou a intenção de realizar nova licitação para a empresa que acabará a construção. No fim de março, a Galvão Engenharia pediu recuperação judicial. Por sinal, relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), órgão de controle e fiscalização das contas do governo federal, apontou sobre preço de 1.800% em um dos trechos do Gasoduto Sudeste – Nordeste, conhecido pela sigla, Gasene – dois trechos desse projeto foram os primeiros da Sinopec no Brasil. Salas avalia que uma eventual aproximação da Sinopec com a Petrobras não implicará necessariamente em danos à imagem da petroleira chinesa. “Tudo isso depende de como será gerenciado o relacionamento entre as companhias de petróleo”, afirma Salas. Segundo ele, se um agente fecha acordos com a Petrobras ao mesmo tempo que promove uma agenda transparente, com todas as informações disponibilizadas publicamente, com regras claras, essa associação não será problemática. Ele não considera que a Petrobras tenha se tornado “tóxica” após as denúncias de corrupção. “O fato de a Petrobras ter fechado vários acordos contra corrupção não significa que a companhia não deva existir e continuar a ser um sólido pilar para o desenvolvimento do país”, ressaltou Salas, acrescentando que não há problemas em conceder crédito à Petrobras. O problema é a falta de transparência, salienta. Para Salas, o governo brasileiro e a Petrobras têm a “oportunidade histórica de fazer as coisas certas”. Força crescente A estatal chinesa está no Brasil desde 2005, mas acelerou no país em novembro de 2010, ao comprar 40% dos ativos brasileiros da petroleira espanhola Repsol por US$ 7,1 bilhões. No mês seguinte, fechou a aquisição de ativos argentinos da Occidental Petroleum, quando entrou naquele país. Um ano depois da aquisição brasileira, a Sinopec voltou ao Brasil, para comprar 30% de ativos da portuguesa Galp, por US$ 5,2 bilhões, com o objetivo de elevar a produção de petróleo para atender a até então crescente demanda pelo país asiático. No caso da Sinopec, além do escândalo, os problemas são outros: os resultados do primeiro trimestre mostram que a estatal chinesa apresentou queda de 85% no lucro, para US$ 350,06 milhões, motivada pela queda abrupta dos preços internacionais e seu reflexo na área de exploração e produção, além de baixas contábeis no refino. Na América Latina, há uma associação entre a China e a PDVSA cujos recursos não aparecem nas contas nem passa pelo Ministério das Finanças do país sul-americano. “Neste caso, se for assim, é um dos mais altos riscos para a corrupção”, afirma Salas. Na visão do especialista, fundos não contabilizados podem ser usados em outras práticas igualmente irregulares, como compra de votos, influência de resultados políticos em outros países e financiamento de campanhas.

Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.

Strictly Necessary Cookies

Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.

Analytics

This website uses Google Analytics to collect anonymous information such as the number of visitors to the site, and the most popular pages.

Keeping this cookie enabled helps us to improve our website.

Marketing

This website uses the following additional cookies:

(List the cookies that you are using on the website here.)