O uso de veículos elétricos (VEs) ainda é novidade para a maioria dos latino-americanos, uma vez que a região não adotou a tecnologia tão rapidamente como a Europa e os Estados Unidos. Mas sua frota tem aumentado no continente na última década, e, no ano passado, já somava 10.766 carros circulando e 1.292 estações públicas em funcionamento.
No Brasil, a tendência ainda é lenta, mas já existem mais de mil veículos do tipo nas ruas.
O setor de transportes é a maior fonte de emissões de CO2 da América Latina, sendo que os veículos particulares respondem por 37% dessas emissões, três vezes mais do que o transporte público, que representa 10% do total. Mudanças de hábitos não acontecem da noite para o dia, e a adoção do carro não poluente ainda enfrenta obstáculos, como o alto preço e o desconhecimento da tecnologia.
Mas um casal colombiano que trocou a gasolina pela recarga elétrica se diz satisfeito. Emilia Gempeler e Arturo Vélez são médicos que vivem entre um apartamento em Bogotá e uma casa na zona rural da Colômbia. Eles compraram seu primeiro VE em 2016 porque queriam dar uma contribuição positiva ao meio ambiente. Eles conversaram com o Diálogo Chino sobre as mudanças que ele trouxe à sua rotina.
Diálogo Chino (DC): Como tudo começou, por que você comprou um carro elétrico?
Emilia Gempeler (EG): Arturo e eu estávamos atentos ao momento em que os VEs chegaram à Colômbia porque queríamos reduzir nossas emissões na atmosfera. Estamos conscientes do aquecimento global e acreditamos que cada pessoa pode contribuir com algo. Acho que o fato de sermos também mergulhadores e velejadores, além de observadores ávidos da natureza, nos torna mais conscientes do que está sendo perdido, mas também do que pode ser feito. Como a tecnologia [do VE] já está disponível, quisemos parar de consumir gasolina.
Assim, há cinco anos, quando o modelo Zoe Renault chegou e vinha com um preço melhor, nós o compramos. Vendemos o SUV que tínhamos e ficamos só com o elétrico. Agora temos a versão melhorada da mesma marca.
DC: Como foi a mudança para o VE?
EG: Nos adaptamos muito rapidamente. [Os veículos elétricos] são fortes ao acelerar. Você acelera e ele anda como um foguete. Por isso, é muito agradável de manusear. É silencioso, você não ouve nada. Desde o início, ficamos fascinados.
Quando vamos aos Estados Unidos visitar nossa filha, alugamos um carro a gasolina lá. Os elétricos ainda são muito caros para alugar, embora a infraestrutura já exista.
DC: Como funciona o carregamento de energia?
EG: Aqui na Colômbia eles vendem o carro com um carregador de parede, que [a empresa de energia] Codensa instala em sua casa. Ele é instalado no estacionamento e é conectado ao sistema de energia do nosso apartamento. Nós o conectamos quando chegamos à tarde e o deixamos conectado durante a noite. É muito melhor porque nunca temos que ir a um posto de gasolina, não há necessidade de fazer manutenção ou trocar o óleo. Tudo o que você tem que fazer é usar água para limpar o pára-brisa.
Também temos um cabo para carregar o veículo, e ele carrega como qualquer outro aparelho da casa. Você pode levar esse cabo em uma viagem. Você o conecta em uma tomada normal e o carrega.
DC: Quanto tempo leva para carregar?
EG: Em Bogotá, leva quatro horas para carregar de zero a cem [por cento cheio]. Aqui [fora da cidade], leva 12 horas para ser totalmente carregado. O carro elétrico anterior com a bateria 100% carregada podia percorrer até 300 quilômetros. E o novo pode percorrer 400 quilômetros. Isso é na teoria, porque quando você solta o acelerador e pisa no freio, o carro recarrega sozinho, e o mesmo acontece quando ele desce uma ladeira. Neste país onde você sobe e desce, ele acaba carregando sozinho algumas vezes.
Em Bogotá, há várias estações de recarga. Há alguns táxis elétricos em Bogotá, e eles recarregam em estações que funcionam em estacionamentos. Em outros lugares na Colômbia, há estações, como em Medellín ou nas grandes cidades. Mas, na maioria das cidades médias ou pequenas, não há estação de recarga.
DC: Que outros benefícios eles têm?
EG: Eles estão isentos do Pico y Placa [um sistema de Bogotá que limita a circulação de veículos em horários de pico]. Temos um grande desconto no seguro. Agora eles estão tentando reduzir as taxas e impostos de importação.
Não precisamos fazer a revisão mecânica. Temos que verificar os freios, mas não o motor.
O revendedor tem lugares especializados para esses veículos, e o próprio carro nos avisa quando é hora de ir a uma unidade. Os profissionais verificam a parte mecânica e os freios e se certificam de que a parte eletrônica está funcionando bem.
Também nos perguntamos o que aconteceria se houvesse escassez de gasolina na cidade por algum motivo. Com este carro, não temos que nos preocupar com isso.
DC: Como vocês o comparam em relação aos custos?
EG: O SUV que tínhamos nos custou 100 milhões de pesos colombianos [R$ 137 mil]. O carro novo nos custou 120 milhões de pesos [R$ 164 mil], e não é um utilitário esportivo. Mas, para nós, ele funciona perfeitamente bem. A economia ocorre no uso diário. Um tanque cheio de gasolina custava 120.000 pesos [R$ 164]. Com isso, eram 360.000 pesos [R$ 493] por mês só com gasolina. No caso do elétrico, a recarga completa sai por cerca de 40.000 pesos [R$ 54], e o carregamos três vezes por mês, portanto o custo é de 120.000 [R$ 164] mensais. Não há necessidade de troca de óleo ou qualquer outro custo.
DC: Você conhece outras pessoas que têm um carro elétrico?
EG: O pai da cunhada de Arturo tem um. Nós conhecemos algumas pessoas, mas não muitas. Porque as pessoas ainda reclamam muito [dessa opção]. Elas não entendem ainda suas vantagens. Um amigo diz que sente falta do barulho. Mas eu acho que a maioria das pessoas não está familiarizada, e o carro ainda é caro para elas.