Opinião: com novo presidente, Uruguai discute agenda ambiental

Luis Lacalle Pou deverá responder a demandas por proteção do meio ambiente
Português
<p>Luis Lacalle Pou assumiu o cargo em 2 de março. O novo presidente deve tomar medidas para os oceanos (Imagem Alamy)</p>

Luis Lacalle Pou assumiu o cargo em 2 de março. O novo presidente deve tomar medidas para os oceanos (Imagem Alamy)

O Uruguai é um dos países com maior estabilidade política e social da América Latina. Há alto índice de qualidade de vida e indicadores macroeconômicos notáveis. A população, no entanto, tem cada vez mais demandas. Entre elas, a proteção do meio ambiente.

Já faz algumas semanas que Luis Lacalle Pou assumiu a presidência do Uruguai como parte de uma coalizão de partidos políticos. É o governante mais jovem na história do Uruguai, e sua devoção pela conservação dos oceanos tem gerado otimismo entre os ambientalistas.

Sua primeira proposta segue essa linha, enfatizando a importância do meio ambiente com a criação de um Ministério do Meio Ambiente e da Água. Mas a pergunta permanece: será que Lacalle Pou, surfista e amante do mar, responderá aos pedidos por um meio ambiente mais saudável? Surfar esta onda será um desafio para Lacalle Pou.

Conflitos ambientais

O excessivo uso de fertilizantes, efluentes urbanos sem tratamento e as represas que limitam a circulação dos rios geraram um crescimento massivo de microalgas e a geração de cianobactérias nos cursos d’água do Uruguai, afetando suas praias oceânicas.

Ao mesmo tempo, a construção de uma terceira megafábrica produtora de celulose que absorverá milhões de litros do principal curso fluvial interno do Uruguai, o Rio Negro, tem sido objeto de protestos ambientais nos últimos dois anos. Ainda não se sabe se será possível revisar o projeto, como mencionou o novo governo.

A young man holds up a banner reading "Uruguay natural?" at a protest.

A monocultura florestal que abastecerá as três fábricas que produzirão pasta de celulose — principal insumo para a fabricação de papel — ocupa mais de um milhão de hectares (6% da superfície do país), superando a extensão das florestas nativas. O projeto também deve ter um forte impacto na biodiversidade e grande demanda por água.

Por outro lado, a nova Lei de Irrigação, que fomenta o desenvolvimento de empreendimentos com uso intenso de agroquímicos e represas, está sendo analisada pela Suprema Corte de Justiça após diversas organizações e sindicatos pedirem sua anulação por suposta inconstitucionalidade.

A frente marítima

Quase metade da superfície do Uruguai é aquática, distribuída entre o Atlântico e o estuário do Rio da Prata. Nessas áreas, a principal atividade é a pesca, que vem diminuindo há quase vinte anos.

O número de barcos industriais diminuiu em 50% ao longo de apenas uma década. Junto com a pesca artesanal, a pesca industrial também está ameaçada pelos altos custos operativos e pela competição de importações de espécies cultivadas, de baixo valor e qualidade, provenientes do sudeste asiático.

50%


A queda dos navios de pesca industrial uruguaios em suas águas nos últimos 10 anos

A biodiversidade marinha está ameaçada pelas operações de dezenas de barcos de diferentes nacionalidades que operam na fronteira da Zona Econômica Exclusiva do Uruguai, e às vezes dentro da área delimitada, capturando espécies que no passado eram alvo da frota local.

Essas mesmas embarcações que depredam os recursos marinhos do Uruguai descarregam o que capturam no porto de Montevidéu, onde são isentas de impostos e controles — seja sobre a captura ou sobre as condições trabalhistas e sanitárias a bordo. Esses rigores, por outro lado, são impostos aos barcos pesqueiros nacionais.

Nos últimos anos, o porto de Montevidéu tem aparecido no topo dos rankings mundiais sobre pesca ilegal e escravidão a bordo, por diferentes organizações não-governamentais como a Oceana, ou estatais, como o Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Um grande desafio para o novo governo será retomar o controle do porto de Montevidéu e limpar a imagem de “porto pirata” a ele conferida após anos abastecendo barcos que praticam pesca ilegal e abuso de direitos humanos, perseguidos por países vizinhos.

Energias renováveis

Embora o Uruguai não seja um dos atores principais da agenda climática global, é um exemplo mundial por sua matriz energética quase completamente descarbonizada. Grande parte da energia utilizada no país é eólica, solar e hidráulica. O país produz ainda excedentes para exportação.

A criação de um Ministério do Meio Ambiente é um grande anúncio, mas o órgão sozinho não será suficiente para resolver os conflitos socioambientais de uma sociedade que cada dia mais reivindica o cumprimento do slogan pelo qual o país é conhecido: “Uruguai Natural”.

É preciso reformular o destino do país. Ou o Uruguai se torna uma grande planície de monoculturas com seus rios contaminados, ou limitará o crescimento da agroindústria, estimulando plantios ecológicos e a proteção da natureza.

Atividades como o turismo responsável, a pesca sustentável, a agricultura orgânica e as energias renováveis podem gerar emprego e renda para o país, criando um círculo virtuoso tanto do ponto de vista socioeconômico como ambiental. Para isso, será necessário também aumentar a transparência do governo e a participação da sociedade civil.

O presidente e sua equipe têm a resposta. Se decidem manter os valores de um meio ambiente saudável veiculados durante sua campanha, sem dúvida poderão surfar a onda mais importante de todas.

Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.

Strictly Necessary Cookies

Strictly Necessary Cookie should be enabled at all times so that we can save your preferences for cookie settings.

Analytics

This website uses Google Analytics to collect anonymous information such as the number of visitors to the site, and the most popular pages.

Keeping this cookie enabled helps us to improve our website.

Marketing

This website uses the following additional cookies:

(List the cookies that you are using on the website here.)