A Zacua, primeira marca de carros elétricos do México, foi fundada em 2017 — ou 20 anos após a ideia ter surgido na mente de Jorge Martínez, seu fundador. Como diretor de uma das maiores empresas de estacionamento de carros do país, Martínez sabia em primeira mão quantos veículos a gasolina circulavam nas ruas mexicanas e entendeu que o mundo do automobilismo precisava mudar.
Martínez foi quem teve a visão de construir o primeiro veículo elétrico no país latino-americano. Para esse feito, uniu esforços com engenheiros eletricistas e mecânicos para fundar a Zacua, nome que deriva do pássaro favorito de Moctezuma II, imperador asteca do século 16. Em 2018, a Zacua inaugurou sua primeira fábrica, no estado de Puebla, e entregou seus primeiros veículos de teste.
No México, entretanto, Zacua construiu uma comunidade de clientes que apoiou o projeto a cada passo, ajudando a melhorar seus veículos.
Atualmente a Zacua tem dois modelos na linha de produção — MX2 e MX3 — com valor a partir de 599 mil pesos mexicanos (R$ 155 mil). A empresa também oferece subsídios equivalentes a R$ 13 mil para seus clientes cobrirem parte do valor.
Seus carros compactos são apresentados como veículos urbanos, com um alcance de 160 km e baterias capazes de três mil ciclos de carga completa, o que se traduz em uma vida útil estimada de oito anos.
Além do México, fabricantes na Bolívia, Brasil e Argentina também começaram a desenvolver seus próprios veículos elétricos. Contudo, o alto preço dos carros elétricos ainda é uma barreira para a maioria dos consumidores latino-americanos — e para seus fabricantes locais, muitos dos quais têm visto até agora mais perdas do que ganhos.
A Zacua, no entanto, teve recepção positiva. No início de 2022, o secretário de Relações Exteriores do país, Marcelo Ebrard, foi a uma fábrica da Zacua para o lançamento do Grupo de Estudos de Veículos Elétricos México-Estados Unidos na Califórnia, em uma demonstração de apoio à marca mexicana. Com o interesse na empresa aumentando, o Diálogo Chino conversou com Nazareth Black, CEO da Zacua, para saber mais sobre as origens e planos para o futuro da automobilística.
Diálogo Chino: O que é a Zacua para você?
Nazareth Black: Mais do que uma marca, a Zacua é um estado de espírito: todos nós precisamos viajar, mas quando você entra em um Zacua, você entra em um estado de espírito diferente porque você entende que “está viajando e não está mais poluindo”. O objetivo é reduzir o impacto ambiental e deixar um mundo melhor para as gerações futuras. Mas nós, como espécie, estamos nos matando com os carros que escolhemos usar: escolhemos a arma que está nos matando.
Todas as ações que podemos, estamos tomando para aumentar nossas chances de sobrevivência e das gerações que virão. Zacua também é o nome de uma ave — era o pássaro favorito do imperador Moctezuma, que é importante para a história do México.
Como um projeto mexicano, queremos promover nosso país para o mundo, e isso nos dá a oportunidade de iniciar diálogos sobre a nossa história.
Como foi o processo de desenvolvimento da tecnologia?
A parte eletrônica do carro foi desenvolvida internamente, na fábrica, com nossos engenheiros. Portanto, temos independência tecnológica — ou seja, possuímos essa tecnologia. A meu ver, isso é uma conquista extraordinária. É nossa primeira tentativa, sendo uma empresa pequena e emergente.
Dentro de uma indústria internacional experimentando [uma mudança para] a Indústria 4.0, nos destacamos, e muitos países tiveram interesse em aprender mais sobre nosso projeto. Nós temos esse reconhecimento. Eles nos perguntam: “Como eles fizeram isso?”. Obviamente sabemos que temos que melhorar em diversos aspectos, mas nossa vida inteira está [dedicada] a melhorar.
Na nossa equipe, temos mecânicos, engenheiros elétricos, engenheiros mecânicos. Até eu, todos nós acabamos nos unindo para esse fim.
No início, tivemos o apoio da família e de amigos. No início, quem vai comprar de você? Seu primo, seu melhor amigo, seu marido que diz “eu vou com você” — porque não somos uma marca que tem uma história. Não há um histórico em que se possa dizer, por exemplo, “um Toyota funciona assim”. Estamos muito conscientes de que não temos isso.
Os primeiros clientes sabiam que vinham para “trabalhar conosco”, ao invés de simplesmente comprar um carro. Nós tínhamos passado da fase do sonho para a etapa do “vai e experimenta, e me diz se ele se move e funciona como nós pensamos”. Outros apareceram, dizendo “eu quero um”, mas tivemos que dizer a eles que a primeira leva seria só para família e amigos. Depois, várias pessoas disseram que queriam fazer parte desse piloto de testes. E assim, chegamos a 50 [testadores].
No início, surgiram pequenas coisas, mas nenhum problema mecânico. O que mais me importava era que o carro não ficasse para trás. Nesse aspecto, ele tem sido muito bom e temos melhorado muito. Agora é mais como uma oficina de experimentação. Alguém teve a ideia de desenvolver uma tela a partir da qual pudesse gerenciar o carro inteiro, é totalmente baseada no touchscreen. Isso é novo.
Quando começamos, trouxemos os sistemas de transmissão do exterior. Agora, nós os fabricamos. Queremos que todas as peças sejam mexicanas. Isso é o que temos feito ao longo dos anos: trabalhar em questões de fornecimento e com as pessoas que usam nossos carros. Já se passaram três anos e meio desde que eles começaram a ser entregues, e até agora não tivemos um acidente, ou mesmo um pneu furado. Estamos também no processo de construção de um banco de dados, trabalhando nas coisas que temos e nas coisas que não temos.
Ninguém que está vendendo carros elétricos ganha dinheiro. Hoje em dia não é lucrativo. Provavelmente será em algum momento, mas todos nós aqui [na Zacua], em primeiro lugar, não vivemos disso e, em segundo lugar, não estamos esperando que seja um negócio rápido — nem estamos esperando ganhar dinheiro. Nós não somos a exceção.
É um negócio familiar e que pertence a um grupo de empresas. No momento, estamos levantando capital — é assim que todas as empresas são, para novos negócios você tem que investir. Tudo é mais caro para nós do que uma marca global. Se eu comprar 50 volantes, por exemplo, a Ford compra 5 milhões. Quem vai conseguir mais barato? Para nós, atualmente, tudo é mais caro. É por isso que não temos lucro algum praticamente.
O que podemos esperar da Zacua no futuro?
Atualmente, estamos trabalhando em novos protótipos: veículos para entregas a domicílio e veículos para transporte de mercadorias. Além disso, muitas empresas estrangeiras estão chegando para trabalhar no México, pois a montagem aqui é barata. Portanto, há uma onda de fornecedores, e marcas de automóveis percebem que é conveniente montar aqui e depois entrar nos mercados da América do Norte. Então, por que não fazemos uma plataforma de serviços para atendê-los? Ou os vemos como concorrência ou colaboramos e capitalizamos com isso. Já temos uma estrutura em funcionamento com montagem e fornecemos de montagem para outros carros. Podemos oferecer mais segurança e confiança para aqueles que precisam de nossos serviços.