Negócios

“A China não está preparada para assumir o lugar dos Estados Unidos”

A opinião é do especialista em China-América Latina-USA, Creutzfeldt

Pós-doutor na Universidade norte-americana John Hopkins e especialista nas relações da China com América Latina e Estados Unidos, Benjamin Creutzfeldt acha que, além de não estar preparada, a China não quer assumir o lugar dos Estados Unidos na América Latina.

Em entrevista ao Diálogo Chino, Creutzfeldt diz que a China não pode ser acusada de “roubar” trabalho dos EUA como faz o presidente norte-americano Donald Trump. O especialista diz que os empregos estão na China porque os países desenvolvidos se aproveitaram da falta de controle social, ambiental e dos baixos salários pagos aos chineses para terceirizar sua produção.

Diálogo Chino (DC): Como a China está tirando proveito do recuo dos Estados Unidos da América Latina?

Benjamin Creutzfeldt (BC): A China ainda é nova para todos nós. Vamos olhar em perspectiva: por enquanto, ela é apenas um pequeno investidor se comparada com países europeus, ou com os Estados Unidos e mesmo com países latino americanos entre si. Não creio que a China vá simplesmente tomar o espaço de alguém. Há anos, com as visitas anuais de líderes políticos chineses importantes a países da América Latina, a China está se tornando importante. Mas, a própria China não está preparada para assumir o lugar dos Estados Unidos. É claro que muda um pouco. A China passa a ser um modelo de orientação para alguns países, mas não acredito que a China queira ou possa substituir ou liderar como fez e faz os Estados Unidos, que continuam sendo a maior força militar e econômica na região.

DC: Trump diz que os EUA perderam 60 mil fábricas desde que a China se juntou à Organização Mundial do Comércio. Um estudo da Oxford Economics diz, no entanto, que os investimentos e o comércio com os chineses mantiveram 2,6 milhões de empregos nos Estados Unidos. Qual é a realidade dessa relação?

BC: Não tenho certeza se os números são esses. Mas é verdade que, desde os anos 80, os países desenvolvidos como os europeus e os Estados Unidos terceirizaram sua produção. Aproveitaram os limitados controles sociais e ambientais e, obviamente, os salários muito mais baixos da China para terceirizar sua produção. As pessoas culpam a China por “roubar” trabalho quando, na verdade, as empresas multinacionais é que usaram essa tendência para beneficiar os consumidores e os mercados domésticos dos países desenvolvidos. É certo que dezenas de milhares de trabalhos estão na China, mas eles não foram “roubados”. E, tampouco isso é injusto. Faz parte da natureza da globalização, que não pode ser freada.

DC: Quais são os custos e benefícios para a América Latina ter a China como seu principal aliado comercial?

BC: Surge uma nova dependência. É fato que a China já é o primeiro ou segundo parceiro comercial de cada país da América Latina e do Caribe. Além disso, a China influencia no que pode ser exportado, não só nos preços, mas nos produtos que podem ser exportados e, portanto, produzido, por cada um desses países. Então, a China é importantíssima. Agora, ela pode ser um perigo ou uma oportunidade. Depende de cada país. No Peru, por exemplo, a presença da China foi aproveitada muito positivamente. Consegue exportar produtos agrícolas e muito em breve outros tipos de produtos, o que fomenta a agricultura do Peru. No Equador, os empréstimos chineses foram usados para construir infraestrutura e centros científicos, apesar de que nem tudo lá é positivo. Em outros países, entretanto, não é assim. Depende da forma como os governos latino-americanos souberam aproveitar e utilizar a relação comercial. A China está fazendo o que é vantajoso para ela. E aí surgem preocupações. A chave é: o governo e o empresariado saber aproveitar as oportunidades.

DC: EUA e China ratificaram seu compromisso com o Acordo de Paris, no ano passado. Trump já disse que não acredita em política ambiental. A China deve tomar a liderança nessa área?

BC: A China é bastante independente nesse sentido. Hoje, ela é o principal produtor de energia renovável, com painéis solares. Para a China é uma enorme oportunidade. Não tão exitosa como para a Califórnia, mas se China não tem mercado para carros elétricos, o mundo não terá. China é um consumidor tão gigantesco e tem seus próprios problemas de poluição que muitas dessas questões como a COP21 são prioritárias, mais que para outros países inclusive. Não sei se será líder porque falta transparência, capacidade de dirigir, sobretudo os países europeus mais céticos. Mas a China pode liderar como oportunidade de negócio em inovação. E quem perde unilateralmente com isso são os EUA.

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