Energia

Energia solar ilumina casas e negócios em favelas do Rio

Geração com painéis solares em dois morros da zona sul carioca combate a pobreza energética e capacita moradores para levar iniciativa adiante

Os morros da Babilônia e do Chapéu Mangueira erguem-se como paredões verdes atrás dos prédios da orla do Leme, uma das faixas de areia mais icônicas do Rio de Janeiro. Embora essas duas favelas estejam localizadas em um bairro nobre da capital fluminense, os milhares de moradores que habitam a área convivem com uma infraestrutura precária e o acesso limitado a serviços públicos.

Para muitas famílias, o acesso à eletricidade é uma batalha diária. Um estudo publicado em 2022 constatou que 43,5% das residências nas favelas cariocas não têm medidor de luz, e muitas dependem de conexões clandestinas com a rede elétrica — o famoso “gato”. Entre aqueles formalmente conectados à rede, mais de 30% enfrentam uma situação de pobreza energética, com contas de luz que ultrapassam 10% de sua renda. Nas comunidades da Babilônia e do Chapéu Mangueira, moradores reclamam que esses boletos podem consumir quase metade de um salário mínimo. 

As fontes de energia renovável no Brasil são abundantes e, embora o acesso a essa energia ainda seja desigual, esses dois morros na zona sul do Rio estão provando que é possível combater parte do problema com energia solar. Em 2021, a organização Revolusolar, sediada no Rio de Janeiro, lançou a Cooperativa Percília e Lúcio de Energias Renováveis, iniciativa comunitária que leva os benefícios da energia solar aos moradores da Babilônia e do Chapéu Mangueira.

Conheci o projeto ao pesquisar ações climáticas voltadas para comunidades. Eu queria realizar um filme mostrando como a iniciativa das pessoas pode promover mudanças coletivas robustas. 

Durante as filmagens, no início de fevereiro, conheci pessoas como Dinei Medina, presidente da cooperativa, que me recebeu em sua casa no alto do morro, com vista para a comunidade e a praia. Ele descreveu como a pobreza energética molda a vida cotidiana: desde a comida que estraga sem refrigeração adequada até as noites mal dormidas em um calor sufocante. No auge do verão, com temperaturas que ultrapassam os 40 °C, as crianças não conseguem se concentrar na escola.

Também conversei com a colombiana Bibiana Angel Gonzalez, dona da pousada Estrelas da Babilônia, abastecida com energia solar desde 2016 graças a um projeto-piloto da Revolusolar. Com a conta de luz mais baixa, ela pôde investir em melhorias no local, comprando móveis, novos equipamentos e tornando o espaço mais confortável para os hóspedes.

Mas a cooperativa ainda enfrenta grandes desafios. O aumento nas taxas de importação para painéis solares no fim de 2024 encareceu os custos de instalação, limitando a expansão da iniciativa. A dependência da concessionária que administra o abastecimento de energia na cidade também é um desafio na opinião dos participantes do projeto. A Revolusolar emprega um modelo de geração compartilhada: a energia solar gerada pela cooperativa é repassada à rede pública e convertida em créditos para reduzir as contas de luz dos beneficiários do programa. Porém, eles afirmam haver atrasos nas instalações de novas conexões à rede e falhas no registro dos créditos, dificultando a ampliação do projeto.

Mesmo assim, a cooperativa segue crescendo e passou de 35 moradias atendidas em 2021 para quatro empresas, duas escolas e mais de 60 famílias atualmente. O modelo agora está sendo replicado na comunidade indígena Terra Preta, na cidade de Manaus, bem como em conjuntos habitacionais em São Paulo.

O que mais me chamou a atenção foi a forma como a Revolusolar combina conhecimento técnico com forte participação comunitária. A equipe capacita moradores, sobretudo mulheres, para instalar e manter os sistemas solares e, ao mesmo tempo, promove a educação ambiental para garantir que a próxima geração entenda a importância da energia renovável. 

É um modelo que oferece uma visão esperançosa de futuro — um futuro no qual a energia limpa, a capacitação comunitária e a justiça climática andam de mãos dadas. Como disse Medina, a solução virá das comunidades mais pobres. Só precisamos ouvi-las.

Créditos:

Um filme de Kashfi Halford
Imagens adicionais: cortesia da Revolusolar

Música:

Tal Calidad” por Blue Dot Sessions, CC BY NC
Wingspan” por Blue Dot Sessions, CC BY NC

Efeitos sonoros:

IPanemaBeach_Noon_Crowed_Walking” por MariaARomeroF-Acusmática, CC BY
Just wind, medium constant gusts” por Diegolar, CC BY
Brazilian Audio Studio Urban Forest Garden” por SuperStudioBR, CC 0
Favela Vidigal: End of the afternoon in Rio de Janeiro” por Felix Blume, CC 0
Village miners at night with cricket, religious music coming from a house, voices in spanish, dog barking, motor far away recorded in Ikabaru in Amazon rainforest” por Felix Blume, CC 0
Village atmosphere, people speaking, sheep, dog barking, children playing football far away and slight wind” por Felix Blume, CC 0

Direitos autorais:

Este filme contém licença Creative Commons de Atribuição Não Comercial Sem Derivações. Para obter uma cópia do arquivo de vídeo ou um clipe da filmagem, entre em contato: [email protected]

Imagem de capa: Kashfi Halford

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