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Mercado de energias renováveis da América Latina se recupera após pandemia

Adições de capacidade eólica e solar bateram recordes em 2021, em parte puxados por projetos do Brasil e Chile. Mas avanço de combustíveis fósseis também continua acelerado
<p>Turbinas eólicas no Ceará. O país continua sendo o mercado mais atraente da América Latina para energia limpa: de todos os investimentos em energias renováveis na região, 65% estavam concentrados no Brasil (Imagem: Eduardo Teixeira / Alamy). (Imagem: Eduardo Teixeira / Alamy)</p>

Turbinas eólicas no Ceará. O país continua sendo o mercado mais atraente da América Latina para energia limpa: de todos os investimentos em energias renováveis na região, 65% estavam concentrados no Brasil (Imagem: Eduardo Teixeira / Alamy). (Imagem: Eduardo Teixeira / Alamy)

A capacidade instalada de energia eólica e solar cresceu 50% na América Latina em 2021, um sinal promissor da retomada do mercado após uma queda provocada pela pandemia, segundo o mais recente relatório da Bloomberg New Energy Finance. A tendência deve continuar em 2022 à medida que os governos preparam licitações de projetos renováveis.

17,5 GW


É o quanto foi adicionado de capacidade de energia eólica e solar na América Latina em 2021, segundo a BloombergNEF

O documento Latin America Market Outlook analisou o desenvolvimento do mercado de energias renováveis da região e revelou que um total de 17,5 GW de capacidade de energia eólica e solar foi adicionado apenas no ano passado.

As fontes solar e eólica foram responsáveis por mais de 10% da energia produzida na Argentina, no México, Brasil e Chile, enquanto que US$ 18 bilhões foram destinados a essas fontes de energia no continente.

“O Brasil foi o mercado que impulsionou o crescimento das energias renováveis na América Latina no ano passado. Vimos a expansão da energia solar de pequena escala, mas os projetos eólicos e fotovoltaicos de larga escala também tiveram adições importantes”, disse Natalia Castilhos Rypl, autora principal do relatório. “O Chile também teve um ótimo ano, pois o país bateu recordes de adição líquida de redes eólicas e solares”.

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O Brasil bateu recordes de expansão para as três principais tecnologias de energia limpa: eólica onshore, ou seja em terra (3,6 GW), energia solar em grande escala (1,7 GW) e solar em pequena escala (5 GW). Essas fontes garantiram um acréscimo de 10,3 GW da capacidade instalada — o dobro do existente em 2020.

O Brasil continua a ser o mercado mais atraente para investimentos em energia limpa, com um aumento de 27% em relação a 2020 — novamente, em grande parte por causa do setor solar de pequena escala. Ele concentrou 65% de todos os investimentos em renováveis na América Latina.

O Chile encerrou o ano como o segundo mercado mais atraente, mas com uma queda no investimento em relação a 2020. A expansão das energias eólica e solar atingiram níveis recordes no país, com mais de 800 MW e 1,4 GW, respectivamente, construídos no ano.

O crescimento permitiu que a energia solar se tornasse a segunda maior fonte da matriz energética do Chile, respondendo por 18% do total, atrás apenas da energia hidrelétrica, com 21%. Apesar disso, o Chile ainda depende de combustíveis fósseis, principalmente do carvão.

“O Chile tem um mercado de energia renovável competitivo e em rápida evolução, que conseguiu se adaptar às condições impostas pela pandemia”, disse Dario Morales, diretor de pesquisa da associação chilena de energia renovável. “Estamos passando por uma profunda transformação da nossa matriz energética graças à redução gradual do uso do carvão e à expansão das energias renováveis”.

Retardatários no mercado de renováveis

Enquanto o mercado de renováveis avançou no Brasil e no Chile, a história foi bem diferente para a Argentina e o México, como mostra o relatório. Uma combinação de mudanças regulatórias e crise econômica dificultou a expansão das energias eólica e solar em ambos os países, que dependem fortemente de combustíveis fósseis.

Escritório da CFE
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No México, as energias eólica e solar permaneceram basicamente no mesmo nível de 2020. O presidente Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, propôs uma reforma do setor de energia para aumentar o controle estatal sobre a geração e o fornecimento e alterar leis que impulsionavam as fontes renováveis. A reforma foi rejeitada pelo Congresso mexicano recentemente, mas isso foi suficiente para alertar investidores.

“O México tem enfrentado muitas incertezas regulatórias no setor de energia. E não temos esperança de que isso mude no governo AMLO”, disse Castilhos Rypl.

Os combustíveis fósseis são dominantes no México, respondendo por 66% da matriz energética. As renováveis ocupam 32% (com as hidrelétricas), e 2% são de biomassa.

O México tinha como meta gerar 35% de sua energia por fontes limpas até 2024, mas o país decidiu adiá-la para 2030, em linha com a atualização de seu compromisso climático, considerado menos ambicioso.

Os investimentos em energia limpa na Argentina vêm caindo drasticamente desde 2018

Enquanto isso, na Argentina, a crise econômica continua a ser uma barreira para atrair financiamento às energias limpas. O país completou 1 GW em projetos solares e eólicos em 2021 — mas adicionou outros 900 MW de capacidade instalada de gás natural, petróleo e diesel. A termelétrica é a principal responsável pela geração de energia do país.

Nos últimos dois anos, a Argentina avançou rumo à meta de obter 20% de sua energia por fontes renováveis até 2025, mas ainda está aquém do necessário. Para a BloombergNEF, a capacidade eólica e solar do país não deve crescer muito até que as condições macroeconômicas melhorem. Há mais de 90 projetos aprovados, mas que se encontram em um limbo legal devido à falta de financiamento.

“Os investimentos em energia limpa na Argentina vêm caindo drasticamente desde 2018”, disse Castilhos Rypl. “Ainda assim, vimos uma quantidade razoável de parques eólicos contratados no ano passado, uma vez que eles já tinham financiamento garantido.

Caminho a seguir na América Latina

Ainda segundo o relatório, o Brasil deve seguir na liderança do mercado de energias renováveis da América Latina este ano. O setor solar deve impulsionar a maior parte da expansão. Como os atuais benefícios fiscais do país para a geração distribuída terminarão em 2023, consumidores são incentivados a correr para entrar no mercado.

No caso do Chile, a energia solar deve se tornar a principal fonte de eletricidade até o final do ano, com o país prestes a atingir outro recorde de adição de energia limpa. Mais de 80% dos MW que entrarão em operação no Chile este ano serão de energia solar ou eólica.

Já para a Colômbia, a BloombergNEF antecipa que o país verá um boom de energias renováveis e terá mais de 4 GW adicionados nos próximos quatro anos. As energias renováveis representam 7% da capacidade instalada do país atualmente. O governo introduziu recentemente um plano para construir seu primeiro parque eólico offshore (em alto mar), com uma capacidade instalada de 200 MW.

“Há um longo caminho a percorrer, mas teremos um papel muito mais forte para as energias renováveis em nossa matriz energética no futuro”, disse German Corredor, chefe da SER Colômbia, associação de energia renovável do país. “Projetos solares e eólicos aprovados em 2019 entrarão em operação este ano, e a construção de projetos licitados no ano passado também deve começar”.

Trabalhadores conectam a energia gerada no parque eólico Kentilux à rede elétrica em Ciudad del Plata, Uruguai.
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A expansão das energias renováveis também traz obstáculos que os governos latino-americanos terão que enfrentar, segundo a BloombergNEF. As redes elétricas precisam acompanhar esse desenvolvimento, mas Colômbia, Chile e Argentina, entre outros países, enfrentam gargalos na transmissão, carecendo de grandes investimentos em infraestrutura.

Muitos países da região caminham em direção à descarbonização de seu setor energético e, para isso, estabeleceram várias metas para os próximos anos. A Relac, iniciativa de 15 governos da América Latina, tem como meta atingir 70% da energia gerada por renováveis até 2030.

Entretanto, isso ocorre junto com a expansão do setor de combustíveis fósseis, principalmente do gás natural, enquadrado como um combustível de transição do carvão e do petróleo por muitos governos. Menos de 6,9% dos recursos usados na recuperação econômica da região pós-pandemia foram aplicados em iniciativas verdes, segundo dados da ONU.