Justiça

‘Nos recusamos a perder a esperança’, dizem correspondentes amigos de Dom Phillips

Jornalistas e amigos clamam para que as autoridades brasileiras intensifiquem esforços na busca do jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira
<p>Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira (Arte: Cristiano Siqueira)</p>

Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira (Arte: Cristiano Siqueira)

Dezenas de jornalistas brasileiros e correspondentes internacionais apelaram às autoridades brasileiras para intensificar os esforços para localizar o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira.

A dupla foi dada como desaparecida no domingo durante um trabalho de campo no Vale do Javari, na Amazônia. A área é a segunda maior terra indígena do Brasil e conhecida por invasões para a extração de madeira e garimpo ilegais. Araújo já vinha recebendo ameaças.

Na carta publicada abaixo, compartilhada com o Diálogo Chino e demais veículos de comunicação, amigos de Phillips expressam sua preocupação, admiração por seu compromisso com a Amazônia e a esperança de que ele e Pereira sejam encontrados a salvo. Reiteramos essa esperança.

 

Nós somos os amigos do Dom e estamos no Brasil, no Reino Unido, nos Estados Unidos e em outros países pelo mundo. Estamos grudados em nossos telefones, televisões e computadores buscando desesperadamente informações sobre o nosso amigo e colega. Fazemos ligações, trocamos notícias e links pelo WhatsApp em busca de qualquer vestígio que possa sugerir que o veremos novamente, são e salvo. Nós nos recusamos a acreditar no pior sobre ele e Bruno Pereira, o indigenista que o acompanhava.

Todos nós conhecemos Dom como um dos jornalistas mais perspicazes e atenciosos da América do Sul. Como correspondentes, estamos habituados a ouvir pessoas perguntarem o porquê de termos trocado o conforto de nossas casas pelo Brasil, com todos seus problemas. A resposta é geralmente a mesma, porque amamos este país. Como Alessandra, sua esposa, disse ontem: ‘meu marido ama o Brasil e ama a Amazônia. Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui.’

Antes de vir para o Brasil em 2007, Dom tinha uma vida interessante no Reino Unido escrevendo sobre música. Ele foi editor de uma revista e depois publicou um livro brilhante sobre o nascimento da cultura dos DJs. Mas queria para si um segundo ato. Veio para São Paulo, atraído por amigos DJs. Seu plano era passar alguns meses por aqui, porém imediatamente se sentiu em casa no Brasil. Ele se mudou de São Paulo para o Rio, casou-se com uma baiana e, há alguns anos, mudou-se com ela para Salvador. Sua segunda carreira como correspondente é tão brilhante quanto sua primeira como escritor musical.

Dom escreveu para o Guardian, o New York Times, o Washington Post, o Intercept e muitos outros. Queria, contudo, deixar uma marca, e seu amor pela Amazônia, um lugar que conheceu durante viagens a trabalho, é profundo. Seu projeto de publicar um livro sobre o desenvolvimento na região o permite passar mais tempo por lá para conhecer a fundo as pessoas e suas dificuldades.

Há muito mais sobre ele além de páginas e parágrafos. Seus amigos o conhecem como um cara sorridente que levanta antes do sol nascer para fazer stand-up paddle. Nós o conhecemos como alguém que está esperando ansiosamente a papelada para que possa adotar uma criança com sua mulher. Dom é o amigo que manda mensagens no WhatsApp no dia dos nossos aniversários e é o voluntário que deu aulas de inglês em uma favela carioca. Uma das primeiras coisas que fez em Salvador foi se envolver com o Jovens Inovadores, um programa de saúde coletiva da UFBA. Lá, era cercado por pessoas jovens, adolescentes que descrevia carinhosamente como igualmente barulhentos, distraídos e cheios de curiosidade sobre o mundo.

Foi essa mesma curiosidade que o levou ao Vale do Javari na companhia do Bruno, um indigenista experiente e reconhecido. É uma área isolada que pouquíssimas pessoas um dia verão. Esse isolamento é a razão pela qual os esforços de resgate devem ser ampliados imediatamente. Cada segundo é vital. Toda pessoa, barco, helicóptero e satélite pode fazer a diferença. Estamos preocupados, mas nos recusamos a perder a esperança. Por favor, não poupem recursos para encontrar nosso amigo e o amigo dele, o Bruno.

Jon Lee Anderson, redator, New Yorker

Manuela Andreoni, repórter, New York Times

Claudia Antunes, editora de Mundo, O Globo

Jenny Barchfiend, editor regional do Alto Comissariado da ONU para Refugiados para a América Latina

Vincent Bevins, autor de ‘The Jakarta Method’ (‘O Método Jacarta’, em tradução livre)

Paula Bianchi, editora, Agência Pública

David Biller, diretor de noticias no Brasil, Associated Press

Sônia Bridi, repórter, TV Globo

Eliane Brum, jornalista

Patrícia Campos Mello, repórter especial, Folha de S.Paulo

Gareth Chetwynd, editor de notícias, NHST

Sylvia Colombo, correspondente de América Latina, Folha de S. Paulo

Sam Cowie, jornalista

Tony Danby, jornalista freelance

Wyre Davies, ex-correspondente de América Latina, BBC

Andrew Downie, autor de ‘Doutor Sócrates: A Biografia’

Fabio Erdos, cinegrafista, Panos Pictures

Janaína Figueiredo, correspondente na Argentina, O Globo

Andrew Fishman, jornalista colaborador, The Intercept

Lulu Garcia-Navarro, apresentadora, New York Times Opinion

Tom Hennigan, correspondente na América do Sul, The Irish Times

James Hider, autor e jornalista

Martin Hodgson, editor de internacional, Guardian EUA

Henrik Brandão Jönsson, correspondente na América Latina, Dagens Nyheter

Richard Lapper, autor de ‘Beef, Bible and Bullets: Brazil in the age of Bolsonaro'(‘Boi, Bíblia e Balas: Brasil na era Bolsonaro’, em tradução livre)

Luciana Magalhães, repórter, Wall Street Journal

Fabiano Maisonnave, correspondente na Amazônia, Associated Press

Elisangela Mendonça, repórter, Bureau of Investigative Journalism

Flávia Milhorance, jornalista colaboradora, New York Times / Editora de Brasil no Diálogo Chino

Lianne Milton, fotógrafa, Panos Pictures

Jack Nicas, chefe de redação no Brasil, New York Times

Stephanie Nolen, repórter de saúde global, New York Times

Cecília Olliveira, diretora da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)

Tariq Panja, correspondente global de esportes, New York Times

Samantha Pearson, correspondente no Brasil, Wall Street Journal

Tom Phillips, correspondente na América Latina, The Guardian

Paulo Prada, editor de negócios na América Latina, Reuters

Paula Ramon, ex-correspondente no Brasil, AFP

Simon Romero, correspondente nacional, New York Times

William Schomberg, ex-correspondente no Brasil

Sebastian Smith, correspondente na Casa Branca, AFP

Vinod Sreeharsha, correspondente, LatinFinance

Cristina Tardáguila, fundadora da Agência Lupa

Jonathan Watts, editor de meio ambiente global, The Guardian

E outros amigos ao redor do mundo.”