Clima

Premiê de Barbados lidera movimento para transformar finanças globais

Mia Mottley renova campanha para que Banco Mundial e FMI apoiem países pobres em meio a fome e mudanças climáticas
<p>Mia Mottley na cúpula climática COP26 em Glasgow, em novembro de 2021. A primeira-ministra de Barbados lidera esforços por mais recursos para os países mais vulneráveis à crise climática (Imagem: <a class="c-link" href="https://www.flickr.com/photos/186938113@N07/51648481440/" target="_blank" rel="noopener noreferrer" data-stringify-link="https://www.flickr.com/photos/186938113@N07/51648481440/" data-sk="tooltip_parent">Karwai Tang </a>/ <a class="c-link" href="https://www.flickr.com/people/186938113@N07/" target="_blank" rel="noopener noreferrer" data-stringify-link="https://www.flickr.com/people/186938113@N07/" data-sk="tooltip_parent">COP 26</a>, <a class="c-link" href="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/" target="_blank" rel="noopener noreferrer" data-stringify-link="https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/" data-sk="tooltip_parent">CC BY NC ND</a>)</p>

Mia Mottley na cúpula climática COP26 em Glasgow, em novembro de 2021. A primeira-ministra de Barbados lidera esforços por mais recursos para os países mais vulneráveis à crise climática (Imagem: Karwai Tang COP 26CC BY NC ND)

Despontando como uma voz de liderança na discussão climática internacional, Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados, aproveitou o início da primeira reunião anual do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para cobrar reformas no sistema financeiro global.

Antes da reunião em Washington, que começou na segunda-feira, Mottley e Rajiv Shah, presidente da Fundação Rockefeller, escreveram que essas instituições “ainda não fizeram o suficiente” para apoiar os países pobres, em meio a crises que vão de desastres climáticos à pobreza e ao aumento da fome. “Quando a humanidade enfrenta algumas das crises mais graves da história, uma resposta inadequada tem deixado os países e as pessoas cada vez mais desamparados”, disseram eles.

90%

É a média de endividamento das nações caribenhas em relação ao PIB. Segundo o Banco Mundial, uma proporção acima de 77% pode impedir o crescimento econômico.

A agenda da reunião, acrescentaram, “oferece poucos motivos de otimismo” para acreditar que haverá ajuda aos países de baixa renda, inundados por dívidas e incapazes de lidar com a crise climática. Muitos deles estão no Caribe, região de Mottley, onde nações insulares são altamente vulneráveis às condições climáticas extremas, enquanto seus níveis de endividamento atingem, em média, 90% do PIB.

Mottley tomou posse em 2018 com mais de 70% dos votos, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo desde que Barbados conquistou a independência do Reino Unido em 1966. Ativa na política do país há vários anos, ela tem proposto ações contra as mudanças climáticas e o desmatamento e transformou Barbados em “um pioneiro no movimento ambiental global”, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

A líder de Barbados tem atraído mais atenção internacional desde seu elogiado discurso na cúpula climática da COP27, no Egito, em novembro de 2022. Na cerimônia de abertura, ela pediu aos países desenvolvidos que desbloqueassem financiamentos aos países vulneráveis ao clima. “Não há como os países em desenvolvimento travarem esta batalha sem acesso a financiamento”, disse ela.

Na conferência, Mottley também lançou a Iniciativa Bridgetown, coalizão internacional composta de líderes privados, públicos e filantrópicos que buscam reformar a arquitetura financeira global. Ela propôs a ideia na conferência climática da ONU de 2021, a COP26, em Glasgow, e em julho de 2022 sediou uma reunião em Bridgetown, capital de Barbados, que empresta seu nome à iniciativa, para desenvolver suas propostas.

Não há como os países em desenvolvimento travarem esta batalha sem acesso a financiamento
Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados

A mensagem central da Iniciativa Bridgetown é que os países de baixa renda precisam de novas maneiras de aliviar a dívida pública e, por sua vez, investir na resiliência e mitigação do clima. O grupo quer que o Banco Mundial, o FMI e outras instituições financeiras multilaterais assumam a liderança na captação de mais de US$ 1 trilhão por ano para apoiar as metas climáticas dos países em desenvolvimento. Além disso, esses recursos ajudariam a compensar as perdas e os danos causados por eventos climáticos extremos.

As reuniões de primavera do Banco Mundial e FMI — que ocorrem no outono do hemisfério sul — reúnem presidentes de bancos centrais, ministros, executivos do setor privado, representantes da sociedade civil e acadêmicos. Barbados não enviou representante ao evento de Washington, preferindo se concentrar na construção de estratégias para impulsionar as reformas por meio de sua coalizão.

O presidente francês Emmanuel Macron é um dos líderes globais que apoia a Iniciativa Bridgetown, que esteve no centro das discussões da visita de Mottley a Paris em março. O próximo encontro dos líderes deve ocorrer em junho na Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, convocada por Macron e inspirada nos apelos da iniciativa.

Além deles, John Kerry, enviado especial da presidência dos Estados Unidos para o clima, também expressou abertura às ideias de Mottley. A primeira-ministra de Barbados atraiu o apoio até de líderes das próprias instituições financeiras, como Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI.

Na abertura da reunião na segunda-feira, Georgieva comentou que as crises que o mundo enfrenta “empurraram o prejuízo” para os pobres e cobrou “reformas estruturais para elevar a produtividade” e oferecer perspectivas de crescimento aos países pobres. No mesmo encontro, David Malpass, presidente do Grupo do Banco Mundial, acrescentou haver “urgência de mudanças políticas” em meio à crescente crise da dívida pública e dos eventos climáticos extremos. Malpass não explicou, no entanto, se essas mudanças incluíam reformas no sistema financeiro.

Mas as perguntas sobre se o Banco Mundial mudará seu modelo de financiamento ou como abordará a pobreza e o aquecimento global podem demorar para serem respondidas, particularmente durante um período de transição no topo da instituição. Nas próximas semanas, Malpass — que enfrentou críticas e pressões sobre o compromisso do banco com a ação climática e sua posição pessoal sobre as mudanças climáticas — deverá entregar o cargo a Ajay Banga, ex-diretor-executivo da Mastercard e presidente da Câmara de Comércio Internacional.