Oceanos

Em busca dos pepinos-do-mar do México

Neste vídeo, Alejandra Cuéllar explora como a demanda chinesa ameaça uma espécie marinha ainda ignorada

A península de Iucatã baniu a extração de pepinos-do-mar este ano. Nossa videorreportagem mostra como os pescadores locais foram afetados por esta decisão e discute o que o futuro reserva para essa criatura marinha.

A história por trás dos pepinos-do-mar

O pepino-do-mar chamou a minha atenção pela primeira vez durante uma pesquisa sobre a vaquita, uma espécie de toninha que vive no Golfo da Califórnia. O animal é atualmente ameaçado de extinção devido à demanda chinesa pelas bexigas natatórias – também conhecidas como bucho ou grude de peixe – de outra espécie, a totoaba.

Os comerciantes chineses pagam valores exorbitantes por essas bexigas, mas as vaquitas acabam morrendo enroscadas nas redes de pesca usadas para pegar a totoaba. Hoje, acredita-se que existam menos de 20 vaquitas na natureza.

O pepino-do-mar agora enfrenta uma ameaça parecida. Diversas espécies habitam as águas mexicanas e são vendidas a preços altos para consumidores chineses e asiáticos, para uso na medicina tradicional e na culinária. O pepino-do-mar já começou a desaparecer, mas isso não está causando o mesmo alarde que o desaparecimento da vaquita.

Em um primeiro momento, pensei em fazer um vídeo para conscientizar as pessoas sobre a tarefa essencial exercida pelo pepino-do-mar: a limpeza do fundo dos oceanos. Tentei planejar a minha visita a Iucatã para coincidir com a época de extração dos pepinos-do-mar, mas um pescador local explicou que as autoridades tinham decidido encerrar a temporada este ano para que a população tivesse tempo de se recuperar. A situação era crítica.

Tive que mudar o foco da minha reportagem, e resolvi entender como a proibição da coleta dos pepinos-do-mar impactou os pescadores de Iucatã.

Logo descobri uma coisa que as pessoas de Iucatã gostavam ainda mais do que o pepino-do-mar: falar sobre o pepino-do-mar. Elas descreveram como a demanda chinesa tinha criado uma “corrida do ouro” do pepino-do-mar. O animal era mais lucrativo do que qualquer outra espécie – com o dinheiro, as pessoas conseguiam investir nas suas casas ou comprar barcos melhores.

Infelizmente, essa corrida do ouro também trouxe problemas: incentivou a prostituição e o consumo excessivo de álcool, destruiu casamentos. Pescadores contam que algumas pessoas até morreram mergulhando atrás do animal. Um dia, o pepino-do-mar – que era tão abundante que permitia aos pescadores extrair toneladas dele diariamente – tornou-se tão raro que era difícil encontrar sequer um espécime.

Alicia Poot, bióloga que vem acompanhando a situação de perto, espera que a população se recupere. Ela disse que muitas comunidades querem encontrar maneiras mais sustentáveis de pescar, mas o mergulho ilegal persiste na região e a corrupção interna no México alimenta um mercado negro.

O que ficou claro para mim é que, quando comerciantes chineses oferecem muito dinheiro para extrair recursos em áreas pobres com pouca regulamentação, eles acabam fomentando um comércio ilegal que prejudica as comunidades locais e os ecossistemas naturais.

Esse momento é crucial para que os jornalistas, a sociedade civil e os governos entendam as consequências da perda da biodiversidade e possam antecipar o impacto da demanda chinesa no futuro.

Ficha técnica:

Direção e edição de Alejandra Cuéllar
Filmagem de Antonia Colodro

Declaração de direitos autorais

Este vídeo é disponibilizado sob uma licença a Creative Commons Atribuição Não Comercial. Caso deseje compartilhar ou usar este vídeo, favor observar os termos desta licença.

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