A Argentina pode ser neutra em carbono. Mas será que quer?

Novo relatório analisa os diferentes caminhos para que a Argentina alcance uma economia com zero emissões até 2050
<p>As usinas solares fotovoltaicas como a de Cafayate, na província de Salta, podem ajudar a Argentina a atingir a neutralidade de carbono, de acordo com uma nova pesquisa (imagem: Alamy)</p>

As usinas solares fotovoltaicas como a de Cafayate, na província de Salta, podem ajudar a Argentina a atingir a neutralidade de carbono, de acordo com uma nova pesquisa (imagem: Alamy)

Estabilizar a mudança climática abaixo de 2°C e o mais próximo possível de 1,5°C é a meta do Acordo de Paris de 2015, que exige atingir zero emissões líquidas até 2050. Fazê-lo, um processo conhecido como descarbonização, significa promover uma grande redução das emissões causadas pelo homem.

A Argentina estará entre os países que atingem este objetivo? E, em caso afirmativo, por quais caminhos e com quais elementos-chave? Um trabalho realizado em conjunto por Fundación Ambiente y Recursos Naturales (FARN), Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires (UNICEN), Fundación Vida Silvestre Argentina e o pesquisador Roque Pedace procura dar estas respostas.

Dada a atual crise da pandemia, a Argentina decidiu recentemente adiar até 2021 a apresentação de sua estratégia de longo prazo para alcançar a neutralidade de carbono. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, o governo terá que fazer o exercício de projetar qual caminho, em termos de emissões e desenvolvimento, deseja para o país.

Argentina: Caminhos para a neutralidade de carbono

Com três cenários de referência possíveis e quatro seções temáticas, o documento intitulado “Elementos para alcançar a neutralidade de carbono até 2050” apresenta uma discussão sobre o que deve ser considerado para o desenvolvimento de uma estratégia urgente de descarbonização a longo prazo (LTS) em nível nacional.

Todos os cenários propostos pela UNICEN no documento levam a Argentina à neutralidade de carbono até 2050. Em outras palavras, a Argentina não só pode alcançar este objetivo fundamental, mas também tem várias opções em termos de políticas e tecnologias — tais como eletrificação, hidrogênio e biocombustíveis— para alcançá-lo.

37%


a parcela das emissões de GEE da Argentina nos setores de agricultura, pecuária, silvicultura e uso da terra

As variáveis estão principalmente ligadas ao setor energético, que hoje é responsável por 53% das emissões em nível nacional. Na seção elaborada pela Fundación Vida Silvestre, o relatório destaca que as políticas que só consideram o abastecimento em um mundo que consome quantidades cada vez maiores de energia carecem de uma visão de futuro mais ampla.

Uma política energética sustentável a longo prazo deve equilibrar a oferta e a demanda. A integração do uso racional e eficiente da energia nas políticas energéticas permitiria que os serviços relacionados fossem prestados a um custo menor, com investimentos menores e impactos ambientais mais baixos, ao mesmo tempo em que viabilizaria a introdução maciça de energias renováveis.

Em outra seção do documento, o pesquisador independente Roque Pedace destaca a importância de considerar, para a LTS, a diversificação de tecnologias e um ordenamento territorial em nível nacional que permita melhorias simultâneas na soberania alimentar e energética.

Persistir no modelo atual, baseado em combustíveis fósseis, que hoje representa mais de 80% da matriz energética, pode resultar em ativos irrecuperáveis na Argentina. Ou seja, os investimentos feitos hoje podem não produzir recursos suficientes no futuro porque se tornarão obsoletos, o que coloca sua rentabilidade em risco.

No que diz respeito ao setor agrícola, pecuário, florestal e outros de uso da terra, o segundo maior da Argentina em termos de emissões (com 37%, segundo o último inventário), a seção preparada pela FARN levanta a necessidade urgente de uma mudança de paradigma em relação ao modelo industrial predominante na Argentina.

A agroecologia é a alternativa, pois é um sistema que permite a mitigação, aumenta a resiliência dos agroecossistemas e melhora suas funções de sustentabilidade graças a uma abordagem holística que busca alcançar benefícios biofísicos, socioculturais e econômicos.

A FARN também salienta a necessidade de adotar medidas de mitigação que garantam a integridade dos ecossistemas naturais e, ao mesmo tempo, gerem benefícios para a biodiversidade, as comunidades locais e a adaptação. Em outras palavras, a redução das emissões tem que considerar a proteção dos ecossistemas. Não podemos enfrentar a emergência climática sem enfrentar a crise da biodiversidade.

Finalmente, a seção elaborada por María Julia Tramutola, também da FARN, mostra que a mudança climática afeta as mulheres de forma desigual em comparação com outros grupos. Consequentemente, as ações para reduzir as emissões a longo prazo não garantem necessariamente uma maior empregabilidade no caso das mulheres.

O planejamento a longo prazo é essencial para dar direção e objetivo ao tipo de desenvolvimento desejado no país

É por isso que qualquer estratégia de descarbonização de longo prazo na Argentina precisa ser pensada, projetada e implementada com uma perspectiva de gênero, a fim de garantir um futuro não só mais descarbonizado, mas também mais justo.

Planejamento climático

Em resumo, o planejamento a longo prazo é essencial para dar direção e objetivo ao tipo de desenvolvimento desejado no país. Em nossa opinião e por todas as razões acima, esse desenvolvimento deve estar alinhado com o Acordo de Paris, e nunca perder de vista a integridade ambiental dos ecossistemas ou questões sociais.

Diante da atual pandemia, esta discussão é mais indispensável do que nunca e deve ocorrer agora, enquanto os planos de recuperação econômica começam a ser delineados. Todos os caminhos dos combustíveis fósseis conduzem à mesma armadilha: eles nos prendem às economias intensivas em carbono.

Estamos certos de que a Argentina tem todos os elementos para sair desse paradigma. Vamos escolher o caminho certo? Esta é a questão.

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