No início de outubro, ativistas do grupo Just Stop Oil jogaram uma lata de sopa de tomate em um quadro de Van Gogh em uma galeria de Londres, antes de colar suas mãos na parede. “O que importa mais: a arte ou a vida?”, eles gritavam. “Você está mais preocupado com a proteção de um quadro ou com a proteção de nosso planeta e de nosso povo?”. O protesto desencadeou uma resposta global.
“Reconheço que parece uma ação um meio ridícula”, explicou Phoebe Plummer, uma das ativistas. “Mas o ponto não é se questionar se todos deveríamos jogar sopa nos quadros, estamos começando uma conversa para que possamos fazer as perguntas que importam”.
Os protestos dividiram opiniões: alguns ativistas a descreveram como contraproducente, enquanto outros a viram como um sinal revelador da frustração dos jovens com a inação sobre as mudanças climáticas.
Está claro que o ativismo climático, pelo menos na Europa, tem uma face cada vez mais jovem, com o surgimento de figuras mundialmente reconhecidas como Greta Thunberg, inspirando greves e marchas regulares em cidades de todo o continente.
No México, a resposta à crise climática tem sido mais fragmentada. Vários esforços estão em andamento, mas os envolvidos dizem que ainda não atingiram uma massa crítica.
“Estamos diante de um México apático, mudo e quando pedimos ação, poucos se aderem”, disse o ativista Aurélien Guilabert em um recente evento sobre juventude e mudanças climáticas na Cidade do México, que tinha como foco a próxima cúpula climática, a COP27, no Egito.
“Eu os convido a serem ativistas”, exclamou aos cerca de 40 participantes. “Temos que fazer ativismo ‘de choque’ porque as marchas não estão funcionando. Nós nos reunimos e apenas uma centena de pessoas aparece”.
Os palestrantes do evento faziam perguntas parecidas: o que está acontecendo com os movimentos de juventude no México, e como podemos envolver mais jovens?
O México tem um dos mais altos índices de assassinatos de ativistas ambientais do mundo, pois centenas de jovens e indígenas lutam pela defesa de seus direitos à água e à terra. A organização de direitos humanos Global Witness registrou 54 assassinatos no México em 2021, mas o número real provavelmente é maior. Essas lutas frequentemente ocorrem isoladamente e, nesse contexto, o ativismo climático também parece existir isoladamente, explica Guilabert.
“O ativismo contemporâneo é muito incipiente. Também não há uma longa tradição democrática para ele. Estamos lançando as bases da democracia, estes são setores que estão em construção”, disse.
“Muitas organizações estão lutando entre si. Isto significa que o movimento ambiental não trabalha em conjunto e não ganhou força. Há também falta de educação ambiental”, acrescentou.
Potencial da juventude mexicana
Há mais de 39 milhões de adolescentes e jovens (de 12 a 29 anos) no México, quase um terço da população do país, de acordo com estimativas do Conapo, o Conselho Nacional de População. É uma população expressiva, não apenas para a economia do país, mas também porque representa um setor vulnerável às mudanças climáticas e seus impactos. Ao mesmo tempo, é um setor da população que poderia liderar a ação climática e terá uma participação significativa nas eleições presidenciais de 2024.
“É por isso que os jovens na COP27 devem estar envolvidos nas tomadas de decisões e em todo o ciclo das políticas públicas — não apenas em questões de consulta, mas em sua concepção, aprovação, implementação e avaliação”, disse Adriana García, do Grupo Consultivo da Juventude do Fundo de População das Nações Unidas no México.
Maria Fernanda Camara, de 23 anos, cresceu em uma comunidade rural em Tabasco, estado do sul do México. Ela faz parte da Aliança Jovem para o Planejamento Familiar e participará das negociações sobre o clima no Egito, buscando impulsionar a interseção das mudanças climáticas com gênero, saúde sexual e reprodutiva. Camara também representará o Movimento Juvenil pelo Clima, conhecido como Youngo, um grupo de observadores da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Para a ativista, o gênero é um dos fatores que determinam — além da idade, economia e localização — como cada pessoa sofrerá os impactos das mudanças climáticas.
“Se entendermos estas diferenças, podemos ter políticas de adaptação e mitigação que respondam a essas necessidades”, explica Camara. “É muito bom fazer ativismo individualmente, mas quando você o faz como organização e coletivo, você tem muito mais sucesso e impacto”.
Camara lembra que apenas 3,8% de todos os participantes da COP26 do ano passado em Glasgow eram mulheres latinas. No Egito, ela apresentará o “Ignorou a sustentabilidade”, documentário que produziu com sua irmã e que fala das ações de adaptação climática realizadas pelas comunidades agrícolas no sul do México.
O desafio para os jovens, diz Adriana García, começa depois destas grandes conferências climáticas internacionais: “O problema é: quando voltarmos ao nosso país, como conseguimos implementar as propostas em nível institucional, estadual e municipal? É aqui que entram os jovens, tecendo redes com suas comunidades para comunicar o que aconteceu no evento internacional e o que acontece no contexto local”.
A necessidade de uma resposta agora é mais importante do que nunca. Apesar de ter números de pobreza e desigualdade de um país em desenvolvimento, o México ocupa a décima terceira posição no mundo em emissões anuais de gases de efeito estufa e está entre os dez maiores emissores de metano do mundo.
Enquanto autoridades globais cobram mudanças na matriz energética, o presidente Andrés Manuel López Obrador, ou AMLO, aposta na independência energética baseada em combustíveis fósseis em detrimento das energias renováveis. Os compromissos do país com os esforços internacionais de clima foram postos em questão, com seus planos de descarbonização previamente apresentados como parte do Acordo de Paris, atualmente suspensos pela Justiça mexicana por sua falta de ambição.
Em meio a este recuo, há vozes importantes apoiando a ação climática — e jovens cobrando sua implementação. “Vocês, jovens, têm a possibilidade de influenciar a agenda das próximas eleições”, disse a senadora e ativista ambiental Xóchitl Gálvez no recente evento pré-COP para jovens.
A COP27 será realizada na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, de 6 a 18 de novembro.