É do Parque Nacional da Tijuca, uma das unidades de conservação mais próximas dos locais de competições olímpicas na cidade brasileira do Rio de Janeiro, que Phellipe Eduardo do Nascimento Silva retira sua principal fonte renda. As garrafas PET deixadas por turistas em visita ao local são recolhidas diariamente pelo catador de material reciclável, que também atua como guia dentro do parque.
À frente da Cooperativa Anfitriões do Cosme Velho, atualmente composta por 22 catadores, Silva se prepara para colocar em prática um antigo plano: reciclar por conta própria o plástico recolhido. “Como a gente trabalha diretamente com o turismo, a gente tinha a expectativa de transformar os resíduos em algum tipo de material para gente apresentar para esse público”.
A cooperativa será a primeira a testar a Remolda, invenção fruto de um projeto do WWF Brasil com a WWF da Holanda, ONG ambiental. A máquina é como uma oficina móvel: o protótipo, que será acoplado a uma moto, tritura o plástico e transforma o resíduo num novo produto.
“O projeto nasceu para oferecer uma forma criativa de lidar com o plástico retirado da Baía de Guanabara e gerar renda para as comunidades”, conta Anna Carolina Lobo, coordenadora de Conservação do Programa Mata Atlântica do WWF Brasil.
A Remolda vai circular pelas ruas do Rio de Janeiro durante as Olimpíadas transformando o plástico numa espécie de souvenir – a montanha do Corcovado, que fica dentro do Parque Nacional da Tijuca, com casas estilizadas simbolizando a comunidade de Guararapes, Vila Cândido e Cerro-Corá, onde a cooperativa parceira fica baseada.
“Não esperava que eu ia poder transportar essa máquina pra lá e pra cá. Eu esperava criar uma oficina e produzir. E agora a gente tem uma oficina móvel, o que é maravilhoso”, contou Silva ao Diálogo Chino.
A Remolda requer 30 gramas de plástico para produzir a montanha do Corcovado estilizada num processo que leva cerca de dois minutos. Segundo o WWF Brasil, qualquer plástico pode ser usado, mas aqueles que emitem gases tóxicos, como usados em computadores, devem ser evitados. A maior parte dos testes feito foi com PET de água.
Lixo plástico
Desde que os trabalhos de limpeza foram intensificados na Baía de Guanabara por ocasião dos Jogos Olímpicos, cerca de 40 toneladas de lixo são retirados mensalmente das águas pelos ecobarcos, segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro.
Doze ecobarcos e 17 ecobarreiras instaladas nas saídas de rios e canais para a baía estão em operação para minimizar a chegada de lixo flutuante no mar. Garrafas e outros materiais plásticos formam a maior parte do lixo recolhido.
“Brasil e China fazem parte dos países que mais poluem no mundo. E já é sabido que a poluição nos oceanos por plástico é um problema grave, global”, comenta Anna Carolina Lobo.
Dados da indústria apontam a China como maior produtora de plástico. O baixo custo de produção do composto plástico impulsionou a indústria que converte essa matéria-prima em outros produtos como embalagens e parte de automóveis. A América Latina também se destaca pela produção do chamado bioplástico que, apesar de ser composto por materiais menos poluentes que o petróleo, demora o mesmo tempo para se degradar que o plástico convencional.
“O descarte errado desse material gera enormes impactos ambientais, desde o acúmulo em locais indevidos nas cidades à contaminação de rios e mares”, reforça Lobo. Para ajudar a reverter esse panorama, o WWF fará da Remolda uma estação de educação ambiental durante as Olimpíadas no Rio.
Catadores olímpicos
Pela primeira vez nas Olimpíadas e Paralimpíadas, catadores de materiais recicláveis farão coletiva seletiva nos locais de competições. Equipes formadas por 240 membros de 33 cooperativas e três redes farão a pré-seleção de materiais no Parque Olímpico na Barra da Tijuca, em Deodoro e nos estádios do Maracanã e Engenhão.
Segundo o comitê organizador, o material será vendido e a renda ficará para os catadores. A expectativa é que sejam recolhidas cerca de 3,5 mil toneladas de materiais por dia nos quatro locais de competições.